Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sábado, 26 de maio de 2012

O grande poeta brasileiro vivo: Manoel de Barros



Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.  



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Eu diria que o cu de uma formiga é mais importante do que o rei da Espanha, do que a Merkel e do que o Dr. Thomas, juntos. Todo esse lixo humano do século 20 e 21 não valem o cu de uma formiga.


Viva Manoel de Barros!
  

terça-feira, 22 de maio de 2012

Governo RS incentiva o audiovisual



A produção audiovisual do Rio Grande do Sul receberá por meio de edital público recursos para a produção de minisséries, documentários e videoclipes. O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura, lança nesta terça-feira (22), às 20h, no Jardim Lutzenberger, no terraço da Casa de Cultura Mario Quintana, o 5º edital do Fundo de Apoio à Cultura – FAC 2012. O edital selecionará projetos inéditos, que serão exibidos pela TVE.
O investimento total será de R$ 1,26 milhão, distribuídos na produção de 4 minisséries, com 4 episódios de 24 minutos cada, com no mínimo um projeto do interior; 10 documentários, de cerca de 24 minutos, com no mínimo 5 projetos do interior e temáticas culturais locais; e 10 videoclipes, com no mínimo cinco projetos do interior.
As inscrições podem ser efetuados de 22 de maio a 24 de julho de 2012.

Cachoeira vai "beber água"?



Mal comparando


Vale para o esperado depoimento de Carlinhos Cachoeira nesta terça-feira na CPI que leva seu sobrenome o que já se dizia na Febraban sobre a pressão oficial para a queda dos juros:
“Você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água!”
O autor da ótima provocação acima é o jornalista Tutty Vasquez, mas a frase do "cavalo que não quer beber água" é do Lord Keynes.

Homenagem a Apolônio de Carvalho


Todos os eventos serão realizados em Porto Alegre.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Copa e Olimpíada continuam fazendo vítimas nas periferias das grandes cidades do País





Carta da Associação de Moradores e Pescadores da Vila Autódromo (Rio) em resposta ao jornal 'O Globo'

A Associação de Moradores e Pescadores da Vila Autódromo – AMPVA, CNPJ 30.122.410/001-76, situada na Avenida do Autódromo nº 16, baixada de Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, através de seu presidente Altair Guimarães, e os demais moradores (as), repudia a matéria veiculada no jornal O Globo publicada no dia 10 de maio de 2012, quinta-feira, no caderno Barra (nº 2.242).

A matéria, assinada por Leandra Lima, deturpa e distorce as informações cedidas gentilmente pelo presidente da AMPVA, bem como da moradora Sandra Isidoro. Altair Guimarães jamais disse que aceitariam ser transferidos para o Parque Carioca, muito menos, declarou que o problema nesse processo seria o “temor que residentes de outras comunidades também sejam transferidos” (p. 13) para lá. A remoção não é um caminho aceito pelos moradores do bairro, assim como nenhum deles disse que não pretendem dividir o espaço com moradores de outras comunidades. A edição de O Globo, não demonstra fidelidade às informações fornecidas por Altair Guimarães, utilizou o discurso da liderança de modo incorreto ao realizar comparações indevidas da Vila Autódromo com outras comunidades do Rio de Janeiro. Os moradores da Vila Autódromo são conhecidos por sua resistência e pelo respeito às comunidades menos favorecidas da cidade que, como eles, lutam pelos seus direitos.

Não existe, entre os moradores da Vila Autódromo (foto), nenhum tipo de problema com relação aos moradores de outros bairros citados na reportagem já que muitos deles os frequentam pelo simples fato ser o endereço de seus familiares, como é o caso, por exemplo, da Cidade de Deus, Morro dos Macacos e Santa Cruz. E o presidente da AMPVA não considera, como a matéria leva a crer, que o tráfico de drogas ou a milícia são consequências da falta de organização dos moradores dos outros bairros, pois estes também são vítimas dessa situação.

Além disso, a resistência dos moradores não se faz em função do limitado tamanho das moradias impostas pela Prefeitura no futuro condomínio Parque Carioca, como também consta na mesma matéria do jornal O Globo. O fato de permanecer no bairro articula a luta por direitos, a luta por participação das decisões sobre a organização dos espaços da cidade e, por fim, a luta pela afirmação da dignidade humana.

