Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O nome da banda é Yo La Tengo



Formada nos anos '80, ainda continua nos palcos da vida.

Um gigante no pântano


Angeli


Para compensar esse lixo político-eleitoral, ouça a ótima banda The Shins:



The Shins - Australia
Found at skreemr.org

A carreira está quase corrida

A mídia e alguns políticos profissionais ainda simulam alguma oposição ao lulismo

Observo que dificilmente haverá segundo turno na presente corrida eleitoral à sucessão de Lula, anotei isso ainda ontem no Twitter. Os ventos acredoces da política brasileira estão nos antecipando o resultado das urnas eletrônicas.

Dilma reúne folgadas condições para vencer a direita bifronte - José Serra e Marina Silva. Ela sequer começou a mostrar a sua capacidade política, objetiva e subjetivamente, mas já se habilita a uma posição de vantagem quase definitiva.

O lulismo incorporou e portanto esvaziou o discurso associado e dependente da direita brasileira, claro, com a ajuda inestimável das turbulências estruturais do sistema hegemônico. Ficaram de fora, a decadente mídia e parte dos floxos políticos profissionais. São os que ainda fazem barulho e batem cabeça simulando que representam alguma oposição ao lulismo de resultados.

As contradições - da natureza mesmo de uma sociedade de muitas classes sociais - estão todas involucradas no interior do lulismo. Mais cedo ou mais tarde, devem fazer prevalecer a sua condição de instabilidade no arranjo precário e temporal a que estão submetidas.

Uma dessas contradições tem nome e sobrenome: Antonio Palocci Filho. Sua expressão e tamanho no futuro governo - o terceiro tempo do lulismo de resultados - é uma incógnita. Se a força eleitoral da direita fosse mais potente na presente eleição (está mostrando que é anêmica), Palocci reuniria mais créditos, se for fraca, Palocci igualmente diminui seu protagonismo.

De qualquer forma, a equação da montagem da administração 2011/2014 está sendo formulada com todos os seus x, y e z, agora, sobretudo no que se refere à presença do debilitado (e já quase folclórico) PT na flou conjugação das forças que irão governar o País.

Tem vuvuzela demais e pensamento de menos



Carta desde perto

Recebo mensagem da nossa estimada leitora Katarina Peixoto, que escreve estas notas a propósito de um vídeo do jornalista belga Michel Collon, que postamos aqui no blog DG dias atrás:

"Sabe, eu não ia fazer isso, dá muito trabalho e o Michel Collon é muito mais um aliado do que um adversário. O que se passa é que as coisas andam muito vuvuzeladas e pouco pensadas. Que na internet, inclusive no nosso mundo internáutico, as coisas não andam menos intolerantes e menos analíticas do que do lado de lá. Não estou falando do DG exatamente. Sabes que prezo e curto o DG. É desnecessário dizer isso, mas eu digo. Porque eu não tiro onda de democrática. Não considero a democracia uma coisa fácil nem ligeira. E sobretudo não respeito democracias esquemáticas, defendidas a despeito da história.

Há um conjunto importante de despautérios ditos pelo Michel Collon nesse vídeo. Sobressai um dado que me parece mais produtivo de considerar, de início. Esse dado é uma concepção política que reputo estreita e ingênua, e aí vai a expressão de uma diferença política que mantenho, pelas seguintes razões: não reduzo qualquer análise ou perspectiva contemporânea sobre os estados das artes na política a um jogo de poder para fazer negócios, como se meia dúzia de donos do mundo se reunissem para roubar e massacrar quem os atrapalha. Não dá para explicar fenômenos como a guerra e o Estado apenas, eu digo APENAS, com essa perspectiva.

O que me causa um certo horror é que essa não é uma perspectiva desenraizada teoricamente, embora seja arbitrária e extremamente equivocada e frágil. Esse tipo de reducionismo contemporâneo tem nome e sobrenome: chama-se Toni Negri e o Michael Hardt. É a turma que chegou a dizer que o império seria o mercado, e não os EUA. É o pessoal que repudia as relações de poder porque o poder é contaminado, vertical e só serve para os poderosos fazerem negócios.

Esse tipo de bobagem pré-escolar parece, na melhor das hipóteses, ter recortado um ou dois enunciados do Manifesto Comunista. Eu digo parece, porque como sabemos Negri e o rapazote Hardt resolveram se dizer spinozistas, sabe-se lá como, que nenhum spinozista de reputação acadêmica os pode levar a sério. Porque o que eles fazem simplesmente não é sério. Não é Marx, não é Spinoza. É um moralismo odara, uma merda hippie e acanhada, com medo de reivindicar a Política, com ressaca da derrota da guerra fria. Embora duvide que Collon não tenha lido Negri e Hardt, é possível que não seja signatário de todas as teses desses. Mas a coisa assim me soou. Essa tese - um tanto naïf - de que se explica interesses geopolíticos como negócios de balcão. Eu penso que a experiência das relações externas entre países é um pouco mais complicada do que isso.

Essas considerações apenas porque só traduzi a fala do Collon até a sua terceira mentira midiática. Devo também dizer que ele usa algumas expressões interessantes, como “eu acreditava que era assim, todo mundo acreditava que era assim”. As inferências e os conteúdos das crenças supostamente passadas de Collon são crenças de um expectador crédulo de novela das seis. Uma coisa meio constrangedora. Mas vou me referir diretamente no texto falado até onde traduzi, com granus salis, ok?

Diz Collon: “Preparando o livro Israel, parlons en, eu pedi a meus assistentes que perguntassem nas ruas de Bruxelas, aleatoriamente, o que as pessoas sabiam sobre a história e a situação do estado de Israel. A resposta foi catastrófica.”

Comentário meu: alguém já saiu às ruas para perguntar a opinião, aleatoriamente, das pessoas sobre a história e a situação da Turquia? Ou da Itália? A resposta seria ou não catastrófica, seja lá o que isso realmente significa?

Michel Collon: “Há de fato uma ignorância do público e eu penso que essa ignorância não se deve ao acaso, mas já faz 60 anos que a mídia européia, que se diz a melhor do mundo, sustenta essa mentira, e se constata que de fato o público não sabe o essencial. Eu penso que isso se deve a uma operação de propaganda israelita sustentada pela mídia, e eu a resumi no que chamei de dez grandes mentiras midiáticas que justificam Israel.”

Comentário meu: o público não sabe o essencial, a saber, que há dez mentiras midiáticas que justificam Israel. Se Israel se justifica em mentiras, Israel é uma mentira. Esse parece ser o caminho que Collon segue. Eu acho pouco sério usar como critério um microfone randomizado nas ruas, questionando as pessoas sobre temas de geopolítica e história de nações. Esse tipo de coisa, quando é feita, requer método, milhares de entrevistas e critérios de avaliação mais rígidos do que “mentiras midiáticas”. Posso estar enganada, mas ao ler as tais mentiras a coisa só piorou.

Michel Collon: “A primeira grande mentira é aquela que diz que Israel foi criado em reação ao genocídio cometido contra os judeus entre 40-45. Isso é totalmente falso. De fato esse é um projeto colonial, bastante anterior, que é decidido num congresso sionista (...?) em 1897, quando o movimento nacionalista judeu decide colonizar a Palestina.”

