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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Golpe mata jornal (parte 2)


Zero Hora nasce (e engorda) com o golpe de 1º de abril

Quando do golpe de abril de 1964, o diretor de Última Hora, Ary de Carvalho, queria manter o jornal com a mesma equipe, estrutura e linha editorial. Samuel Wainer, que já estava refugiado numa embaixada e de lá ainda mandava no seu patrimônio, tomou a firme decisão de fechar o jornal. Uma nova empresa foi criada, com quatro sócios e igual número de cotas: Ary de Carvalho, Ricardo Eichler, Otto Hoffmeister e o professor Dante "Em Bagé as casas eram altas, porém brancas" de Laytano.

Logo adiante, Ary de Carvalho tornou-se único dono do jornal, uma vez que foi beneficiado com um empréstimo do Bradesco, de propriedade de seu amigo Amador Aguiar.

Ary relatou o caso ao repórter Jefferson Barros, assim: "O jornal cresceu. Comprei aquele terreno na avenida Ipiranga; estava construindo o prédio e me endividei junto ao BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul). Eu saia muito com o Maurício (Maurício Sirotsky Sobrinho), éramos muito boêmios. Numa madrugada, eu perguntei para ele: por que você não entra de sócio de Zero Hora? Ele respondeu: 'Pô, a essa hora da manhã!'. Passaram-se alguns dias, eu lembrei o assunto e nós começamos. Eu disse: entra aí com 50%; esse talvez tenha sido o meu erro... Aí vendi 50% do jornal para o Maurício. Já estava com o prédio pela metade. Fui a Chicago e compramos a máquina de off set, mas estava sem fôlego financeiro, embora o jornal crescesse. Um dia o Maurício me propôs comprar mais 10%. Não aceitei. Disse que se vendesse só mais uma ação ele já seria o dono do jornal. Ele tentou, uma, duas, três vezes. Como não conseguiu me disse: 'Não vou avalizar mais nada'. Se você não avalizar, respondi, você sabe o que vai acontecer: vamos subir a Ladeira (rua General Câmara, onde estão os cartórios de protesto de títulos). Aguentei seis meses, reformando títulos. Até que chegou um dia que eu atrasei um título na Crefisul. A Crefisul era o agente financeiro que tinha financiado a máquima. Com a valorização cambial a máquina já custava três vezes mais do que quando foi financiada. Quando fiz o empréstimo, o Aron Birmann (presidente da Crefisul) sugeriu que além da máquina, como garantia eu desse as ações da empresa. Aceitei, caucionei minhas ações. Quando houve o atraso da prestação fui intimado a pagar em 72 horas. Era uma combinação do Birmann com o Maurício, que era o avalista. Só me restou o acordo, e as ações foram parar nas mãos do Maurício, pelo preço nominal das cotas".

"Ary não esquece a data: dia 21 de abril de 1970" - anota Jefferson Barros no seu livro "Golpe mata jornal".

Perguntado se não procurou outra solução, Ary de Carvalho disse que procurou o "doutor" Breno Caldas, dono do Correio do Povo, principal diário do RS, então. "Tentei vender a Zero Hora para a Caldas Júnior. Mas o 'doutor' Breno tinha aquela coisa monárquica, a pretensão de ser o Estadão gaúcho. Não pensou 24 horas e recusou a oferta", disse Ary.

O resto da história vocês sabem: a família Sirotsky fez de Zero Hora um jornal a serviço da ditadura civil-militar. Como recompensa, foi beneficiada com concessões públicas de rádios e TVs em todo o Rio Grande do Sul. Modernizaram suas empresas no âmbito tecnológico e nos métodos de gestão, mas a linha editorial permaneceu a mesma desde que foi criada há 40 anos, protagonista de um jornalismo diversionista, conservador, de má qualidade, fomentador das piores práticas sociais e sustentador ideológico dos governos mais medíocres.

9 comentários:

Miguel Graziottin disse...

Zero Hora é um jornal perfeito para o perfil facista-de-boutique que os gauchos em geral assumem.
Esta ideação ridicula de pretensa superioridade em relaçao ao Brasil, que só esconde o autoritarismo e conservadorismo deste povo.
Na minha opiniao é retro-alimentaçao.
E digo mais, só um miklagre tira Fogaça do governo. O PMDB fará campnah para Serra, mas se Dilma vencer vão querer TODOS os cargos federais do PMDB, e pior, vão levar. Estes estao bem, nao perdem nunca.
www.miguelgrazziotinonline.blogspot.com

Anônimo disse...

Gestão modernizada?
Eu assisti a uma tentativa de implantar o toyotismo na Zero Hora.
O toyotismo se fundamenta em sugestões dos empregados, que quando vingam são recompensadas com participações nos lucros das melhorias advindas das sugestões.
É complicado estimar mas dá muito incentivo e dá muito certo.
Então a coisa foi um concurso e um dos premiados sugeriu algo prosaico, mas que faltava à empresa: colocar o número na frente do prédio.
O prêmio era uma Caloi 10, e não participação em lucros, essa a primeira deformação do toyotismo. Mas sendo uma moça a contemplada, e modesta revisora, o dep. de pessoal decidiu rebaixar o premio para uma Ceci e a Caloi 10 foi destinada ao filho de uma outra pessoa.
O episódio é um instantâneo de como as idéias importadas são adaptadas para funcionar no Brasil. As idéias são reificadas passando pelo filtro da predação, não escapa ilesa do abuso interpessoal e institucional, e o conteúdo original se perde.
A gestão da Zero Hora é tão moderna quanto a de um canavial, o processo que ela perdeu por assédio moral estava mais do que na hora de acontecer.