A matéria de Leandra Lima foi uma tentativa de diminuir a complexidade que incorpora a Vila Autódromo. A permanência na Vila Autódromo é legítima e uma luta que atravessa décadas. Ali se reivindica a permanência do bairro com a urbanização do lugar onde seus moradores pagam impostos, trabalham, se organizam, propõem e cobram do poder público.

Por isso, a AMPVA tem elaborado conjuntamente com o Núcleo Experimental de Planejamento Conflitual (ETTERN/IPPUR/UFRJ) o “Plano Popular da Vila Autódromo”, que propõe a urbanização como saída democrática e mais barata à remoção. O plano contem os seguintes projetos: habitacional, de educação, saneamento e meio ambiente, economia local, transporte e desenvolvimento cultural. Cabe lembrar que a equipe técnica do Plano Popular da Vila Autódromo, formado por especialistas do Núcleo Experimental do Planejamento Conflitual (ETTERN/IPPUR/UFRJ), garante o desenho urbanístico do bairro como ocupação consolidada, ao contrário do que indica a reportagem. Para a efetivação do citado Plano a pequena parcela dos moradores que moram na faixa de 15 metros da Lagoa de Jacarepaguá propuseram, eles próprios, a mudança de suas casas para outra região do bairro.

Os moradores da comunidade não são contra a realização da Copa e das Olimpíadas, só reivindicam o direito de continuarem morando no lugar onde construíram suas histórias e seus vínculos afetivos.

A Vila Autódromo é um bairro marcado para viver!
Viva a Vila Autódromo!


ASSOCIAÇÃO DE MORADORES E PESCADORES DA VILA AUTÓDROMO – AMPVA

Rio de Janeiro, 16 de maio de 2012

A presidenta brasileira é uma estadista em construção



A estadista em construção
Primeiro, foi a demissão de ministros comprometidos com a corrupção; depois, a firmeza que vem mostrando em baixar os juros, enfrentando para isso muitos interesses, inclusive os dos seus eleitores, pequenos poupadores; há alguns dias, foi o discurso na instalação da Comissão da Verdade em que fez uma bela defesa dos direitos humanos e do seu caráter suprapartidário; agora, é sua decisão histórica de, aplicando a Lei de Acesso à Informação, publicar os salários dos servidores do Executivo.

Todos atos que mostram coragem e firmeza, sugerindo que a presidente brasileira é uma estadista em construção.

Sua decisão que me levou a esta conclusão foi a da última semana - a de tornar pública a remuneração dos servidores públicos. Saber quanto recebem os servidores públicos eleitos e não eleitos é um direito inconteste dos cidadãos. Mas é um direito que sempre foi negado aos brasileiros.

Quando fui ministro da Administração Federal, decidi publicar os vencimentos dos servidores públicos no "Diário Oficial". Caiu uma tempestade sobre mim. Servidores indignados vieram me falar sobre seu "direito à privacidade".

Nas democracias, em relação ao dinheiro público, não há direito à privacidade; não há o "direito" de receber valores absurdos que nada têm a ver com o nível de seu cargo.

Alguns poderão dizer que meu entusiasmo em relação à presidente é apressado. De fato, é cedo para dizermos que Dilma Rousseff preenche as condições muito raras que definem um estadista. Mas estou dizendo que ela está "se construindo" como estadista. Ela está demonstrando a firmeza e a coragem que são necessárias.

Mas não basta isso. Conforme disse classicamente Maquiavel, além da "virtù", o príncipe necessita da fortuna. "Virtù" não significa apenas virtude, e sim competência para governar, discernimento ao tomar decisões, capacidade de fazer compromissos e, finalmente, bom êxito em seu governo. O que depende também da sorte - da fortuna.

Estadista é o governante que tem a visão do todo, olha para o futuro e tem a coragem de buscá-lo, confrontando os interesses de muitos, inclusive dos seus seguidores. É quem conhece seu país, sabe quais são seus grandes problemas e contribui para resolvê-los.
Os estadistas são geralmente identificados nas guerras em defesa de seu país, mas podem sê-lo em momentos decisivos de seu desenvolvimento econômico e social.