Comentário meu: Não nego que muita gente que assiste com entusiasmo à novela das seis acredita que Israel seja uma reação ao genocídio nazi. Mas em escola alguma crianças que cheguem à quinta série teriam essa informação. O projeto de um “lar nacional” não é um projeto colonial, tout court. É engraçado porque ele diz que nesse congresso se decidiu “colonizar a Palestina”. Isso, sim, é totalmente falso. Nesse congresso se decidiu criar um “lar nacional para os judeus”, o que é bem diferente, visto que a decisão de se chegar à Palestina não foi imediata e menos ainda organizada segundo preceitos religiosos, exatamente.

Michel Collon: “Nesse momento o colonialismo não era absolutamente vergonhoso. Eles demandaram às potências coloniais da época, porque eles se deram conta de que precisariam se proteger. Eles pedem ao império turco, que não estava interessado, pedem ao império britânico, que estava muito interessado, porque queriam ter colônicas que estariam instaladas no meio do mundo árabe, entre a parte oeste e a parte leste, eles iriam debilitar a potência que os inquietava e controlariam o canal de Suez que garantiria o acesso às colônias da Índia de onde viriam muitas riquezas.”

Comentário meu: em primeiro lugar, já havia trabalhadores socialistas combatendo o imperialismo e o belicismo na Europa, em 1897. Não é portanto verdade que o colonialismo não era “absolutamente vergonhoso”. Para quem? Segundo quem? Ora bolas, o processo de independentização da América Latina se deu em inícios do século XIX! Gostaria de saber de onde ele tirou que o colonialismo não seria vergonhoso, sem dizer para quem, sem apresentar dados. Mas isso fica um pouco mais claro com a informação seguinte, a de que o império britânico estava muito interessado. Esta sim é uma mentira monumental. O império britânico estava muito interessado era em ter o protetorado da Palestina, porque seria mais uma extensão dos seus poderes imperiais, por razões vinculadas à facilitação do comércio, é verdade, mas para manter um espaço de poder geopoliticamente fundamental. Eles queriam debilitar a potência que os inquietava (o império otomano), certo, mas para tanto um lar nacional judaico ajudaria em quê, se estávamos em 1915, 1917?

Por acaso o império britânico precisaria da criação de um lar nacional judaico para ter uma colônia na Palestina? Dentre os dirigentes políticos da Grã Bretanha, à época, a agenda sionista passava longe de uma posição unânime, tanto que os sionistas foram para a Europa central disputar a idéia entre as comunidades judaicas. A melhor fonte para acompanhar isso, na minha opinião, é Isaiah Berlin, em As Origens do Estado de Israel e a própria declaração, evasiva e nada específica, do Lord Balfour, em 1915. É importante anotar que já a partir de 1870 inúmeros jovens judeus, a imensa maioria socialistas, já estavam migrando para a Palestina, não por razões religiosas, senso estrito, mas para construir uma experiência socialista, conforme eles pensavam. Havia um componente religioso, mas em nada estatal e menos ainda colonial.

Michel Collon: “Em seguida os Estados Unidos tomam importância porque lhes interessa o Petróleo e portanto essa reação colonial de Israel não data absolutamente de 40-45, mas antes se trata de um projeto colonial. É preciso que se lembre que à época as potências européias partilharam a África entre si, como umas fatias de bolo. Houve uma Conferência em Berlim em 1885, (...) onde eles partilham a África sem que africano algum tenha sido convidado, e portanto estávamos realmente numa época colonial. Israel é um projeto colonial,é preciso dizê-lo.”

Comentário meu: o interesse dos EUA no Estado de Israel precede as incursões e a máquina de guerra e de consumo que levou à corrida ao petróleo. Portanto, o petróleo não é o que explica, e menos ainda unicamente, a relação dos EUA com Israel. Em segundo lugar, Israel não é um projeto colonial PELO FATO DE QUE o colonialismo europeu partilhou a África! É preciso dizê-lo? Ok, se é preciso dizê-lo, é preciso dizê-lo com consistência. Eu não vi inferência. O fato de que numa época há um tipo de coisa não explica tudo. Há padres pedófilos há duzentos anos não seria uma hipótese para todos os pedófilos há duzentos anos terem sido padres, certo? Nem para que todos os padres há duzentos anos tenham sido pedófilos.

Michel Collon: “Agora, o segundo grande mito que justifica Israel é: “sim mas de fato os judeus retornam à terra de onde foram expulsos no império romano em 70 d.C. Esse também é um mito total, porque eu entrevistei nesse livro o historiador Schlomo Sand, que falou com arqueólogos e historiadores israelenses e todos dizem “não, não houve êxodo, e portanto não há retorno. O grosso da população ficou lá, eles não se moveram. É claro houve migrações, misturas, mas no grosso eles não moveram a população”, o que tem duas consequências burlescas: a primeira é que, no fundo, os descendentes dos judeus da época de Jesus Cristo são os palestinos que vivem lá; a segunda é que, se jamais houve pessoas que partiram, quem são essas pessoas que nos dizem que retornam? De fato esses são os convertidos, os europeus do leste, do oeste, os magrebinos que se converteram em diferentes momentos e por razões diversas à religião judaica e de fato como diz Schlomo Sand, o povo judeu simplesmente não existe como tal. Não há história comum, não há língua comum, não há uma cultura comum, há só uma religião, que não é um povo. Não há um povo muçulmano, um povo cristão, e portanto não há um povo judeu, tampouco”

Comentário meu: aí a coisa realmente engrossa...

A defesa da tese de “retorno” foi uma defesa pragmática, de uma das correntes do sionismo, que foi defendida por algumas comunidades religiosas não ortodoxas, pelo menos à época. Segundo Berlin, a única comunidade judaica que “inventou” um passado para se agarrar à tese de retorno foi a estadunidense, já nos idos de 1910. Portanto a tese religiosa não é um mito que justifica Israel, exatamente, mas um truque retórico ou uma crença religiosa. Israel não precisaria “se justificar” (seja lá o que isso signifique) nisso. E de fato, o movimento sionista, pelo menos até quase os anos 20, NÃO era um movimento religioso, mas político. A migração estritamente religiosa para a Palestina já ocorria há muito tempo, aliás, religiosos, religiosos socialistas, entre outros (anarquistas, cabalistas, como Gershom Sholem, por exemplo).

Não se desfaz mito com a entrevista a um historiador. E não seria um historiador ou um arqueólogo que desmontaria uma crença religiosa. Esse tipo de confusão é semelhante àquela que diz não haver racismo porque não há raça, geneticamente. Não dá para fazer isso. Mas a coisa realmente engrossa é com a série de mentiras ditas na sequência da fala der Collon.

Eu desconheço as miríades bíblicas e não curto religião, mas não desconheço que a presença judaica na Europa data de mais de mil anos. E que não é razoável nem sério restringir essa presença a uma “conversão religiosa”, quando menos, porque essa presença judaica foi contemporânea da Europa medieval. Disso se segue, se levamos a história a sério, que ser judeu não era, por mil anos, ao menos, ser simplesmente um crente numa religião x. Dizer que não há história comum, que não há cultura comum, que não há língua comum é de uma ignorância tão assombrosa que não posso simplesmente acreditar que ele acredite nisso. Mas diabos, durante 800 anos os judeus da Bielorrússia, que formava uma imensa região, mantinham escolas – para meninos e meninas -, cerimônias, feriados, religiosos e comunitários, e falavam o ídiche! O ídiche, hoje um idioma estudado em universidades, é considerada uma “língua de oprimidos”, um dialeto, que tem mistura de germânico, de russo, de eslavos, mas que tem uma unidade linguística. Até hoje tem uma rádio no Brooklyn, NY, cujos programas são em ídiche. Há uma literatura ídiche, há uma música, poesia ídiche (ver a respeito Benjamin Harshav, o Significado do Ídiche, tem tradução para o português). Meu deus, como é que eu sei isso e esse cara não sabe? É inacreditável. A melhor fonte sobre a presença judaica na Europa Oriental e na Rússia é o insuspeito Michael Löwy, no seu lindíssimo e extraordinário Redenção e Utopia: Judaísmo Libertário na Europa Central (foi editado no Brasil pela Companhia das Letras, mas está esgotado. Só se encontra em sebos).