Kayser disse...

Sobre o assunto, encaminho um e-mail que recebi há algum tempo:

"HISTÓRIA DA COMPRA DA TV GAÚCHA (RBS) SEGUNDO BRENO CALDAS, DIRETOR DO CORREIO DO POVO


Para comemorar os 50 anos da RBS nada melhor do que ouvirmos a voz de Breno Caldas, o falecido proprietário do Correio do Povo e rádio Guaíba na entrevista que concedeu a José A. Pinheiro Machado, publicada no livro "Breno Caldas- Meio Século de Correio do Povo".editora L&PM, 1987. Breno falava da famosa encampação da rádio Guaíba pelo Brizola em 1961 para transmissào da Campanha da Legalidade.

Breno Caldas- Não, no início era só a Guaíba. Só a Guaíba foi requisitada, ou então "encampada", como disse o Brizola. As outras estações ficaram no ora veja. Aquele fato político da Legalidade teve uma repercussão enorme, as pessoas acompanhavam cada passo, cada lance, a audiência era expressiva. Aí a Rádio Gaúcha resolveu aderir ao negócio, pediu para entrar ...e entrou. Depois de tudo, aconteceu um fato curioso. Um dia apareceu lá na Guaíba um diretor do Banco do Rio Grande e queria me dar dinheiro: disse que estava lá por ordem do governador para fornecer recursos, os recursos que eu precisasse, a título de indenização pela ocupação da rádio. Eu disse que não precisava, que não queria ....ele ficou surpreso: "Mas o que é que eu vou dizer ao governador?" "Diga que eu não quero dinheiro. No fim da ocupação, eu vou mandar uma conta, uma conta detalhada, correspondente exatamente às horas que ele ocupou a rádio." E, realmente, quando terminou o negócio,nós fizemos lá as contas de quantas horas a rádio ficou no ar a serviço da Legalidade e deu uma coisa ridícula...25 contos de réis ... Mandei a conta e eles pagaram. O nosso Maurício Sobrinho também resolveu mandar a conta da Gaúcha, embora a Gaúcha não tivesse sido requisitada ou encampada, mas sim tivesse aderido à Legalidade. Naquela época, o Maurício tinha comprado a TV Gaúcha do Balvé.. e lhe estava devendo 250 contos pelo período da Legalidade.. Então, na prática, o governo do Estado pagou a aquisição da TV Gaúcha...



A direçào da RBS nunca desmentiu nem explicou as palavras de Breno Caldas. "

Ismael do Nílzo. disse...

hahahahahahah ele ta pensando em sangue!!...hahahaha vou encostar o meu na parede...

Anônimo disse...

Essa gente sempre viveu de golpes , eu ouvi o Sr. Flavio Alcaraz Gomes(que não é flor que se cheire) dizer que a compra do Canal 12 pelo mesmo golpista acima foi com o dinheiro do Banrisul. A história é mais ou menos assim. Depois que o Governador Brizola devolveu aGuaíba ao Sr. Breno Caldas no episódio da Legalidade em 1961, o Governador teria dito ao proprietário da rádio que fezesse as contas de quanto foi deixado de faturar durante a requisição. Foi feito um cálculo e o estado pagou o valor referido. Quando o golpista fundador da RBS soube,correu a Brizola pedindo a mesma indenização. Ora a Radio Gaúcha entrou na Rede da Legalidade por porque quiz e mesmo assim o Sr. Brizola mandou pagar também a esse golpista acima. Era o dinheiro que faltava para comprar as ações do canal 12 que pertenciam ao Sr. Arnaldo Balve.
Luis Carlos

Anônimo disse...

Pô Cristovão que bela informação(não fonte de manipulação certo!!).
A internet no RS precisa de "caras" como você, porque temos a gangue da direita, que não preciso relacionar, mas tem um pessoal de esquerda e principalmente do PT que vai abraçar o diabo agora em outubro e o teu blog não fechou os olhos, não perdeu a coerência.Parabéns.

Rogério de Brum

van-poa-rs disse...

Penso que o maior castigo para esta empresa que monopoliza a informação e toma conta do patrimônio alheio, é que eles têm maquinário de última geração mas, o MATERIAL HUMANO é de péssima formação! Não possuem em seus quadros, um único jornalista comprometido com a verdade

Anônimo disse...

Na foto acima, no inicio da página, me pareceu que o Serra sentou em "algo" realmente grande. Quem pos isto na cadeira dele?

Renato de la Rocha disse...

Nesta história ficou um "vazio" para ser explicado - qual foi o valor e de onde o judeu tirou tanta grana para comprar e pagar os 50% das ações? E se o Ary de Carvalho vendeu, porque "continuou apertado" nos negócios do jornal? Só a valorização do cambio (dólar)não justifica.

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