O estadista brasileiro do século 20 foi Getúlio Vargas, porque comandou a revolução nacional e industrial brasileira. A presidente Dilma poderá ser uma nova estadista, agora em um contexto democrático, se lograr vencer os dois grandes males brasileiros: a corrupção de suas elites e a armadilha da alta taxa de juros e do câmbio sobrevalorizado.

Em seu discurso na instalação da Comissão da Verdade, a presidente declarou: "A verdade é algo tão surpreendentemente forte que não abriga nem o ressentimento, nem o ódio, nem tampouco o perdão... é, sobretudo, o contrário do esquecimento". Deixo essa bela frase como fecho desta coluna. Muitos serão ainda os desafios que Dilma terá que enfrentar; não sabemos quanta fortuna terá, mas já sabemos que terá "virtù".

Artigo do professor, economista e ex-ministro da Fazenda do governo Sarney, Luiz Carlos Bresser-Pereira. Publicado hoje na Folha.

sábado, 19 de maio de 2012

Luta de raças explícita na mídia brasileira



O vídeo, a produção e a exibição são da TV Band. A jornalista - branca e de cabelo pintado de louro - não se sabe quem é. Só sabemos que é racista, debochada, boçal, covarde e ignorante. Não precisa ler ''Casa-Grande & Senzala'', do Gilberto Freyre. Basta ver esse pequeno vídeo de três minutos. Está tudo ali, e mais Foucault: luta de raças explícita, ao vivo, sem censura, na TV brasileira.

Cabe uma só pergunta: a jornalista agiria assim, ficaria tão à vontade, folgada, se o rapaz fosse branco e filho de papai da classe média ou alta?

Essa é a mídia que temos, e não é essa mídia que queremos. Fica provado que faz falta um marco regulatório na imprensa brasileira, para que lixo como esse não seja exibido como programa de entretenimento e formação.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A tortura já foi política de Estado, saibam disso


Eu diria que está boa a entrevista do ex-preso político, ex-deputado Carlos Franklin Paixão Araújo (ex-companheiro de Dilma Rousseff) concedida, ontem, à rádio Gaúcha (grupo RBS), de Porto Alegre.

Não classifico de ótima pelo seguinte motivo: Araújo fala em tortura, em torturador, como se fosse uma relação bilateral e episódica entre o preso político e o policial ou o militar. Não foi. A tortura foi uma política de Estado no Brasil, durante a ditadura civil-militar de 1964/85. (É necessário sempre, à exaustão, repetir acerca do caráter igualmente civil da ditadura, que abrange apoio de ampla base social, intelectuais, parcela da Igreja, a totalidade da imprensa, empresários da indústria, proprietários rurais, sindicatos patronais, bancos, etc.)

Agentes públicos - policiais civis e militares das três armas, Marinha, Exército e Aeronautica - cometeram crimes em nome do Estado, muitas vezes portando o uniforme da sua arma, ou o crachá da sua repartição policial.

A forma como Araújo fala, fica parecendo para os mais jovens (ou mais alienados) que havia sujeitos tresloucados que insistiam - de vontade própria - em arrancar confissões (ou ficções) na base do sofrimento do preso político.

Ora, isso é tudo o que não ocorria, pela simples vontade própria e unipessoal de indivíduos de caráter deformado. Havia, sim, um sistema público e estatal de segurança e repressão lastreado em método, organização, hierarquia e disciplina. Portanto, havia uma racionalidade de Estado, por trás e à frente deste espetáculo de horror e miséria humana. Tanto havia, que continua havendo. A própria Lei da Anistia emana deste sistema, e foi editada (unilateralmente) visando assegurar impunidade permanente aos operadores do terror oficial.

As corporações policiais e militares até hoje não conseguem fazer a catarse do horror que promoveram, enquanto instituições estatais.

Por que o Exército, por exemplo, não emite um documento oficial onde possa esclarecer que repudia essa prática que atenta contra os direitos humanos e condena - ainda que na palavra - os ex-agentes que foram artífices do terrorismo de Estado?

Mais: por que as Forças Armadas não auxiliam a Comissão da Verdade?

Sabem por que essas duas perguntas são ingênuas? Porque suas respostas são muito óbvias. Não é a cidadania que compete respondê-las, mas a anticidadania - que ainda está muito viva e presente em nosso meio social.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O grande e atual escândalo brasileiro: especulação imobiliária urbana



Imóvel como bem social

Ontem, esta Folha publicou uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento segundo a qual 62% da população da cidade de São Paulo não tem condições de comprar uma casa própria.