Reduzir o judaísmo à religiosidade simplesmente é um absurdo. Parte significativa e basicamente a maioria do movimento sionista não era religiosa, mas composta de ateus, socialistas, comunistas. Não só mencheviques, mas bolches eram em boa parte judeus. Era raro que os partidos comunistas e socialistas não fossem cheios de judeus. E não é à toa que os nazistas associavam o judaísmo ao comunismo. Era simplesmente comum que os militantes operários fossem judeus. A tese de Löwy é de que há uma “afinidade eletiva” entre as comunidades judaicas da época e o nascimento do ideário socialista. Há uma identidade teológico-política entre o mito da redenção e a defesa de uma terra prometida, neste mundo, que unificariam comunismo e judaísmo. É portanto um despautério afirmar, com base em “eu entrevistei um historiador”, que não há judeus. Isso simplesmente não é sério. Dizer que os judeus não têm uma história comum me parece tão rigoroso como dizer que os brasileiros não têm uma história comum. Eu realmente não sei o que isso significa. Porque, em termos de narrativas de um passado, os judeus europeus têm uma história comum sob vários aspectos, há mil anos. De resto, confundir povo com religião é meio pré-escolar. É como associar a existência de curdos à religião curda. Chechenos à muçulmanos. Não dá.

Michel Collon: “O terceiro mito: de fato não é grave que eles tenham se instalado na Palestina para colonizar, porque era um deserto sem povo, vazio. Isso também é uma mentira total. Na realidade as testemunhas da época já dizem que a palestina é um oceano de trigo. Há culturas, exportações, fabricação de sabão, de azeite, as famosas laranjas de jafa, e então quando as colônias inglesas e depois os judeus vão se instalar na Palestina em 1920, os camponeses palestinos se recusam a lhes ceder suas terras e então há revoltas, há greves gerais, há manifestações e numerosas mortes; tinha até uma guerrilha palestina, então o lugar era tudo menos um deserto e tudo o que se conseguiu foi por meio da repressão muito muito feroz do ocupante britânico e dos sionistas em seguida. Então se diz, “sim, é verdade, havia palestinos, mas mesmo assim eles partiram”. De fato isso é totalmente falso. Eu acreditei nisso durante um longo tempo, todo mundo acreditou, mas de fato era uma grande versão oficial de Israel, até hoje, quando há novos historiadores israelenses, como Benny Morris, Ilan Pappe que dizem “não”, os “palestinos foram violados, por meio da violência, pelo terror, por toda uma operação sistemática para expulsá-los de fato do país, para esvaziar a terra de seus habitantes. Portanto, isso é também um mito absoluto. Tudo isso concerne à parte da história israelense que nos escondem e que é muito, muito importante de compreender. E em seguida, o que se nos diz atualmente é que Israel é a única democracia no Oriente Médio e portanto é preciso defendê-la, porque é um Estado de Direito. Em primeiro lugar, não é um estado de direito. É o único Estado do Mundo em que a Constituição não fixa os limites de seu território. Em todos os países do mundo há uma constituição estabelecendo que um estado começa aqui e termina ali. Israel não, porque justamente Israel é um projeto de expansão que não tem limite. E além disso, totalmente racista, que diz que Israel é um estado dos judeus, o que quer dizer que os outros são sub-cidadãos, sub-homens e portanto isso é a negação mesma da democracia, uma constituição como essa.”

Comentário meu: de fato, os palestinos foram e seguem sendo massacrados. De fato, a frase da Golda Meir que ficou célebre (“Uma terra sem povo, para um povo sem terra”) é uma infâmia. Ainda assim é preciso dizer que não é verdade que os palestinos desde sempre resistiram. Muitos venderam suas terras em negócios lícitos, sem conflito. Muitos trabalhavam juntos em kibutzim, viviam lado a lado. O conflito começa quando os ingleses, num expediente colonial mais do que batido, tiram o corpo fora e um movimento autoritário sionista começa a se aproveitar da loucura nazi para exterminar os palestinos. Os judeus não chegaram matando. Eles chegaram negociando. Quem chegou matando foram os sionistas da direita, os dissidentes do Haganá, o Irgun (de onde saiu a joça do Likud), que, diante da postura evasiva que visava a deixar ambos, judeus e palestinos, digladiarem-se para dominar, passaram a promover atentados contra os ingleses. O caldo entortou quando os judeus dos EUA, liderados pela criminosa da Golda Meir começaram a chegar e a coisa piorou muito depois da hecatombe do extermínio nazi.

O movimento sionista sofreu um racha interno violento nos idos dos anos 30 e nunca mais se refez. É um horror o expansionismo, é monstruoso, de fato; e a não-delimitação territorial não é o que torna Israel um estado de fato, mas na minha opinião o fato de que não há legislação de direito de família, por exemplo, de não haver respeito à ONU. O tema das fronteiras é especialmente complicado, do ponto de vista da legislação, porque na partilha em 1948 não foi criado ao mesmo tempo um estado palestino e porque seguem se aproveitando disso a direita israelense.

Michel Collon: “Portanto, Israel não é absolutamente uma democracia e eu gostaria de dizer que Israel é o colonialismo, o roubo da terra a limpeza de uma população, isso não pode ser considerado uma democracia. Claro, vão me dizer: “há parlamento, há mídia, há professores na universidade que criticam, isso é verdade, mas como se trata de um estado baseado no roubo da terra, quer dizer é uma democracia entre ladrões, para saber como vão continuar roubando. Isso não é uma democracia, é o colonialismo, é sempre a ditadura”

Comentário meu: reduzir o Estado de Israel a “um estado baseado no roubo da terra, quer dizer, uma democracia entre ladrões” simplesmente não condiz com a história, nem com a realidade, nem com a verdade

Eu concordo com Collon que a saída é a retomada da tese utópica nos anos 60 do século passado, revisitada com critérios laicos e republicanos, um tanto radicais. Israel ser um estado teológico é insuportável. Concordo que a dupla cidadania em Jerusalém é um escândalo. Concordo que o expansionismo é monstruoso. Concordo na defesa de autodeterminação dos povos. Mas não me associo aos expedientes a que ele se associou para defender esses pontos de vista. Eu não acredito que aquilo que eu penso importe ou que eu saiba o que os israelenses e palestinos devem fazer. Eu apenas tenho crenças e procuro bem fundá-las. Aliás, procuro obstinadamente.

É doloroso e odioso ver e assistir aos horrores cometidos contra os palestinos. É odioso ver as expressões de preconceito e acompanhar a guerra ideológica na mídia. Mas isso não pode nos cegar, não deve nos desviar, não merece ser replicado. A mim o Estado de Israel se justifica do mesmo modo que a IMENSA maioria, senão todos os estados do planeta. Estado algum é natural. Estado algum é feito ou foi feito sem sangue e espontaneamente. Estado algum brota da terra. E Estado algum é uma obra de arte. É o que penso."

