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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Brasil-França: relações perigosas (para Washington)


O sapo não é tolinho

As relações comerciais Brasil-França, ora aquecidas pela compra de uma cesta de produtos bélicos, não-bélicos e sobretudo alta tecnologia não-militar (o ponto relevante do pacote), devem ser vistas por um ângulo do tipo olho-de-peixe. Mais macro.

Guardadas as proporções, o presidente Lula e sua diplomacia (que não é amadora) repetem um pouco os negaceios de Getúlio Vargas para lograr êxito na conquista da siderúrgica de Volta Redonda, que acabou sendo a maior aciaria do mundo, por muitos anos. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) criada em 9 de abril de 1941 (segundo a Wikipédia), durante o Estado Novo, por decreto do presidente Getúlio Vargas, após um acordo diplomático, denominado "Acordos de Washington", feito entre os governos brasileiro e estadunidense, que previa a construção de uma usina siderúrgica que pudesse fornecer aço para os aliados durante a Segunda Guerra e, na paz, ajudasse no desenvolvimento do Brasil. Entretanto, Getúlio, antes da conquista destes acordos com a Casa Branca, fez uma diplomacia astuciosa de jogo duplo, ora oscilando em favor de Berlim, ora de Washington. Para conquistar o seu objetivo de implantar uma indústria de base para o País, Getúlio valorizou a posição geopolítica estratégica do Brasil no Hemisfério Sul.

Hoje, a diplomacia lulista não faz muito diferente, respeitadas as idiossincrasias históricas. Sem entrar no mérito da conveniência de adquirir onerosas peças de guerra, Brasília está comprando - sem restrições - alta tecnologia que pode ser desdobrada em múltiplas vantagens ao longo do tempo. E mais: desloca e reposiciona o vetor diplomático brasileiro para fora da preferência por Washington. É um movimento sutil, mas efetivo, cuja leitura a Casa Branca já deve ter feitos os cálculos decorrentes. Tanto mais no momento em que os Estados Unidos insistem em povoar a Colômbia com bases militares impertinentes e acintosas. De quebra, Lula conquista simpatias dos militares brasileiros recalcitrantes, para um programa militar esquecido e para o qual já não havia mais esperanças de ser objeto de investimento estatal.

O presidente Lula, assim, está seguindo a máxima de Yoko Ono, a viúva Lennon, "think globally and act locally", ou seja, pensando globalmente e atuando localmente.

O sapo não é tolinho.

5 comentários:

Alice Mann disse...

As ações sempre inteligentes e inovadoras de Lula me fazem acreditar na teoria de uma psicóloga, que frequentemente afirma: "Lula tem o maior neorônio desse país"!

Anônimo disse...

Desde o início deste, é impecável o jogo diplomático que o governo tem feito.
Apesar das críticas dos setores comprometidos com os eventuais e possíveis prejudicados.
Parabéns ao Lula, ao Celso Amorim e ao Marco Aurélio Garcia. E a todos os outros diplomatas que tem se envolvido nesta estratégia.
Irretocável.

Coelho disse...

Menos, Alice.

giovani montanher madruga disse...

foi uma boa jogada.
passou o recado aos estadunidenses e, com a transferência de tecnologia, possibilita a criação de uma indústria tecnológica avançada, não necessariamente bélica.

Anônimo disse...

Não é tolo, mas não tem princípios. Tem pavor em manter relações diplomáticas com democracias (EUA, Colombia), mas adora fazer amizade com um fascista islâmico aqui ou um caudilho do século 19 ali.

Os povos subjugados por estes regimes agradecem a Lula e à atual diplomacia brasileira.

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