O motivo central é o preço extorsivo dos imóveis. No mesmo dia, descobrimos que um alto funcionário da prefeitura, responsável pela liberação de empreendimentos imobiliários, aproveitou-se da situação para demonstrar seus dotes de especulador imobiliário e comprar, em sete anos, a bagatela de 106 imóveis.

Essas duas notícias são, na verdade, dois lados da mesma moeda. A explosão dos preços dos imóveis em São Paulo, assim como em outras grandes cidades, está vinculada ao ataque especulativo.

Novos empreendimentos são comprados não por famílias que procuram, enfim, aproveitar o crescimento econômico e escapar dos aluguéis, mas por imobiliárias e especuladores. Seus interesses restringem-se a inflacionar o mercado fazendo, por exemplo, com que o preço médio dos imóveis na cidade tenha triplicado em quatro anos.

Como os imóveis são vistos, acima de tudo, como um tipo de investimento, o interesse maior consiste em criar situações de concentração de propriedade que facilite a "rentabilização" financeira.

Era de esperar que os governos transformassem o combate à especulação imobiliária em luta maior. No entanto, em vez de procurar defender seus cidadãos, o que vemos é uma associação incestuosa entre prefeituras e interesses do mercado. O que não é de estranhar, pois o setor da construção civil está entre os maiores doadores de campanhas eleitorais municipais.

Uma política realmente zelosa dos reais interesses dos cidadãos deveria começar por simplesmente impedir indivíduos e empresas de terem mais do que dois imóveis na mesma cidade.

Imóveis não são ativos de investimento, mas bens sociais. Não devem servir para que aqueles que nada produzem façam mais dinheiro sem nada fazer. Antes, eles são um bem maior que o Estado deve garantir para a segurança das famílias.

É claro que alguns verão nisso um atentado à propriedade privada. Entretanto mesmo a Constituição brasileira não hipostasia o direito de propriedade, pois a submete à exigência dela preencher uma função social.

Limitar a concentração oligopolista da propriedade no setor imobiliário é a maneira mais eficaz de ampliar o direito dos cidadãos a um bem fundamental.

Com isso, parcelas majoritárias da população não precisariam mais presenciar o triste espetáculo de ver suas economias espoliadas para valorizar as fortunas dos mais ricos.

Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP. Publicado hoje na Folha.

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A especulação imobiliária urbana é o grande escândalo brasileiro, deste e de outros tempos passados, mas que se agrava mais e mais. Parece que tem vida própria, ninguém a detém. 

Este deveria ser o grande tema das eleições municipais de 2012. Mas não será. Sabem por que? Porque os candidatos não querem mexer neste vespeiro, que, além do mais, ainda lhes podem pingar alguns trocados no pires encardido da arrecadação eleitoral.  

Se no passado colonial nós tivemos o regime do escravagismo como grande usina do poder e das desigualdades estruturais do País, hoje, a especulação imobiliária urbana dá continuidade àquele roteiro sinistro de miséria e exclusão.

Até quando?

Foto: Vila Protásio Alves, em Porto Alegre (RS).

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Show integral da Amy Winehouse




São 58 minutos de presença da genial Amy no festival Glastonbury (sul da Inglaterra), no dia 29 de junho de 2008. Imagem em HD.




quarta-feira, 9 de maio de 2012

Presidenta Dilma voltou a bater nos bancos



A presidente Dilma Rousseff não gostou do tom usado pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) no relatório assinado pelo economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg, e mobilizou o Ministério da Fazenda para exigir uma retratação. No início da noite desta terça-feira (8/5), a federação divulgou uma nota para dizer que o texto de Sardenberg não pode ser interpretado "como posicionamento oficial da entidade ou de seus associados". A informação é do Estadão de hoje.
Na segunda-feira, Sardenberg escreveu um texto em que analisava o potencial efeito dos juros mais baixos sobre a oferta de crédito. No documento, argumentou que havia limites para a ampliação do crédito, como o alto nível de inadimplência, e afirmou: "Você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água".