Katarina Peixoto

terça-feira, 29 de junho de 2010

Nova chance à especulação imobiliária em Porto Alegre



RBS e Yeda voltam em nova investida contra os bens públicos

O grupo RBS e o governo Yeda não desistem. Acabaram de ser derrotados na intenção de vender o Morro Santa Teresa e agora voltam com novo projeto que pode beneficiar a especulação imobiliária.

O objeto do desejo do baronato do concreto desta vez é o velho cais do porto Mauá, no centro de Porto Alegre. Como se pode notar, eles cobiçam as áreas urbanas mais valiosas da Capital.

O engenheiro Hermes Vargas dos Santos, conselheiro do CREA/RS e membro do Sindicato dos Engenheiros (SENGE/RS) nos escreve chamando a atenção para a matéria publicada hoje em Zero Hora. Hermes aponta uma esperteza do jornal da família Sirotsky ao "omitir que será construído um prédio comercial - um shopping - junto à Usina do Gasômetro, como parte da chamada revitalização do cais Mauá".

O conselheiro do Crea afirma que o novo shopping "irá esconder a Usina, deixando à mostra apenas uma parte da chaminé". E acrescenta: "O atual projeto de revitalização portuária prevê a construção de espigões de até 33 andares (100 metros de altura) no trecho das docas, junto à Estação Rodoviária, no início da Avenida Castelo Branco. Trata-se de uma área que já está congestionada, constituindo um verdadeiro gargalo no caótico trânsito da Capital. Portanto, não possui infraestrutura suficiente para sustentar esta proposta faraônica - água, esgoto, energia elétrica, telefone e circulação viária" - completa o engenheiro Hermes Vargas dos Santos.

No contexto deste comentário, cumpre-nos informar - para quem está desinformado ou esquecido - que o grupo RBS, editores do jornal Zero Hora, detém o controle acionário e administrativo de uma das maiores incorporadoras imobiliárias do Rio Grande do Sul, a empresa Maiojama.

Indaga-se, apenas, se haveria algum nexo concreto (diríamos assim) entre este fato patrimonial e o projeto imobiliário ora em pauta.

Fac-símile parcial da página 4 da edição de hoje do jornal Zero Hora.

Mudam-se os tempos na América Latina

O oligarca Martínez de Hoz na mira da Justiça argentina

O bom jornal argentino Página 12 trouxe na edição de ontem uma matéria interessante, entre tantas outras, como todos os dias. A que me refiro e quero comentar é sobre os métodos da última ditadura argentina (1976/83), mais especificamente sobre a grave denúncia de um banqueiro contra o ex-todopoderoso Martínez de Hoz.

O banqueiro Eduardo Saiegh, ex-diretor executivo do Banco Latinoamericano, foi sequestrado no dia 31 de outubro de 1980, em plena ditadura. Sob tortura, foi obrigado a desfazer-se de suas ações na instituição bancária que dirigia. Agora acusa - é esse o objeto da notícia do P12 - o ex-ministro da Economia da ditadura de ser o que chama de "autor de escritório" de seu sequestro e da sua expropriação sob tortura.

Esse fato seria inimaginável no Brasil, por dois motivos: primeiro, não houve similaridade a isso por aqui; segundo, se tivesse ocorrido algo parecido (torturar para roubar), ninguém, nem mesmo um banqueiro, estaria denunciando de forma tão desabrida e corajosa um ex-todopoderoso da ditadura brasileira.

O episódio noticiado ratifica e enfatiza uma rotina metodológico, digamos assim, na ditadura vizinha. Os militares e civis que ocuparam à força o poder usaram essa condição para enriquecer ou enriquecer mais, como é o caso pessoal de Don José Alfredo Martínez de Hoz (foto), ministro da Economia entre 1976 e 1981 e factótum civil da repressão argentina no período. A família Martínez de Hoz chegou à Argentina no final do século 17 e enriqueceu muito com o comércio e o contrabando de mercadorias. Esses celerados tem uma crônica social e econômica semelhante à família Anchorena, cuja história comercial e política foi contada magistralmente pelo sociólogo Juan José Sebreli (leitura que recomendo). Sempre foram predadores oportunistas, associados a quem lhes pudesse agregar mais vantagens pecuniárias e políticas. Foi um Martínez de Hoz o criador da famigerada Sociedade Rural Argentina, nos meados do século 19, e que até hoje - e sempre - tem um papel dos mais retrógrados e brutais nas relações de poder do país de Dieguito Maradona.

O fato de um Martínez de Hoz estar na mira da Justiça é motivo de regozijo geral nas Américas. Desmascara um tipo ideal da velha classe oligárquica que tanta opressão promoveu em nossos países, todos.

Fiquemos atentos à marcha dos acontecimentos na Argentina. O próximo totem oligárquico que pode cair na Argentina é o jornal Clarín, que está por um fio.

A conspiração dos anjos cósmicos - desta vez - parece estar a favor da história e não a seu contrapelo.

A ver.

Desindustrialização, descontrole de capitais e financeirização total do Brasil




Projeto Ômega: triunfo financeiro?

O Projeto Ômega, que pretende transformar São Paulo num centro financeiro internacional, prevê a criação de um mercado de moedas no país, a liberalização do câmbio e a internacionalização do Real, entre outras medidas (Valor, 19/02/2010).

O plano, que está sendo elaborado pelo setor privado, seria implementado em cinco etapas. Essas etapas foram sugeridas ao governo pelas três entidades envolvidas no projeto: a BM&FBovespa, Febraban e Anbima. Seu ponto nevrálgico, porém, é a conversibilidade do Real, com a correspondente extinção dos últimos resquícios de controles de capitais que ainda prevalecem na economia brasileira.

Os formuladores do plano acreditam que o mesmo trará uma série de benefícios para a economia brasileira entre os quais a criação de cerca de 2,4 milhões de empregos, sendo que cerca de 150 mil a 200 mil desse total no sistema financeiro. Os empregos criados com a implantação do projeto decorreriam do aumento do Produto Interno Bruto (PIB), resultado do maior desenvolvimento financeiro.

Com efeito, espera-se um extraordinário desenvolvimento do mercado de capitais: o mercado bancário cresceria entre 160% e 240%; o mercado de ações, de 25% e 40%; o mercado de derivativos, de 45% e 75%; e o mercado de gestão de recursos, de 50% e 110%.

A partir da experiência histórica de países emergentes que fizeram a liberalização cambial e financeira nos anos 1990 (o caso dos países do sudeste asiático) e na literatura empírica a respeito da relação entre liberalização da conta de capitais e crescimento econômico, não vislumbramos razões objetivas para o otimismo dos formuladores desse projeto.

Pelo contrário, a liberalização cambial e financeira que o projeto em consideração prevê pode não só aumentar a fragilidade externa da economia brasileira, como ainda contribuir para uma maior apreciação da taxa real de câmbio, aprofundando assim a desindustrialização da economia brasileira, com reflexos negativos sobre o crescimento de longo prazo de nossa economia.

No que se refere ao alegado efeito positivo que a liberalização financeira traria para o crescimento de economias emergentes (como a brasileira), deve-se ressaltar que a literatura empírica não tem encontrado resultados conclusivos sobre essa relação. Com feito, segundo Eichengreen e Leblang (2002), no artigo "Capital account liberalization and growth: was Mr. Mahathir right?" é difícil identificar um efeito robusto da liberalização da conta capital sobre crescimento, uma vez que tais estimativas são sensíveis ao tipo de amostra e especificações da pesquisa.

