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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sábado, 22 de maio de 2010

Casamento gay: mais do mesmo


O casamento, um inferno

"Por que se fazemos coisas iguais queremos obter resultados diferentes?"
Albert Einstein

Lembro-me de Fernando Peña quando propunha uma certa crítica ao casamento gay. Não que ele fosse contra a equidade e os direitos humanos.

Ele propunha que os homossexuais tivessem a possibilidade histórica de fazer outra coisa. Não lhe seduzia, ao genial radialista, copiar o típico modelo burguês de família, mas sim arriscar-se a pensar em algo novo. Os homossexuais não tinham por que pensar no ninhozinho de amor, nos filhos, nos carros ou natais em família. Haviam chegado até aqui com outros propósitos.

Aqueles que defendem o contrato matrimonial para todos, estão propondo um inferno onde se acredita um paraíso. Creio que algo disso aconteceu com certas feministas que só esboçavam uma visão de gênero, quando, na realidade, era preciso pôr em questão o modelo capitalista de produção. De produção econômica e de produção de subjetividade. A partir daí, querer se achar em igualdade de condições com um homem explorado foi praticamente um ato masoquista.

Agora que o império ordena o mundo, segundo suas próprias leis, ele deixa que nos ocupemos de certas coisas: da salvação das baleias, dos direitos das minorias, dos pobres da África, etcetera. Os direitos humanos, assim pensados, não são o fruto de triunfos obreiros, mas sim apenas um resto com o que nos conformamos.

Agora, senhoras e senhores, até podemos nos ocupar de que os gays possam se casar, herdar, adotar filhos, etcetera. Fazer tudo o que todos os heterossexuais fazem, isto é: cumprir com todas as leis que asseguram a reprodução do sistema capitalista.

Por outro lado, observamos que é a Igreja quem mais se queixa dessa novidade que não traz nada de novo. Entendo que a queixa não é pelos homossexuais em si, mas sim porque a Igreja perdeu campo nisso de ser o resguardo moral do Estado.

Se o Estado moderno já não se rege pelos mandamentos da Igreja, se supõe que há Outro que estabelece um limite em nossa ética diária. Como dizia Aristóteles, no caminho para a felicidade. Os que escolhem um parceiro do mesmo sexo para conviver agora gozarão de todos os benefícios que um heterossexual tem nessa sociedade capitalista burguesa; ou seja, poderão obter um atestado que confirma seu contrato econômico.

Artigo do psicólogo Angel Rutigliano, publicado no diário portenho Página/12, em 20/05/2010. Tradução deste blogueiro.

5 comentários:

Sueli-Porto Alegre disse...

"De produção econômica e de produção de subjetividade. A partir daí, querer se achar em igualdade de condições com um homem explorado foi praticamente um ato masoquista."

Esse cara tá muito certo !

Muito bom esse artigo.
abraço no blog

Anônimo disse...

Direitos são direitos... de viver como burguês, pequeno-burguês, operário, camponês... seja lá como for.

Eliminar as diferenças de classe é uma meta pela qual todos os homens deveriam lutar. Uma sociedade onde vale-se "a cada um segundo a sua necessidade e a cada um segundo a sua capacidade".

Agora, querer sujeitar os direitos de igualdade de mulheres, homossexuais, negros, etc. a essa futura igualdade de classes é tão reacionário quanto negar esses direitos.

Flics

Juarez Prieb disse...

Relaxa, Flit.

Que mau humor terrível.

O autor não quer sujeitar nada, ao contrário, ele sugere que a agenda gay não escorregue para a vala comum da sociedade burguesa.

Vamos considerar que tu não entendeu nada do texto, então é muito simples, lê mais 18 vezes que tu vai amansar.

Cleber disse...

Busca de igualdade civil e combate à discriminação não correspondem exatamente a elogio (ou capitulação) aos valores burgueses. A "possibilidade histórica" trocada pelo conformismo é uma piada: dizer "haviam chegado até aqui com outros propósitos" é simplesmente um absurdo. Quais propósitos? E estabelecidos quando, onde e por quem? Os gays não têm maiores obrigações históricas de inventar ou modificar nada do que qualquer outro grupo que seja tão vasto, heterogêneo e sujeito a contradições quanto. O problema do artigo é partir precisamente de um olhar redutor, que enxerga os homossexuais como um "eles" tão tipificado que a crítica às suas demandas revela-se como outro aspecto da mesma discriminação contra a qual lutam. Se é para dizer que a sociedade capitalista burguesa nos engoliu a todos, surge a pergunta inevitável: quando a rendição é geral, por que uns parecem mais culpados que outros?

Anônimo disse...

Este post é um anúncio de casamento?

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