O governo interpretou a frase como uma provocação dos bancos, em meio à polêmica sobre a redução das taxas de juros cobradas de pessoas físicas e empresas no País.
Principalmente depois de representantes dos bancos terem assegurado à presidente Dilma Rousseff, na semana passada, que estavam comprometidos com o objetivo do Planalto de reduzir as taxas de juros.

Na conversa com a equipe econômica, Dilma queixou-se de que essa é a segunda investida da Febraban contra o seu governo. A primeira teria sido uma declaração do presidente da Febraban, Murilo Portugal. Após participar de um encontro com autoridades em Brasília, no início de abril, o executivo afirmou que a bola, a partir de então, estaria com o governo.

Na ocasião, ele levou um conjunto de propostas que, na avaliação da Febraban, seriam necessárias para permitir a queda dos juros e dos spreads bancários - diferença entre a taxa que os bancos pagam na captação do dinheiro e a que cobram nos empréstimos dos clientes.

Na reunião com a equipe econômica ontem para discutir a nota da Febraban, a presidente mandou o recado que não quer ouvir outras manifestações políticas da federação contra o governo. E cobrou que a Febraban voltasse atrás no tom usado na nota. O dia foi de intensas negociações e costuras promovidas por duas frentes distintas, uma pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, outra pelo secretário executivo da pasta, Nelson Barbosa.

Desde cedo, os principais bancos privados do País correram para tentar apagar o incêndio político. Os banqueiros se esforçaram para desfazer o mal-estar e telefonaram para o ministro Guido Mantega.

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, por exemplo, disse ao ministro que o banco "mantém o apoio ao projeto do governo" e avaliou que "a oportunidade das propostas apresentadas é inquestionável".


terça-feira, 8 de maio de 2012

Os bancos brasileiros e as máfias



Pobres bancos

Quando o governo resolveu, enfim, denunciar a "lógica perversa" que guia o sistema financeiro brasileiro, era de esperar que os consultores e economistas regiamente recompensados pelos bancos aparecessem para contemporizar. Como em uma peça de teatro na qual as máscaras acabam por cair, foi isto o que ocorreu.

Há algo de cômico em ver adeptos do livre mercado e da concorrência procurando argumentos para defender uma banca de oligopólio especializada em espoliar os brasileiros com "spreads" capazes de deixar qualquer banco mundial corado de vergonha.

Se os bancos brasileiros estão entre os que mais lucram no Universo, é porque nunca precisaram, de fato, viver em um sistema no qual o poder estatal impediria a extorsão institucionalizada à qual ainda estamos submetidos.

No mundo inteiro, o sistema bancário faz jus à frase do dramaturgo Bertolt Brecht: "O que é roubar um banco se você imaginar o que significa fundar um banco?".

Nos últimos anos, vimos associações bancárias com comportamentos dignos da máfia, pois são especializadas em maquiar dados e balanços, criar fraudes, ajudar a evasão fiscal, operar em alto risco e passar a conta para a frente, além de corromper entes públicos.

Mas a maior astúcia do vício é travestir-se de virtude. Assim, o sistema financeiro criou a palavra "austeridade" a fim de designar o processo de assalto dos recursos públicos para pagamento de rombos bancários e "stock-options" de executivos criminosos, com a consequente descapitalização dos países mais frágeis.

Se não tivemos algo da mesma intensidade no Brasil, vemos agora um processo semelhante do ponto de vista retórico. Assim, os "spreads" bancários seriam o resultado indigesto do risco alto de inadimplência, já que a população brasileira teria o hábito pouco salutar de não pagar suas dívidas e se deixar endividar além da conta.

Neste sentido, os lucros bancários seriam (vejam só vocês) o remédio amargo, porém necessário, até que a população brasileira aprenda a viver com o que tem e assuma gastos de maneira responsável. O mais impressionante é encontrar pessoas que se acham capazes de nos fazer acreditar nessa piada de mau gosto.

A verdade é que quanto menos poder e margem de manobra o sistema financeiro tiver, melhor é a sociedade. Há sempre aqueles "consultores" que dirão: "É fácil falar mal dos bancos", apresentando o espantalho do populismo. A estas pessoas devemos dizer: "Sim, é fácil. Ainda mais quando não se está na folha de pagamento de um". Já sobre o "risco" do populismo, pobres são aqueles para os quais a defesa dos interesses econômicos da população sempre é sinal de irracionalidade.

Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP. Publicado hoje na Folha. 

Para a Folha, Europa mergulha na incerteza por causa das eleições



Vejam vocês, dileto cavalheiro, prezada dama. A Europa estava vivendo bem. Inventou de fazer eleições gerais em vários países: França, Alemanha, Grécia, etc. Agora, tudo está indo de mal a pior. Já não há mais certeza sobre o futuro. Por exemplo: os times espanhois. Estavam bem na foto. Eram favoritos para a Copa da Europa. Inventaram de jogar, perderam. O mesmo acontece com os países europeus. Foram se meter em eleições, consulta à população, esse papo de democracia, da arraia miúda querendo participar, opinar, ter ideias políticas sobre o futuro... deu no que deu.    


segunda-feira, 7 de maio de 2012

'Dilma deveria ser mais rápida e agressiva'



Um dos economistas heterodoxos mais famosos do mundo, o sul-coreano Ha-Joon Chang diz que a presidente Dilma Rousseff está "cautelosamente" abandonando a política macroeconômica de Lula. "Ela está se movendo na direção correta, mas as mudanças deveriam ser mais rápidas e agressivas", disse Ha-Joon Chang ao jornal Estadão, edição de hoje.

Professor da Universidade de Cambridge, ele é autor do livro "Chutando a escada: estratégias de desenvolvimento em uma perspectiva histórica". Abaixo a entrevista de Chang.
Estadão: O senhor vai se encontrar com empresários brasileiros. Qual será a sua mensagem?

Economista Ha-Joon Chang: Nas duas últimas décadas, o Brasil experimentou uma desindustrialização dramática. A participação da indústria na economia mergulhou do pico de 27,2% em meados da década de 80 para 14,6% em 2011. Esse fato é muito preocupante. Também é um imenso desperdício de potencial, pois o País é certamente capaz de competir na "primeira divisão" da manufatura mundial, como foi evidenciado pela Embraer. Para reverter essa tendência, o Brasil precisa de uma nova estratégia industrial. Sem isso, corre o risco de se transformar numa economia que vive de exportar matérias-primas para a China.

A indústria brasileira não cresce e perde mercado para outros países. O que o governo deveria fazer para ajudar?

O governo brasileiro precisa reformar suas políticas macroeconômicas. A indústria brasileira sofreu muito por conta de uma das maiores taxas de juros do mundo, que dificulta os investimentos, e de uma taxa de câmbio sobrevalorizada, que prejudica a competitividade internacional. Essas duas coisas precisam desaparecer. No entanto, não é suficiente. O Brasil também precisa de uma estratégia industrial. A experiência da Coreia do Sul - que tinha uma renda equivalente a apenas dois terços da brasileira em 1961 e hoje é 2,5 vezes mais rica que o Brasil - e de muitos outros países mostram que, sem uma política industrial coerente, o desenvolvimento econômico nos países emergentes como o Brasil não vai muito longe.

Qual é a sua impressão da política econômica da presidente Dilma Rousseff?

A presidente Dilma está deixando cautelosamente a política de Lula, que era uma mistura de política macroeconômica muito ortodoxa - focada no controle da inflação através de taxas de juros altas - e uma política industrial heterodoxa, mas pouco ambiciosa. Desde que assumiu o cargo, Dilma começou a relaxar a política macroeconômica e parece haver uma grande vontade de impulsionar uma política industrial mais pró-ativa. Acredito que ela está movendo as políticas na direção correta, mas as mudanças deveriam ser mais rápidas e mais agressivas. As condições econômicas atuais das economias brasileira e mundial tornam uma mudança mais radical não só essencial, mas também plausível. É essencial porque o declínio da indústria chegou a um ponto que não pode mais ser ignorado. Além disso, a ascensão de novos competidores, especialmente a China, significa que, se o Brasil atrasar mais seu renascimento industrial, não há caminho de volta. Uma mudança mais radical na política se tornou possível por várias razões. Primeiro, a política macroeconômica do governo Lula - apesar de o Brasil ter pago um preço alto em termos de declínio da produção industrial - convenceu o mundo que o País está determinando a não ter outra hiperinflação. Logo, uma mudança agora não provocará pânico no mercado financeiro. Segundo, depois da crise financeira de 2008, o domínio da ideologia neoliberal, que enfatiza o controle da inflação e rejeita a política industrial, diminuiu. As críticas à mudança de curso no Brasil não serão tão barulhentas quanto em 2002 ou até mesmo em 2006. Terceiro, o sucesso econômico de outros países latino-americanos, especialmente a Argentina, com políticas heterodoxas na última década aumentou a credibilidade dessas políticas.

