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terça-feira, 25 de setembro de 2012

A súbita e novíssima intimidade do tucanato com a moralidade pública



Falsa intimidade

A moralidade é uma virtude disputada. Mesmo aqueles que dela conhecem apenas o nome gostam de falar sobre virtudes morais como se fossem íntimos de longa data.

Em época eleitoral, por exemplo, somos obrigados a acompanhar o espetáculo lamentável de moralistas de última hora, que parecem acreditar no pendor infinito da população ao esquecimento e à indignação seletiva.

Melhor seria que eles se abstivessem de falar de moral antes de meditar profundamente a respeito da passagem do Evangelho que exorta a primeiro tirar a trave no seu próprio olho antes de retirar o cisco no olho do próximo.

Por exemplo, o Brasil vive um momento importante com o corajoso julgamento do chamado mensalão. Espera-se, com justiça, que daí nasça uma nova jurisprudência para crimes de corrupção eleitoral. Espera-se também que ninguém saia impune desse caso vergonhoso.

No entanto é tentar resvalar a moralidade à condição de discurso da aparência e da esperteza ver políticos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato à Prefeitura de São Paulo tentarem utilizar a justa indignação popular em benefício eleitoral próprio.

Caso eles realmente amem os usos das virtudes morais em política, melhor seria se começassem por fazer uma profunda autocrítica sobre o papel de seu partido na criação do próprio mensalão, da acusação de compra de voto na emenda da reeleição, assim como fornecer uma resposta que não fira a inteligência quando membros de seu partido - como Marconi Perillo, Yeda Crusius e Cássio Cunha Lima - aparecem envolvidos até a medula em casos de corrupção.

Seria bom também que eles explicassem por que apoiam incondicionalmente um prefeito que chegou a ter seus bens apreendidos pela Justiça no ano passado devido ao caráter da contratação da empresa Controlar, e por que a Justiça suíça e a francesa investigam propinas que a empresa Alstom teria pago a políticos do governo paulista em troca de contratos com a Eletropaulo.

Por fim, seria uma boa demonstração de respeito aos eleitores que o candidato Serra se defendesse, de preferência sem impropérios, a respeito das acusações sobre o processo de privatização de empresas federais no período FHC.

Sem isso, toda essa pantomima lembrará uma velha piada francesa sobre um sujeito que dizia a todos em sua pequena cidade ser amigo de Charles de Gaulle. Eis que um dia, De Gaulle aparece na cidade. Para não ser desmascarado, o sujeito resolve chegar perto do presidente e, com um tom de cumplicidade, perguntar: "E aí, Charles, o que há de novo?". "De novo", respondeu De Gaulle,"só mesmo essa intimidade".

Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP. 

6 comentários:

Anônimo disse...

Gozado, senhor Feil. Quando o Lula apareceu abraçado no Maluff tu não escreveste absolutamente nada.

Cristóvão Feil disse...

Meu caro Anônimo,

Por que "gozado"? Me aponta onde e quando eu afirmei que este blog DG é neutro. Onde eu afirmei que este blog é apartidário? Onde eu afirmei que este blog é democrático e isento?

Aqui não tem neutralidade, isenção e democracia. Aqui, mando eu. Ponto. Com as minhas convicções, lacunas e tendências. Lê e acompanha este blog, quem quiser. Se não quiser ou não gostar e só dar um clique e cair fora.

Eu não engano ninguém. Ao contrário, da mídia conservadora que mente que é neutra, isenta e apartidária.

Abç.

CF

Anônimo disse...

essa dupla de CANALHAS e vendilhões da pátria deveria era estar na cadeia.

Anônimo disse...

caro gauche... FHC vem sendo acusado de ter comprado o segundo mandato, ele que introduziu a prática da reeleição, estranha até então em nossa cultura política. Não satisfeito, propôs que todos os ex-presidentes se tornassem senadores vitalícios...coisa que, felizmente, não prosperou. Entregou a Vale do Rio Doce e tentou travestir a Petrobras para Petrobrax, tudo isso tendo ao lado o fiel escudeiro que aparece na foto. Enquanto a famosa "lista de furnas",que se confirmou verdadeira em perícia da polícia federal não deu andamento a nenhum processo. Um presidente do congresso (dirigente maior do PFL, que originou o DEM) fraudou a contagem de votos no senado e a única pena foi a renúncia para voltar anos depois ao cargo. Seu braço direito nessa mesma fraude se tornou governador de Brasília, passando de PSDB a DEM. Pois bem, é essa gente que se propõe a moralizar a política, embora no dia a dia do congresso se negue a apoiar o projeto que impede o financiamento empresarial das campanhas políticas, exatamente o que está em jogo no supremo hoje. Enquanto isso, uma revista semanal publica o nome de um ministro do supremo, que está participando do julgamento do "mensalão", como tendo recebido milhares de reais do chamado "valerioduto" e tudo fica na mesma. Nem o juiz aciona a revista e nem o tribunal toma qualquer atitude...faz de conta que não é com ele...que diabo é isso?, que país é este?, como perguntavam cazuza e um antigo interventor em Minas durante a ditadura. Como diziam os antigos alfaiates: isso vai dar em merda!

Marcelo Sperling disse...

Safatle, mais uma vez, esmurra diretamente no estômago, e depois nos rins, de forma elegante e sofisticada, se é que da pra conciliar tudo isso.

Anônimo disse...

O editor desse blog pelo menos é honesto, declarando-se tendencioso e sem princípios. Uma ação praticada pelo FHC é criticada. O mesmo feito pelo Lula ele acha normal e nem faz menção.
Que Feil, não ter princípios.

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