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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Casa Branca declara guerra à direitista rede Fox News



Mídia é considerada organização partidarizada, apêndice dos Republicanos

Deu no The Nation, edição dominical:

Chefe de comunicações de Obama diz que já não podem confiar em jornalistas para moderar debates públicos. A batalha entre a Casa Branca e a rede Fox News [que pertence ao multimilionário direitista Rupert Murdoch] alcançou um novo pico no domingo, quando Anita Dunn, Diretora de Comunicações de Obama, numa cadeia nacional, declarou que a rede Fox News é organização partidarizada, que funciona como apêndice do Partido Republicano.

"A rede Fox News opera, praticamente, ou como o setor de pesquisas ou como o setor de comunicações do Partido Republicano" – disse Dunn à CNN. E acrescentou: "não precisamos fingir que [a Fox] seria empresa comercial de comunicações do mesmo tipo que a CNN." Dunn também aproveitou as páginas do The New York Times, a cujos repórteres declarou em entrevista do domingo, que "a rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, [e] não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico."

Na fala mais importante, pela CNN, Dunn afirmou que o presidente Obama agora considera a rede Fox como opositor partidário, mais do que como organização jornalística.

"Quando o presidente fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita" – ela explicou. – "O presidente já sabe que estará como num debate com o partido da oposição".

É grande avanço em relação ao modo como o "establishment" Democrata encara a rede Fox. E demorou para acontecer.[Os grifos são do DG.]

De fato, os Democratas de alto e baixos escalões sempre viram a rede Fox News como força obviamente hostil. Mas os Democratas eleitos resistiram muito, sem decidir se aceitavam ou se combatiam aquela rede.

A verdade é que o "establishment" Democrata chegou a aceitar a ideia de dar à rede Fox o privilégio de hospedar e moderar um debate durante as primárias presidenciais – mas o movimento considerado "de autolimitação" foi abortado, depois que uma coalizão de blogueiros e ativistas progressistas objetou. [Olha os blogs de esquerda influindo no núcleo Democrata!]

Com o desenrolar da campanha, o pessoal de Obama foi subindo o tom dos comentários e várias vezes a rede Fox enfrentou dura barreira de arame farpado eletrificada pelos discursos de delegados e, às vezes, do próprio candidato. (Como esquecer Robert Gibbs, quando virou a mesa, em debate com Sean Hannity, da Fox, em outubro passado?)

Quando acabou a campanha, a equipe de Obama discutiu muito sobre como reagir à rede Fox, de dentro da Casa Branca. Foi preciso surfar (e algumas vezes esconder das câmeras) uma onda de obamistas ressentidos com a Fox. E o padrão sempre foi que o presidente é mantido acima das brigas 'midiáticas'.

A nova atitude de Dunn é parte de nova estratégia, mais ampla, recentemente 'telegrafada' na revista Time, para chamar mentiras de "mentiras" e tratar a rede Fox como espaço para debates muito duros com a oposição – como partido de oposição, portanto, não como discussão jornalística. [...]

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A briga é boa. No Brasil, seria o equivalente ao Franklin Martins declarar (em nome de Lula) guerra ao grupo Abril/Veja (da famiglia Civita), que embora não tenha rede de tevê da potência da Fox, pauta politicamente em uníssono quase todos os grandes órgãos da mídia brasileira, rádio, televisão, jornais das capitais e pequenas publicações periódicas do interior e periferias.

Mas isso, por aqui, jamais irá ocorrer, pelo menos enquanto Lula estiver no Planalto. Como agora sou "assinante" involuntário de Veja, posso notar que o Governo Federal insiste em colocar anúncios pagos nas revistas do grupo Abril/Civita, mesmo sofrendo críticas rebaixadas, injustas e sob um viés oligarco-fascista dos mesmos. A rigor não são críticas, são campanhas sistemáticas, renovadas semanalmente de forma repetida e militante.

A tiragem de Veja é de cerca de 1,2 milhão de exemplares, em queda. Já foi de 1,5 milhão. Menos mal, é certo que 188.800.000 de brasileiros não a lêem.


Fac-símiles parciais do The Nation e do The Huffington Post, sobre o mesmo tema. Essas duas publicações podem ser consideradas de esquerda liberal.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Cristóvão,
Não assino Veja, mas a mantenho na lista dos meus "favoritos" só para manter meu índice de indignação afiado. Sou um dos brasileiros que leio Veja On Line de vez em quando só para saber exatamente o que NÃO pensar sobre a realidade brasileira. (Clovis Lindner - clovishl.blogspot.com)

barcelosmarcio disse...

Tomara que esta posição do gov. Obama tenha ecos por outros países do mundo, principalmente na AL.

Chega de hipocrisia, se um jornal ou revista se comporta como partido de oposição, deve ser tratado como partido de oposição.

O brabo é que no Brasil, diferente dos EUA (onde a FOX é considerada braço do partido republicano), são os partidos da oposição que atuam seguindo a pauta ditada pela mídia corporativa. É uma inversão.

Daí a precisão do termo PIG. Trata-se de um partido político (que age de forma coordenada, congregando mídias de todo o país) à parte do sistema formal.

Anônimo disse...

Lula é um frouxo, quanto mais apanha da imprensa local mais gosta. E os militantes se desdobram que nem biscoito em boca de velha para defender seu governo

claudia cardoso disse...

Nós já falamos, ninguém nos escuta: quando se escreve em jornal, quando se dá entrevista, quando se vai a programa da mídia corporativa, legitima-se quem não tem credibilidade alguma. A mídia corporativa guasca [nacional idem] é inimiga de classe, além de agir como partido político ilegal. Perseu Abramo já escreveu sobre isso há anos atrás, não é novidade...
Bueno, quiçá, agora, que o "grande irmão do norte" [sic] começa a se posicionar [o que é paradoxal, pq é de lá parte do modelo midiático brasuca-gaudério], quem sabe, quem sabe...
O que é uma pena, pois perdemos o ineditismo.

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