A presidente Dilma gostaria de deixar o governo com taxas de juros reais de 2%. É possível?


Certamente. Os juros nos países ricos devem continuar muito baixos. 2% é a taxa real de juros que você precisa se quiser investimento alto e rápido crescimento. Não estou dizendo que baixas taxas de juros automaticamente levam a investimento e crescimento, mas são pré-condição. E 2% é a taxa de juros real que economias mais bem sucedidas tiveram em seu período de alto crescimento. Durante a maior parte do "milagre econômico" dos anos 60 e 70, os juros na Coreia do Sul foram negativos. Em seu período de alto crescimento, todos os países europeus tiveram taxas de juros reais entre 1% e 3%. Uma taxa de juros real de 2% é uma meta muito sensata.

O real está artificialmente valorizado? O Brasil deveria adotar controle de capitais?


Taxas de juros excessivamente altas atraem capital especulativo, o que aumenta a demanda pelo real e eleva seu valor. O problema se tornou mais sério desde a crise financeira de 2008, quando os países ricos baixaram seus juros para níveis historicamente baixos, enquanto despejavam imensos montantes de liquidez. O Brasil deveria baixar os juros, mas algum nível de controle de capitais pode também ser necessário, porque teria efeitos imediatos. O Brasil introduziu medidas de controle de capital, mas não foram fortes o suficiente. Hoje até o FMI apoia algum nível de controle de capital para países como o Brasil. Não acredito que seria um grande problema se o País fortalecesse essas medidas.

Ditaduras do Cone Sul: Repressão e Resistência



SEMINÁRIO INTERNACIONAL

CARLOS ALBERTO 'MINHOCA' TEJERA DE RÉ

DITADURAS DO CONE SUL: REPRESSÃO RESISTÊNCIA

10, 11 e 12 DE MAIO DE 2012  |  SALÃO DE ATOS II  |  REITORIA DA UFRGS Av. Paulo Gama, s/nº - Porto Alegre

QUINTA–FEIRA - 10 de maio

18h30: CARLOS ALBERTO MINHOCA TEJERA DE RÉ: TRAJETÓRIA DE UM LUTADOR SOCIAL
Coordenação: Enrique Serra Padrós (UFRGS)
Depoimentos: Carlos Araújo, Carlos Alberto Kfourí, Cézar Augusto Tejera de Ré, Cláudio Gutierrez, José Angeli Sobrinho (Mires), Nei Lisboa, Raul Ellwanger e Suzana Lisboa                                                        
Vídeo-depoimento: Carlos Alberto Minhoca Tejera de Ré (Edição de Arquivos da Cidade, 2009) 

SEXTA–FEIRA – 11 de maio

14h: DITADURA BRASILEIRA: REPRESSÃO E RESISTÊNCIA
Coordenação: Francisco Carvalho Jr. (NPH/UFRGS)
Painelistas: Carlos Gallo (UFRGS), Diorge Konrad (UFSM) e Renato Della Vecchia (UCPEL)

16h30: A DIMENSÃO INTERNACIONAL DAS DITADURAS  E A CONEXÃO REPRESSIVA                      
Coordenação: Marla Barbosa Assumpção (UFRGS)
PainelistasAnanda Simões Fernandes (AHRS), Jorge Fernández (UFMS) e Melisa Slatman (UBA/Buenos Aires)


19h: A ILHA DO PRESÍDIO: RELATO DE SOBREVIVENTES
Depoimentos: Calino Ferreira Pacheco Filho, Índio Vargas, João Carlos Bona Garcia, Paulo de Tarso Carneiro, Raul Pont, Valdir Izidoro Silveira e Wladimir Ungaretti
                                                                                  
SÁBADO – 12 de maio       
                                                                    
9h: O CONE SUL EM PERSPECTIVA DE MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA
Coordenação : Jorge E. E. Vivar (UFRGS)
Painelistas: Álvaro Rico (UDELAR/Uruguay) e Fernando Blanco (UNC/Córdoba)

10h30: MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA: A AGENDA BRASILEIRA
Coordenação: Clarissa  Sommer Alves (APERS)                                            
Painelistas: Alessandra Gasparotto (UFPEL), Enrique Serra Padrós (UFRGS) e Luiz Dario Teixeira Ribeiro (UFRGS)

Informações e inscrições: (51) 3288 9117 

Ingresso: R$ 10,00

Será fornecido certificado de participação de 20 horas.

