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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Diretor de tele deveria ter vergonha de andar na rua e falar em público


O livre mercado de conectividade no Brasil falhou, é uma piada de mau gosto

Ontem, esteve na reunião-almoço da Federasul em Porto Alegre, o diretor da Oi, Luiz Falco.

Veio criticar o PNBL - Plano Nacional de Banda Larga - do governo federal, embora tenha confessado que não o conhece bem.

Falco disse que "se o governo optasse pela Oi para implantar seu programa, a empresa teria capacidade de aumentar a instalação de pontos de banda larga dos atuais 1,2 milhão por ano para até 3 milhões". Para o diretor da Oi, "há dois Brasis, o das áreas urbanas, onde há concorrência entre as operadoras, e o da universalização, que as empresas não atendem porque a quantidade de clientes não compensa", conforme matéria de Zero Hora, de hoje, página 20 (fac-símile acima).

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Veja como ZH faz jornalismo de compadre, já que a Oi é um dos grandes anunciantes do grupo midiático RBS.

O diretor de uma operadora de telefonia e conectividade dá uma palestra marqueteira, só para se queixar do PNBL e reivindicar um latifúndio maior na concessão que tem, e o jornal não produz um hífen sequer para criticar esse ganhador de dinheiro fácil.

Luiz de Falco deveria ter vergonha de andar na rua e falar em público, como fez ontem na Federasul e sua platéia de sub do sub.

Basta ler o Comunicado 46 do Ipea para saber que os serviços concedidos (privados) de conectividade no Brasil estão abaixo da crítica. São muito caros e muito ruins.

Repito: Luiz de Falco deveria ter vergonha de andar na rua e falar em público.

E ontem, foi aplaudido na Federasul, pelos chamados "empreendedores" que lá mastigavam o seu almoço-reunião.

O Rogério Santanna, presidente da Telebrás, na mesma hora, estava ontem no Senado dando depoimento sobre os planos da empresa estatal que dirige e a expectativa do PNBL.

Santanna foi enfático: "as operadoras vivem hoje numa zona de conforto, gozando de um acordo de mediocridade" com o objetivo de ganhar muito dinheiro e oferecer serviços abaixo da crítica.

Silvio Lemos Meira, ex-pesquisador do CNPq e um sujeito conhecido e consagrado no mercado de TI, portanto não é nenhum ultra ou tresloucado, é outro que critica duramente as operadoras de telefonia/banda larga.

Silvio diz o seguinte: "Nos últimos dez anos, regredimos mais de 20 posições nos índices de quantidade e qualidade da infraestrutura digital. Não que o Brasil estivesse indo para trás de forma acelerada. O que a década de queda - do 38º para o 59º lugar no Network Readiness Index do World Economic Forum, por exemplo - quer dizer é que outros países se moveram muito mais rápido. E isso é um problema, agora e no futuro próximo, primeiro porque muitos deles são nossos competidores, mas também, e mais gravemente, porque o mundo conectado vive, intensamente, a sociedade e a economia da informação e do conhecimento. Estar fora da rede, hoje, é como estar fora do mundo".

Sobre o PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), Silvio diz o seguinte: "A ineficiência das operadoras fixas no provimento de acesso em banda larga em quantidade, qualidade e preço acessível é a mãe do PNBL".

"Um PNBL bem executado - prossegue Silvio - pode se tornar uma intervenção estatal de qualidade nos negócios de conectividade. O PNBL parece um novo 'plano de integração nacional' e seu papel pode ser muito parecido ao das estradas e TVs no passado, ao trazer para a rede mais da metade dos municípios e 70%, 80% das casas. Muita gente reclama e desconfia do plano, quase como se fosse uma reestatização do setor de telecom. Mas telecom, a das antigas companhias de telefonia, não existe mais, transformou-se em conectividade, fixa e móvel. E é significativo que o PNBL não trate de mobilidade, e sim de conectividade fixa, onde o mercado, simplesmente, falhou" - completa Silvio Lemos Meira.

3 comentários:

Nelson disse...

Concordo plenamente com o Sr Luiz Falco quando ele afirma que nas áreas urbanas "há concorrência entre as operadoras".
As operadoras concorrem, acirradamente, para ver qual delas vai esfolar mais o vivente que ousa instalar uma linha telefônica fixa em sua casa ou adquirir uma linha móvel. As operadoras concorrem, acirradamente, para ver qual delas vai chegar em primeiro no ranking dos altíssimos lucros que auferem em cima de um povo que padece de grandes carências.

Tudo isso é resultado da privatização. Aquela que, conforme afirmava a propaganda avassaladora, insistente, nos levaria ao melhor dos mundos, um quase-paraíso no qual haveria muito mais empregos, com melhores salários, e preços e tarifas bem mais baixos para serviços de qualidade mais elevada.

Empulhação das grossas.

Na verdade, nós, os viventes que ousamos adquirir telefones, usar energia elétrica, viajar pelas rodovias pedagiadas, pagar planos de saúde privados, etc., estamos sendo roubados "à luz do dia".

Tupamaro disse...

A conexão banda larga brasileira é uma vergonha e faz parte de uma das tantas heranças malditas que os 8 anos de governo FHC (demo-tucano)legou ao Brasil. E, diga-se de passagem, o governo do Lulinha paz e amor muito pouco fez para consertar as nefastas decisões tomadas durante o desgoverno PSDB/PFL.
Estão aí as agências reguladoras que nada regulam, meros cabides de emprego da tucanagem e testas de ferro, perante os consumidores, das empresas que deveriam fiscalizar e regular.
O fator previdenciário é outra herança nefasta da era FHC que o governo PT manteve intocada e agora ameaça endossar com o provável veto de Lula à decisão do Senado.
O BC cada vez mais "independente" é outra destas heranças que o PT herdou com insofismável prazer.Assim como as agências reguladoras, o BC é um mero testa de ferro dos banqueiros para manter a política monetária e econômica que a eles interessam.

Quanto a banda larga, vejam a seguinte notícia no portal UOL:
http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/05/26/novo-ranking-global-de-banda-larga-poe-brasil-na-68-a-posicao/
estamos atrás de países como Casaquistão e Gana em termos velocidade média de conexão banda larga.
Isto é a prova provada do fracasso da política tucana de privatização da telecomunicação brasileira.

rafael disse...

Não esqueçamos que a BrOi só foi possível graças a intervenção direta do lulismo, via BNDES, BB e fundos de pensão.
A tucanada começou com a bandalha e alguns companheiros gostaram da ideia e a levaram adiante.
Carlos Jereissati, Daniel Dantas, Citibank e a Andrade Gutierrez agradecem...

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