Nesse sentido, um estudo feito em 2003 por economistas do FMI conclui que: "...um exame sistemático das evidências sugere que é difícil estabelecer uma relação causal robusta entre integração financeira e desempenho do crescimento do produto" (Prasad et al, "Effects of financial globalization on development countries: some empirical evidence", 2003). As estimativas realizadas pelos autores deste artigo num outro trabalho indicam que países com conta de capital conversível tendem a apresentar reduções na renda per capita.

Acrescente-se ainda que a liberalização financeira tem sido frequentemente associada a uma maior instabilidade, pelo fato de que os fluxos de capitais estrangeiros são fortemente pró-cíclicos, aumentando a amplitude das flutuações econômicas, quando não as causam.

Em outras palavras, os desequilíbrios macroeconômicos em países emergentes com conta de capital aberta - tais como elevados déficits em conta corrente, desequilíbrios fiscais, fragilidade do sistema financeiro etc. - podem ser um resultado endógeno da liberalização cambial e financeira, seja em função de um afluxo excessivo de capitais externos seja devido a saídas abruptas de capitais para o exterior.

Por exemplo, uma mudança repentina nas percepções dos investidores referente ao risco dos mercados emergentes pode resultar em uma enorme saída de capitais, podendo mesmo minar a viabilidade de um sistema financeiro como um todo.

Um outro efeito da conversibilidade do real seria a apreciação da taxa de câmbio. Com efeito, a retirada dos últimos controles de capitais existentes no Brasil aumentaria a atratividade dos ativos denominados em reais e, dessa forma, produziria uma mudança da composição de portfólio dos investidores internacionais em direção a ativos brasileiros. Isso irá resultar em grandes fluxos de capitais para a economia brasileira, resultando numa forte apreciação do câmbio.

Dada a situação atual de evidente sobrevalorização cambial, a qual se expressa em déficits crescentes da conta de transações correntes e perda de dinamismo da indústria brasileira, tudo o que o Brasil não precisa neste momento é de novos impulsos para a apreciação da taxa de câmbio.

Pelo contrário, o Brasil precisa encontrar urgentemente formas de combater a apreciação cambial sob risco de ver aprofundado o seu processo de desindustrialização, iniciado em 1988, com as primeiras medidas de liberalização cambial e comercial, mas reforçado após 2005 devido à manutenção da política de juros altos por parte do Banco Central do Brasil num contexto de liquidez internacional abundante.

Acrescente-se, ainda, que tal projeto criaria um "mercado financeiro livre e desregulamentado", tal como o antigo "euromercado", que poderia muito bem servir para os propósitos de especulação financeira e cambial (como no caso da especulação cambial que colocou um fim no sistema de Bretton Woods).

Nesse contexto, a implantação do projeto Ômega pode ser vista como a derradeira tentativa do capitalismo financeiro de assumir o comando da dinâmica da economia brasileira, suplantando assim décadas de hegemonia do capitalismo industrial. Se esse projeto for bem sucedido, o Brasil corre o risco de se tornar uma "ilha de bancos" cercada pela produção de commodities por todos os lados.

Artigo de José Luis Oreiro, professor do departamento de Economia da UnB e Diretor da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), e de Luiz Fernando de Paula, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Publicado hoje no diário Valor Econômico.

.................................................

Ômega é cabal (o que chega ao fim). Ômega é cabalístico. Ômega é escatológico, no sentido de representar o fim dos tempos. Ômega é a última letra do alfabeto grego, mas também o ponto onde se interrompe um fenômeno. Portanto, não é por nada que deram esse nome ao projeto de financeirizar completamente a economia brasileira. Será o apocalipse do pindorama ou - no popular - o fim da picada.

A produção agrícola e industrial será desestimulada. Os empregos cessarão. Viveremos de rendas ou de papéis. Por um breve tempo. Depois, será o choro e o ranger de dentes. Abarrotados de papéis pintados, sobrevirá o grande cataclismo e o fim dos tempos.

Babau tia Chica! Quem for tucano que conte outra...  

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Um "primor" de comunicação partidária


Militância fon-fon...

Recebi faz pouco a mensagem acima, via e-mail. É a expressão mais senso comum do bocó ufanismo verde-amarelo. O standard de politização é esse. Nível cabo-eleitoral com vuvuzela e tudo. Sinto que agora a campanha eleitoral de Dilma está salva. Não recebesse essa mensagem, suspeitaria que tudo está perdido. Mas não. Vejo que há - sim - uma Secretaria Nacional de Comunicação do PT que zela pela "boa informação" aos militantes e filiados petistas. Estou de fato aliviado. Melhor ainda: contemplado!

Só ainda não sei a qual tribo fon-fon pertenço: "amigo internauta" ou "militante 2.0".

P.S: Perdão, mas alguém pode me esclarecer quem é mesmo o incerto "ator José Abreu"?

Quebrada, como pode a Grécia manter 100 mil soldados e ainda comprar armamentos?





Esse é o combustível da greve geral grega, amanhã 

E é uma questão levantada pelo deputado Daniel Cohn-Bendit, recentemente no Parlamento europeu. Ele fala do cinismo da Europa que toma dinheiro emprestado a 1,5% e empresta à Grécia a 3,5% ou mais.

E por que não negociar o desarmamento completo de países que estão na ruína financeira como Portugal, Espanha, Hungria, Itália, Grécia? Por que um país como a Grécia, de apenas 11 milhões de habitantes, insiste em manter 100 mil soldados?

Por que a França vende caças Dassault-Rafale à Grécia, a preços proibitivos para uma economia na bancarrota e que exige que seu povo passe por dura austeridade econômica e existencial?

São questionamentos do deputado Cohn-Bendit, ex-anarquista do Maio de '68, hoje um parlamentar liberal filiado ao PV (Die Grünen) alemão.     

As aventuras de Mark Twain



Mark Twain é uma leitura para a gurizada ao redor de 12/13 anos. Recomendável porque trata de valores permanentes como a amizade, além de estimular a curiosidade, a busca do conhecimento, e avivar o senso crítico e a acuidade sensorial.

Se mais gente tivesse lido MT quando adolescente, certamente, estaríamos hoje com as taxas de imbecilidade - pública e privada - em franca depressão.

Coisas da vida.

A denúncia pacifista de um veterano da guerra do Iraque



"Milhões de pessoas neste país sem assistência médica, trabalho e acesso à educação, e nós vemos o governo gastar 450 milhões de dólares por dia nessa ocupação".

"Pessoas pobres e trabalhadoras deste país são mandadas matar pessoas pobres e trabalhadoras de outro país, e fazer os ricos mais ricos" - diz o ex-soldado dos Estados Unidos.

O vídeo tem 4 minutos e meio.

domingo, 27 de junho de 2010

O fetiche poético de "Le Ballon Rouge"





Esse filme de cerca de 30 minutos ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1956. O diretor é Albert Lamorisse, que conta a história de um menino que "liberta" e cativa afetivamente um balão vermelho nas ruas de Paris. Cinema puro, quase sem palavras. O filme é referência. Muito "citado" e sempre homenageado em outros filmes por tantos outros roteiristas e diretores.

Na publicidade é copiado todos os dias, quem já não viu filminho de venda de porcaria "referindo", para não dizer plagiando, o conto poético de Albert Lamorisse?

Uma curiosidade: observem que na parte final do filme, aparecem cartazes de cinema nas paredes, um deles anuncia o filme do diretor Lima Barreto, O Cangaceiro (1953), um dos maiores sucessos internacionais do cinema brasileiro. Mas está grafado Congaceiro.