Foto: Minhoca

sexta-feira, 4 de maio de 2012

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A diferença entre expropriar e dominar pela guerra




Os Estados Unidos, tanto no século passado, quanto no presente, repetem um pouco o que acontecia nas antigas cidades-Estado da velha Grécia. No âmbito da polis, nos domínios das muralhas da cidade, prevalecia a civilidade e a persuasão, ou seja, a política (exceto para os escravos, por óbvio).

Fora das cidades - para além da política - predominava o estado de Natureza, a guerra, a matança e a selvageria. Não é de graça que Tucídides dizia: "Os fortes faziam o que podiam, e os fracos sofriam o que fosse necessário".

Passados dois mil e trezentos anos, se nota que os Estados Unidos perseguem o mesmíssimo roteiro: a política no âmbito interno, a democracia para os cidadãos (menos para os pobres, latinos e outsiders em geral), e a diplomacia do porrete para o resto do mundo.  

Veja que deputados do RS ajudaram na farsa do novo Código Florestal



Deu no blog RS Urgente:
Dezessete deputados federais do Rio Grande do Sul participaram da vergonhosa aprovação de mudanças irresponsáveis no Código Florestal. Todas as mudanças obedecem a uma mesma lógica: a primazia de interesses econômicos sobre princípios básicos de preservação ambiental. Com argumentos tacanhos que têm em comum uma abissal ignorância e desprezo sobre questões ambientais e uma concepção utilitarista da natureza, esses deputados deram sua contribuição para o agravamento de diversos problemas ambientais (e sociais) no Brasil. Saiba quais são algumas das mudanças aprovadas pelos deputados ligados à bancada do agronegócio, lembrando que a dívida dos proprietários rurais que descumpriram a legislação atual alcança hoje cerca de R$ 30 milhões:
- Anistia a produtores que desmataram florestas nas proximidades de rios. A medida beneficia os proprietários de terra que desmataram os 30 m das Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas margens de rios de até 10 m de largura, segundo as normas estabelecidas em 1989. Eles ficam liberados da obrigação de recuperar totalmente a área degradada. Terão de replantar apenas 15 metros.
- Liberação das Áreas de Preservação Permanente em topos de morros para exploração.
- Fim da obrigação de divulgar na internet os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro dos imóveis rurais que facilita o monitoramento das produções agropecuárias e a fiscalização de desmatamentos.
- Os estados da Amazônia Legal com mais de 65% do território ocupado por unidades de conservação pública ou terras indígenas poderão diminuir a reserva legal em propriedades em até 50%.
- Áreas ilegalmente desmatadas há mais de uma década, mas hoje com florestas em recuperação serão automaticamente consideradas como produtivas e, assim, poderão ser legalmente desmatadas.
- Retirou-se o conceito de área abandonada, prejudicando a possibilidade de reforma agrária, pois já não haverá terras subutilizadas por especuladores, mas apenas áreas “em descanso”.
Os 17 parlamentares gaúchos que votaram a favor dessas aberrações são:
Onyx Lorenzoni (DEM)
Giovani Cherini (PDT)
Alceu Moreira (PMDB)
Darcísio Perondi (PMDB)
Eliseu Padilha (PMDB)
Osmar Terra (PMDB)
Afonso Hann (PP)
Jeronimo Goergen (PP)
Luiz Carlos Heinze (PP)
Renato Molling (PP)
Wilson Covatti (PP)
Alexandre Roso (PSB)
Danrlei de Deus (PSD)
Nelson Marchezan Jr. (PSDB)
Ronaldo Nogueira (PTB)
Sérgio Moraes (PTB)
Assis Melo (PCdoB)
Arte: Moa

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