Os mitos midiáticos sobre Israel




Ouça o que tem a dizer o escritor e jornalista belga Michel Collon neste vídeo de 13 minutos.

Collon é autor de um livro recente chamado "Israel, parlons-en!". Ele é um reconhecido analista das estratégias de guerra e de desinformação midiática, que varrem o mundo - do Brasil ao Oriente Médio.

Nesta conjuntura, em que a guerra contra o Irã é uma ameaça concreta, entender o que representa o Estado de Israel no contexto geopolítico internacional é de importância capital.

O ano de 1979 foi trágico para o imperialismo dos EUA no Irã. A revolução dos aiatolás arranca o Irã da hegemonia estadunidense, que fica somente com Israel no tabuleiro geopolítico da região. Pois, é a partir de Israel que o Império tenta alastrar o seu colonialismo.

Vampiros do fim de semana



O indie rock da boa banda Vampire Weekend.

Ouça mais do VW, aqui:


Vampire Weekend - M79
Found at skreemr.org

sábado, 26 de junho de 2010

E Serra sorria...


Em pleno jogo chato e irritante de Brasil x Portugal

O timing do candidato tucano é de fato meio raro. Tudo com ele funciona fora do contexto geral do cosmos. Ontem, durante aquele joguinho-inho-zinho xexelento, o tucano sorria, solitário como um gato na chuva. Foi, certamente, o único e singular brasileiro que sorriu durante o jogo, o resto estava aborrecido ou sonolento.

Mas a atitude - fora do esquadro do tempo, do humor e da política - não é inédita em Serra.

Em 2002, quando a palavra de ordem no Brasil era "mudança", Serra foi o candidato do continuísmo. Hoje, quando a palavra de ordem é "preservação e avanço das conquistas", Serra é o candidato da mudança.

Coisas da vida.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O vibrante jogo Brasil x Portugal


Sem comentário, eu também estou com sono...

Para compensar o tédio do atual futebol luso-brasileiro, ouça a ótima banda Interpol:



Interpol - C'mere
Found at skreemr.org

O Rio Grande marcha veloz para o passado


Cordialidade e esquecimento

A dama de traços germânicos da foto acima é amiga da governadora Yeda, privam relações de simpatia e amizade imorredoura. O cavalheiro com ar de ho-ho-ho é diretor-geral do Daer. O Daer é o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (esse "Autônomo" é pura retórica, não vá atrás), autarquia (idem) estadual responsável pela gestão do transporte rodoviário do Estado do Rio Grande do Sul, vinculada à Secretaria de Infraestrutura e Logística.

O diretor-geral do Daer, Vicente de Britto Pereira, recebeu na terça-feira passada (22), às 18h30, em solenidade no Salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa, a Medalha do Mérito Farroupilha. A honraria máxima do Poder Legislativo foi concedida por proposição do presidente do Legislativo, Giovani Cherini (PDT), em reconhecimento aos relevantes serviços prestados ao Estado. “Queremos homenagear o engenheiro, que desde julho de 2008 desenvolve um grande trabalho à frente da autarquia, voltado à recuperação e manutenção de rodovias no Rio Grande do Sul”, disse Cherini na ocasião solene.

Corte rápido.

No dia 5 de janeiro de 2010, portanto a menos de seis meses, caiu uma ponte no rio Jacuí, município de Agudo (foto). Morreram no desastre - que não foi natural - sete pessoas. Constatou-se que o Daer não fazia inspeção na estrutura da ponte há mais de quatro anos. Houve descaso da direção do Daer, deste mesmo senhor que ora está sendo premiado com a mais alta honraria do Legislativo estadual.

Esse conjunto de fatos conexos ilustra bem aquilo que Sérgio Buarque de Holanda chamou de "mentalidade cordial" nas relações sociais brasileiras. O senhor ho-ho-ho comeu do fruto sem plantar árvore alguma. E o  presidente do Legislativo estadual bebeu o goró do esquecimento.

Desfrutam, portanto, da ética promíscua do familismo e da simpatia com os que monopolizam o poder.

Na disputa entre a esfera da afetividade e a esfera dura da norma, venceu o amiguismo com a governadora. O "mérito" da medalha no peito vem daquilo que Buarque chamou de "viver nos outros", por isso, agora, o mérito vira o seu contrário.

Isso sim que é cultuar as tradições! Relações sociais dos séculos 17, 18, 19, 20, antes da revolução de 1930, em pleno século 21.

O Rio Grande marcha veloz para o passado.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Três gigantes do cinema



Quentin Tarantino e os irmãos Coen.

A partir de agora você vai comer arroz transgênico, queira ou não



É o que está determinando a CTNBio, e sem ser avisado pelo rótulo no produto

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) deve votar hoje ainda a liberação do plantio comercial do arroz transgênico Liberty Link da empresa alemã Bayer. Se aprovada, o Brasil será o primeiro país do mundo a permitir o plantio e comercialização de arroz geneticamente modificado.

O Liberty Link é herbicida de princípio ativo glufosinato de amônio e tem nome comercial Basta ou Finale (ambos da Bayer). Estudos mostram que o glufosinado é nocivo à saúde humana. Para matar as ervas daninhas, o agrotóxico é jogado sobre a lavoura, envenenando o arroz.

O integrante da Via Campesina, Frei Sérgio Görgen, teme essa medida. Ele explica que experiências anteriores já mostraram que os transgênicos são prejudiciais para a população e para o meio ambiente. “O uso de agrotóxicos aumentou depois que os transgênicos entraram no Brasil. Agora querem, com a liberação do arroz, continuar envenenando o meio ambiente e nosso corpo. Devem existir coisas sérias na calada da noite para insistirem nessa liberação. Todo mundo está vendo que isso é crônica de um desastre anunciado” - diz Sérgio.

O Brasil é o país no mundo que mais utiliza agrotóxicos em suas lavouras. Na última safra, o país utilizou mais de 1 milhão de toneladas. A Bayer é a empresa que mais vende agrotóxicos no Brasil e com a liberação do arroz, deve aumentar seu mercado. Para Frei Sérgio, o caso não está sendo tratado com seriedade pela CTNBio.

“Isto é uma desgraça. Uma coisa séria dessa deveria ser tratada com mais cuidado, precaução e seriedade, coisa que não está sendo feita. A CTNBio tem que guardar as atas de suas reuniões para no futuro, mostrar para a população quem está colocando essa desgraça no nosso território.” A informação é da Agência Notícias do Planalto.

...............................

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, é uma instância colegiada multidisciplinar criada em 2005, pelo Governo Federal.

Sua finalidade é prestar apoio técnico consultivo e assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança.

Biossegurança?

A rigor, a CTNBio está capturada pelas grandes empresas internacionais de sementes e grãos. Contribui para a insegurança alimentar do brasileiro, e não para a segurança alimentar do brasileiro.

Por que ainda não foi exigido dos grandes produtores de óleo e grãos que as embalagens dos produtos transgênicos contenham a letra T, como forma de avisar o consumidor sobre o risco que corre?

Ora, porque a CTNBio não está aí para fazer esse papel. Seu papel, sim, é facilitar a vida comercial dos grandes produtores de alimentos industrializados - venenosos e não venenosos.

E o vice de Serra, hein?

Angeli

Um cataclismo assustador para todo o sistema midiático



O fenômeno "Cala Boca, Galvão"

A TV Globo passou a ter um problema sério depois do impacto alcançado pela mensagem “Cala Boca, Galvão”, no Twitter, um sistema de micromensagens disseminadas pela internet e que na semana passada chegou a ter repercussão mundial.

A emissora não vai afastar o polêmico locutor durante a Copa do Mundo, mas provavelmente dará férias prolongadas a Galvão Bueno depois do fim do torneio para tentar reverter a propaganda negativa gerada pela surpreendentemente rápida veiculação da mensagem entre os usuários do Twitter.

É a internet mostrando como o fenômeno das redes está mudando comportamentos que no passado eram considerados utópicos, como, por exemplo, a Globo ter que deflagrar uma operação emergencial de marketing para evitar danos maiores à imagem de seu mais importante nome na Copa do Mundo.

Esta não é a primeira vez que o slogan "Cala Boca, Galvão" aparece em faixas levadas por torcedores em estádios de futebol. A diferença agora é que mais do que um protesto ele se transformou num fenômeno de marketing viral na Web. E aí a Globo não pode ignorá-lo. Ela agiu rápido para tirar as faixas levadas para os estádios sul-africanos, usando o peso de sua influência junto aos organizadores do evento, e contra-atacou em seus programas de esporte brincando com a repercussão do fato.

A emissora teve o cuidado de evitar a polêmica com os twiteiros, mesmo depois que estes criaram toda a espécie de confusões e equívocos misturando futebol com proteção a papagaios em extinção e supostos hits da cantora Lady Gaga. Até um clip com Hitler xingando o locutor circulou pela Web. Uma resposta mais agressiva atearia ainda mais fogo aos críticos de Galvão Bueno e a Globo sabia que o problema era menos visível.

Não se tratava apenas dos exageros verbais e os erros informativos de Galvão Bueno, mas do fato de que sua onipresença nas telas da Globo serviu como catalisador para um segmento do público que não gosta da hegemonia global na mídia brasileira. A emissora trata este tema com luvas de pelica porque sabe que na era digital uma fagulha pode se transformar num incêndio avassalador, em matéria de marketing de imagem.

Artigo do jornalista Carlos Castilho, ex-chefe do escritório da TV GLobo em Londres. Publicado no portal Observatório da Imprensa.

..................................

Lembrem-se, amanhã ninguém sintoniza a TV Globo. Os índices de audiência podem não cair muito, amanhã, mas vai subir a pressão dos anunciantes da Globo e das empresas de publicidade que fazem a mediação entre a mídia e os anunciantes.


Esses fenômenos, de resto incontroláveis, em ambiente de alta tecnologia, mas com grande interação pública, deixam o sistema midiático de comunicação à beira de um ataque de nervos.


A desestabilidade é enorme e crescente.


Não há meios de oferecer resistência.


A adesão é um risco alto.


Não há parâmetros quantitativos e/ou qualitativos para medir/avaliar o alcance do fenômeno.


Para o sistema midiático (mídia tradicional, publicidade, anunciantes e mercado) está acontecendo o similar a um cataclismo geológico, sem precedentes registrados.


Como agravante, não há acúmulo de dados históricos para proceder hipóteses empíricas que possam definir pelo menos um perfil mínimo do fenômeno ora em andamento.


Por outro lado, como eu já disse aqui outro dia, Dunga não é flor que se cheire. O cara é afilhado do Ricardo Teixeira, cartolão da CBF, se é que vocês me entendem.


Vamos recordar apenas duas frases ditas por Dunga, há duas semanas, quando anunciou a equipe de jogadores que levaria para a África do Sul.

Comentando sobre a ditadura militar, afirmou que não poderia avaliar se foi boa ou ruim, "só quem viveu é que pode nos dar a resposta". E completou o desastre verbal, assim: "É a mesma coisa sobre a época da escravidão. Eu não vivi, como é que vou dizer - ah!, era ruim, era bom, não sei...".  

Portanto, cuidado com o sujeito, ele pode furar os seus olhos!

Cesar Maia tem razão



Internet não é uma panacéia!

1. A vitória de Obama e a expansão do acesso a internet produziram nos candidatos de todos os níveis às eleições de 2010 no Brasil a sensação de terem alcançado sem esforço, a fórmula mágica para conquistar os votos que precisam. Esse é um enorme risco, especialmente para os iniciantes. O caso Obama deve ser bem analisado. O uso espetacular do sistema de redes que fez, só foi eficaz após a quebra do Lehman Brothers e o pânico da crise que ocorreu simultaneamente na sociedade norte-americana. Aí passou a valer seu slogan: 'Sim, nós podemos'.

2. É verdade que a "audiência" na internet, em todos os subsistemas somados, é hoje maior que a "audiência"  dos meios de comunicação com  todos os tipos de veículos somados. Mas há uma enorme diferença: os meios de comunicação relevantes são um punhado que alcançam milhões de pessoas. Um cone invertido. Na internet os emissores são milhões para atingir igualmente, milhões de pessoas: um quadrado. No caso da comunicação política, de alcance de interesse restrito, é ainda mais complexo. É como procurar uma mochila lançada por um avião no meio de uma floresta densa.

3. Na internet, o universo da comunicação política é reiterativo, como um círculo quase fechado, onde as informações são trocadas entre os interessados, militantes, jornalistas... Como fazer a comunicação sair desse circulo de fogo, alcançar os eleitores e retornar com a opinião deles é um processo que exige técnica, experiência e paciência. Da mesma forma, abrir este círculo de fogo para entrar a opinião dos eleitores e interagir com ela.

4. Em geral, os políticos usam a internet com a mesma lógica de um meio de comunicação tradicional, ou seja, unilateralmente, apenas em um sentido, do emissor ao receptor. Isso significa muito pouco, pois a riqueza da internet está na possibilidade de todos produzirem conteúdo. O internauta não é mais um eleitor apenas dos 90 dias da campanha. Esse exercício de livre crítica ele faz todos os dias, e não só na campanha.

5. Incorporá-lo na busca de votos, não é entregar um panfleto eletrônico, mas um exercício de silogismo, estimulando a dedução por impulsos que não sejam óbvios. Incorporá-los é operar alguns subsistemas que abram as portas ao eleitor e que essa interação seja pessoal. Assessores fingindo que são o candidato respondendo, são facilmente percebidos pelos eleitores internautas.

6. A comunicação política via internet só tem valor quando é uma via de mão dupla, individual, pessoal. O eleitor da mesma forma não é massificável. E fazer comunicação capilar como comunicação de massa é não mudar nada. Os 'formadores de opinião' que imaginam que são produtores de conteúdo para os demais, sem levar em conta a recíproca, não formam opinião nenhuma.

7. Por tudo isso, o melhor para quem quer votos via internet é pedir que aqueles que operam na internet -estejam ou não no mundo político - possam falar sobre essa nova mídia. Os cursos de marketing político -que proliferam nas campanhas - deveriam destacar um dia pelo menos, só para tratar do tema.

Artigo de Cesar Maia (Dem-RJ), ex-prefeito do Rio de Janeiro.

..................................

O cara é um viracasaca repugnante, mas ele tem razão - pontualmente - no que diz neste breve artigo. Os negritos são deste blogueiro.

Queriam a Santorini-sur-Guaíba e se deram mal





A comédia de erros da venda do Morro Santa Teresa

Deu no portal ClicRBS ontem (às 20h08, conforme fac-símile acima):


Governo do RS reconhece que não era preciso vender terreno para descentralizar a Fase


Secretário garantiu que o próximo orçamento terá R$ 90 milhões para as novas unidades

O governo do Estado reconheceu que não era preciso vender o terreno da Avenida Padre Cacique, em Porto Alegre, para descentralizar a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). A proposta foi retirada oficialmente da pauta da Assembleia Legislativa nesta quarta-feira.

O Palácio Piratini reconheceu que a descentralização pode ser feita com recursos próprios. O secretário do Planejamento, José Alfredo Parode, afirmou que não há razão para vender o terreno de 72 hectares.

Parode evitou falar em erro político, mas reconheceu que o projeto provocou um grande desgaste ao governo. Ele garantiu que o próximo orçamento terá R$ 90 milhões para as novas unidades da Fase:

— Felizmente, o Estado tem recursos do Tesouro para fazer os investimentos necessários. Não teria sentido a venda de patrimônio.

A Oposição comemorou a retirada do projeto. A bancada do PT vai apresentar um projeto com diretrizes pedagógicas que deverão ser obedecidas durante a discussão. A Secretaria da Justiça já trabalha um novo texto, que será apresentado nos próximos dias.

....................................

O episódio da tentativa de venda da área pública do morro Santa Teresa foi uma prolongada comédia de erros.

Especuladores - tão vagabundos como seus capitais - queriam ganhar dinheiro fácil e abundante.

O governo Yeda, de afogadilho, supos que obteria êxito em passar nos cobres a cobiçada área pública do estado. O álibi era "resolver em definitivo" (dizia a retórica do Piratini/mídia amiga) o problema dos menores infratores da Fase, "a descentralização é a solução" com rima pobre e tudo. Mas o projeto que bateu na Assembléia no finalzinho do ano passado era de uma indigência comovente: tinha somente quatro artigos, o primeiro artigo descrevia o terreno, conforme consta nas escrituras de cartório, o segundo artigo, autorizava o Poder Executivo a efetivar a venda ou permuta da área pública, o terceiro e o quarto artigos mencionam o de praxe, as despesas desta lei correm..., etc e revogam-se as disposições em contrário. A peça de "Justificação", que sempre acompanha qualquer Projeto de Lei conseguia ser mais pobrinha, ainda.

O projeto tinha, portanto, as piores intenções. Limitava-se a uma singela autorização para vender o terreno. Onde estava o projeto de descentralização da Fase, o álibi para as más intenções? Onde estava o projeto sócio-educativo-pedagógico que pudesse amparar a chamada e decantada "reformulação da Fase"?

O projeto era deserto do seu próprio álibi. O argumento sócio-educativo era sumidiço. Povoado estava, sim, de intenções comerciais, puramente pecuniárias, congestionada de suspeitas, das mais evidentes às menos improváveis.

Tudo se passa como se nós não estivéssemos respirando uma atmosfera impregnada pesadamente pela especulação imobiliária no País. Os motivos são sabidos, pelo menos os dois principais: a alavancagem imobiliária do programa federal "Minha Casa, Minha Vida" e o calafrio dinheirista causado pelas gordas perspectivas da Copa 2014.

Sem esquecer - por óbvio - que o Morro Santa Teresa é uma espécie de ilha grega (a Santorini guasca) na escala de valorização imobiliária de Porto Alegre, uma elevação paradisíaca emoldurada pelo Guaíba e com todo o equipamento urbano à disposição de pés e mãos com alta capacidade de  acumulação e consumo.

E a mídia amiga, como fica? A abelhinha-operária da família Sirotsky chegou a escrever um verdadeiro editorial acerca da inevitabilidade - ou fatalidade cósmica, mesmo - da venda do terreno público.

Agora, o governo Yeda volta atrás, como se nada houvesse. O bissexto secretário da Justiça e do Desenvolvimento Social, Fernando Schüler, deu uma entrevista lamuriosa hoje a Zero Hora. Ele diz que "infelizmente, mais uma vez, as disputas ideológicas, a guerra dos partidos e o clima eleitoral fizeram o Rio Grande do Sul perder uma grande oportunidade. Nessa disputa fratricida no Estado, quem perde são os mais pobres".

O último refúgio dos canalhas - como afirmava Samuel Johnson (1709-1784) - não é mais o patriotismo. Isso era coisa do século 18. Hoje, os velhacos se protegem intercedendo - sob a náusea dos que os observam - pelas carências dos miseráveis. Sempre numa interpretação ajustada aos seus interesses mais particulares e inconfessados.

De qualquer forma, a governadora Yeda deixou uma legião de pagãos neste episódio tragicômico. Prometeu-lhes o paraíso de Santorini-sur-Guaíba e remeteu-os - ao fim e ao cabo - ao vestíbulo do inferno dos sem-terra. Os especuladores ficaram sem terra, em Porto Alegre. O espumante virou vinagre em vários escritórios de incorporadores da Capital.

Isto posto, temo que a candidata Yeda tenha dificuldades para fazer frente as suas despesas de campanha eleitoral.

Coisas da vida.

Fac-símile acima do ClicRBS. O jornal Zero Hora editou a notícia de forma mais branda, de maneira a não admitir e acusar o golpe sofrido, já que foi um entusiasta de primeira hora do "projeto" yedista. Ninguém desconhece que o grupo RBS, proprietários de ZH, detém o controle de uma incorporadora imobiliária denominada Maiojama.    


Foto no miolo do texto: Ilha de Santorini, na Grécia, em pleno mar Mediterrâneo.

Cesária Évora e Goran Bregovic



Invencíveis!

Cesária é caboverdiana. Goran é sérvio. Uma mescla extraordinária, fora do mainstream impositivo das usinas artificias de bom-gosto musical. Mais uma vitória do território livre da web.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

FHC declarou que duvida do êxito de Serra



Se nem o Farol acredita, quem é por Serra?

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) confidenciou a interlocutor de sua mais absoluta confiança recentemente que tem sérias dúvidas sobre a possibilidade de José Serra (PSDB-SP) vencer a eleição presidencial, informa a coluna de Mônica Bergamo, publicada na edição desta quarta-feira (23) da Folha.

"E olha que estou tentando ajudar", disse o ex-presidente, atualmente em tour pelo exterior - com retorno previsto para o dia 2.

No início de junho, convocada por FHC, a cúpula do PSDB se reuniu em São Paulo para pregar uma correção de rumo da campanha de Serra à Presidência.

O risco de desgaste com a demora na definição da vice é alvo de apreensão do grupo. A falta de diálogo e recentes rompantes de Serra também estiveram em pauta. Todos cobram informações sobre a campanha.

A avaliação foi a de que Serra deveria dedicar mais atenção aos aliados e à montagem de palanques, em vez de desperdiçar energia com a rotina da campanha.

.....................................................

ATENÇÃO 


Pesquisa Ibope patrocinada pela CNI e divulgada hoje (23), às 16h30, dá o seguinte resultado:

Dilma está com 40%, Serra com 35% e Marina Silva alcança 9% das preferências.

É a primeira vez que Dilma ultrapassa Serra, para além da margem de erro.

A pesquisa joga água gelada na candidatura de Serra, já que o tucano andou aparecendo em pelo menos três programas de TV de partidos aliados, nas últimas semanas.

A direção do PSDB apostava que Serra tomaria alguma dianteira depois das exposições na televisão, mas a expectativa não se confirmou.

FHC, quando deu a declaração divulgada hoje pela jornalista Mônica Bergamo (ver acima), certamente já conhecia os números da última pesquisa Ibope/CNI.

O ex-presidente, apoiador de José Serra, está jogando a toalha, como se diz na linguagem do boxe.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo