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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Da série: Trilha sonora para o desastre guasca



Atendendo a uma cartinha do nosso querido ouvinte, Ary, vamos então rodar a velha canção de Elton John, “Goodbye Yellow Brick Road”, que fala mais ou menos assim:

O que você pensa que fará então?
Eu aposto que derrubará seu avião
Você vai precisar de um pouco de vodka e tônico
Para te ajudar a se recuperar novamente...

Governo Yeda sangra lentamente


E a oposição é espectador passivo de um raro espetáculo

O superintendente da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, Ildo Gasparetto, irá segunda-feira a Brasília para acompanhar o andamento das investigações da morte do ex-chefe da representação do Rio Grande do Sul em Brasília, Marcelo Cavalcante. Ele se reunirá com o delegado adjunto da 10ª Delegacia de Polícia (DP), Aelio Caracelli Júnior, e com o delegado federal Elton de Souza Zanatta, designado pela PF do Distrito Federal para acompanhar as investigações do caso. A informação é do Correio do Povo de hoje.

Sobre o fato de Marcelo Cavalcante ter procurado informações a respeito do programa de proteção a testemunhas do Ministério da Justiça, Gasparetto diz que devem ser elucidados os motivos que levaram o ex-assessor a fazer a consulta. “Se ele de fato procurou, é porque estava sendo ameaçado”, afirma.
Segundo ele, “não é normal” uma pessoa de 41 anos cometer suicídio. Caracelli disse ontem, mais uma vez, que a investigação trabalha com diversas possibilidades. “Não descartamos a hipótese de qualquer outro crime ”, afirmou o delegado responsável pelo caso.

Enquanto isso, o governo tucano de Yeda Rorato Crusius sangra demoradamente. Diversos deputados aliados da governadora já revisam suas posições, olham o entorno, calculam os seus cacifes pessoais e admitem a possibilidade de que este governo não consiga de fato cumprir o quadriênio fixado pela Constituição. Se indivíduos e suas consciências morais ou os seus instintos político-eleitorais, como vocês quiserem, se inclinam a pensar assim, o mesmo não acontece com nenhum sujeito coletivo e organizado no Estado, melhor dito, nenhum partido sequer cogita uma conjuntura sem a presença de Yeda Rorato Crusius à frente do Piratini. Neste caso, o embotamento político é generalizado, bem como a incapacidade de orientação no terreno pantanoso de uma crise terminal de governabilidade. Treinada e condicionada pavlovianamente só para eventos eleitorais, as conjunturas complexas das crises deixam a oposição tão anulada quanto a própria situação.

Céticos, uns, atrapalhados, outros, os partidos de oposição ao atual arranjo precário de poder estadual resignam-se ao papel de meros espectadores passivos do raro espetáculo de deslegitimação lenta, gradual e segura do Executivo guasca.

Como dizia o velho Aparício Torelly, de onde menos se espera é daí que não vem nada mesmo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Volte para o lugar de onde veio



Volte, volte, dona Yedinha, volte para o lugar de onde veio

“Get Back”, com os Beatles (1969). Neste vídeo histórico aparece o tecladista Billy Preston e num canto do estúdio, apenas olhando, o jovem Mick Jagger.

PT rouba fala de editorial de ZH








Presidente do Legislativo não tem nada a dizer sobre a crise estadual

É curioso o quanto o PT/RS ficou baratinado com as denúncias do PSOL ao governo tucano de Yeda Rorato Crusius. O PSOL é um partido microscópico que ainda não disse a que veio, sem base social, ou melhor com base social exclusivamente em traços da barnabelândia federal, e só. Mas ainda assim, no Rio Grande do Sul está conseguindo deixar o governo tucano e a direita como um todo à beira de um ataque de nervos e sobretudo logrando êxito na ocupação da boca de cena pública com fala própria.

O PT – que perde protagonismo na razão inversa da popularidade do presidente Lula – ficou sem fala no RS. Para tanto, reuniu Executiva e Bancada estadual semana passada, um dia depois das denúncias dos dirigentes do MES, ops, PSOL, e tirou uma nota bisonha. Sem fala, roubou a fala do editorial de Zero Hora que circulou naquela escaldante sexta-feira, 20 de fevereiro.

O que quer o PT? O mesmo que ZH: que o direito de conhecer o conteúdo das provas das denúncias é de todos e que o MPF deve esclarecer, confirmando ou desmentindo, sobre o andamento de seu trabalho acerca das Operações Rodin e Solidária. Desse mínimo denominador comum, o PT não se afasta nem para pensar.

Quis o destino que a profunda crise do Executivo estadual ocorresse quando um dos deputados do PT fosse o presidente do Legislativo. Que papel está desempenhando este chefe de Poder no Estado, em face a crise de legitimidade e falência do Executivo, quando tantas coisas precisam ser ditas e caminhos políticos clamam por serem apontados?

Nenhum. Zero. Nada a declarar. O pensamento é uma faca sem lâmina e sem cabo. Nulo.

O Poder Legislativo, hoje liderado por um petista, afirma candidamente que “prefere não interferir” e repetindo a cantilena de nove entre dez próceres da direita guasca afirma:

“Por enquanto, temos uma denúncia sem confirmação. Cabe ao MPF concluir o inquérito e dar publicidade à investigação feita. Não há necessidade de a Assembleia interferir” – argumenta o presidente Ivar Pavan.

Uma declaração do folclórico Pedro Pereira, deputado tucano e fuinha de Pelotas, não seria tão mitigador e balsâmico ao Piratini, hoje, quanto o foi a omissão do chefe do Legislativo. Um outro editorial de ZH não faria tão bem aos ouvidos da governadora.

Como se vê, o velho Partido dos Trabalhadores está em processo de interrupção definitiva do pensamento, ocasião em que aproveita para roubar falas de cenas que não protagoniza, rebaixando-se ao papel de coadjuvante secundário no palco vivo e candente da crise de legitimidade da direita sulina – um espectro de si mesmo.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Simon lança Jobim ao Piratini


Senador dedo-podre é padrinho de vários ex-governadores da direita guasca

Se alguém ainda alimentava a possibilidade de Yeda Crusius buscar a reeleição, a partir de ontem às 16 horas esse alguém suicidou as suas vãs esperanças.

A direita guasca fica numa sinuca de bico, com o iminente impedimento de Yeda. Fogaça – reconhecido inapetente – tem dificuldades outras e precisa cumprir o seu segundo mandato na prefeitura da Capital na íntegra. Rigotto tem o contencioso natural de ter feito – como Yeda – um péssimo governo, ademais foi rifado pela RBS no curso do pleito que a tucana acabou vitoriosa. Mostra-se sentido e quer ser senador pelo Rio Grande, a partir de 2011. Padilha, marcado por um rosário de processos judiciais, é fósforo queimado. O senador Zambiasi – por motivos que só a RBS pode responder – é um material altamente inflamável. Resta o ministro Nelson Jobim, o híbrido de peemedebista-tucano mais ascensional da Esplanada.

Não é à toa, portanto, que o senador Pedro Simon, padrinho de tantas especialidades como Britto, Fogaça, Rigotto e Yeda, esteja lançando a candidatura de Jobim ao Piratini, na sucessão de 2010.

Está lá, para quem quiser ler, na coluna da agrojornalista Ana Amélia Lemos, de ontem (acima), em ZH.

Jornal serrista diz que não houve ditadura, mas ditabranda


Branda para quem, cara pálida?

Quando o próprio Departamento de Estado dos EUA e vários jornais conservadores norte-americanos consideram e reconhecem o caráter popular-democrático dos processos em curso na Venezuela, Bolívia e Equador, o jornal tucano-serrista Folha de S. Paulo – o mesmo que emprestava veículos da sua frota para operações inconfessadas dos órgãos de repressão da ditadura civil-militar de 1964-85 – continua insistindo com a sua cruzada contra Hugo Chávez e outros governantes sul-americanos que estão cortando os laços do Estado com as oligarquias locais.

Como se não bastasse, criou um neologismo infame para reconceituar a ditadura brasileira que golpeou Goulart em 1964. Segundo a Folha, nós experimentamos uma “ditabranda”, e alinha motivos de ficção para por de pé esse re-conceito mole e insustentável (editorial de 17/02/2009, fac-símile parcial acima).
Para o jornal da família Frias deve ter sido mesmo uma situação branda, já que se pode imaginar as contrapartidas que o regime de repressão e arbítrio deve ter concedido ao grupo Folha, antes de 1964, editores de um obscuro diário da cidade de São Paulo.

A professora Maria Vitória Benevides escreve, em carta enviada ao jornal e publicada hoje, no Painel do Leitor:

"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de 'ditabranda'? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar 'importâncias' e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi 'doce' se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala - que horror!"

O jurista Fábio Konder Comparato também escreve:

"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana."

Já a redação do jornal Folha de S. Paulo, publica hoje a agressiva nota:

"Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa."

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Governo Yeda está por um fio


A se confirmar as denúncias de hoje à tarde, o governo tucano de Yeda Crusius está com os dias contados.

Departamento de Estado considera referendo venezuelano democrático


Cá entre nós

Pois é, enquanto a "internacional antichavista" faz mágicas para continuar alimentando a imprensa sul-americana, vem do mundo de Barack Obama uma novidade que não parece ocasional.

O Departamento de Estado atesta que o referendo vencido por Hugo Chávez foi "totalmente coerente com o processo democrático". Como sobremesa, o democrata "Washington Post" define as novas constituições de Venezuela, Bolívia e Equador como "processos pacíficos" que se destinam a "refundar aquelas nações para corrigir injustiças históricas".

No que nos respeita, são sinais quase inacreditáveis de uma inovação inacreditável. Por importante que seja, seu aspecto político é o de menos. A mudança de percepção e de concepção é ainda mais assombrosa.

Lembra uma palavra que nunca passou de sua sonoridade: Panamericanismo. Não faz mal imaginar que aqueles fatos sejam uma insinuação esboçada de vida em comum nas nossas bandas.

Trecho da coluna de hoje do jornalista Janio de Freitas, da Folha.

Revelações by Protógenes?

A ver

Comenta-se na praça que as revelações sobre o caso Marcelo Cavalcanti (gizado na foto) que os parlamentares do PSOL farão hoje à tarde em entrevista coletiva resultam de informações colhidas pelo delegado Protógenes Queirós da PF, célebre por ter prendido o mega criminoso Daniel Dantas por duas vezes.

A ver.
Foto: todos os desafetos, os "caídos" e os "suicidados" da governadora Yeda

Stalinistas suicidaram ex-assessor de Yeda


Sete questões que não querem emudecer

Ontem à noite conversei com um especialista em assuntos policiais. A propósito da morte misteriosa do ex-assessor de gabinete da então deputada federal Yeda Crusius (PSDB), ele me esclareceu e me confundiu com algumas informações, como:

1) É raríssimo suicídio por afogamento, tanto mais se o local escolhido for nas águas serenas de um lago, onde não há correnteza, redemoinhos ou ondas.

2) Qual o motivo de apressar o sepultamento do corpo? O corpo foi encontrado no amanhecer de terça-feira, ontem à tarde já estava sepultado.

3) Por que não houve perícia técnica para examinar as vísceras do corpo? Em casos de suspeita de morte por afogamento é fundamental examinar a presença de microalgas no interior do pulmão da vítima. O exame legista pode dar respostas sobre agressão antes ou depois do óbito e qual foi de fato o agente causador do mesmo.

4) Como a hipótese de suicídio é remota, por que pessoas do centro do governo Yeda logo classificaram de forma perempta e uníssona, sobretudo uníssona, a morte por suicídio? Seria uma orquestração? De quem? O meu interlocutor estranha a carta de Carlos Crusius que não disse a que veio, salvo para afirmar categoricamente que Marcelo Cavalcanti foi levado ao suicídio. Ficou evidente a “palavra de ordem” de Crusius: morte por suicídio e ponto final.

5) A mídia amiga e os correligionários do falecido passam a repetir a hipótese do suicídio como uma verdade absoluta, fazendo cortina de fumaça para outras hipóteses e especulações menos ingênuas.

6) Uma questão importante: a Polícia Federal está investigando o caso?

7) E o mais intrigante: “por que a mídia amiga – ZH e CP, especialmente – não levantam isso que eu estou dizendo aqui no nosso diálogo? Afinal, essas questões que aponto são elementares, como beber um copo d’ água, para um bom repórter policial” – arrematou o meu atônito interlocutor.

Um dado hilário da cartinha de Carlos Crusius: quem seriam os stalinistas que levaram Marcelo Cavalcanti à morte? Onde vivem esses stalinistas, do quê se mantém, e como se alimentam esses seres exóticos? Será que esses stalinistas possuem armas de destruição em massa nas garagens de suas casas? Vêem o BBB na TV ou preferem a leitura das obras do GGP – guia genial dos povos?

Carlos Crusius fica devendo essa. E a governadora Yeda fica devendo uma manifestação sobre o caso de seu ex-assessor "suicidado".

Foto: Leonid do B, conhecido stalinista do bairro Lami. Da praia mesmo ele liga para seus superiores informando que o "serviço está concluído". Leonid do B está veraneando numa dacha na praia do Magistério.

Brasileira teria confessado farsa, diz mídia suíça


Noblat e TV Globo cometem barriga histórica

Telejornal da noite na emissora Tele Zurich informou ontem que a advogada brasileira Paula Oliveira já teria confessado à polícia que inventou o caso da agressão por neonazistas. A informação foi dada também pelo jornal conservador Welt Woche. Citando fontes da polícia, os dois veículos informam que a advogada teria confessado inclusive ser autora dos ferimentos na própria pele. Paula teria informado que comprou o estilete numa loja chamada Ikea. Os motivos pelos quais a brasileira teria inventado o ataque não foram revelados pela mídia suíça.

A brasileira ficou seis dias hospitalizada depois de alegar ter perdido os bebês em consequência de um ataque de três supostos neonazistas na semana passada, uma versão contestada desde o início pelas autoridades suíças. A Justiça de Zurique, na Suíça, abriu processo penal contra Paula por suspeita de falso testemunho à polícia local. Segundo o Ministério Público local, a denúncia ocorre por ela ter alegado estar grávida, quando exames provaram o contrário. As informações são da Agência Estado.

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Quem deu o furo dessa falsa notícia foi o jornalista de direita Ricardo Noblat, hoje hospedado no portal de O Globo. Noblat foi secundado pela TV Globo que divulgou amplamente essa evidente barriga jornalística.

A ação irresponsável destes jornalistas de resultados (audiência fácil, sensacionalismo barato, espetacularização do grotesco ou patológico, etc) provocou um mal-estar nas relações entre Brasília e Berna.

Agora cabe a questão: quem vai reparar a situação, quem vai pedir desculpas ao povo brasileiro e ao povo suíço por divulgar notícias que não se confirmam e causam abalos diplomáticos entre dois países com relações estáveis?

Fica a lição: cada vez se deve suspeitar mais e mais da credibilidade da grande mídia oligárquica brasileira e seus periféricos – como Noblat e tantos outros.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O regressismo da vida social no RS alcança níveis alarmantes


Experiência exemplar é liquidada no RS

Uma experiência educacional de 12 anos e que serviu de exemplo para outros Estados pode ser encerrada no Rio Grande do Sul. O Ministério Público gaúcho e a Secretaria Estadual de Educação (SEC) assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que determina o fechamento das escolas em sete acampamentos sem-terra. A informação é da Agência Chasque, através da repórter Raquel Casiraghi.

O TAC prevê que até o dia 4 de março devem ser desativadas as turmas de educação infantil, ensino fundamental e de Educação de Jovens e Adultos (EJA). As crianças devem ser matriculadas na rede pública e ter transporte escolar. Caso não seja cumprido, o governo do Estado será multado em um salário mínimo por dia de atraso.

O Procurador de Justiça e integrante do Conselho Superior do Ministério Público, Gilberto Thums, argumenta que o objetivo do acordo é garantir que as crianças sem-terra tenham o mesmo ensino da rede pública, o que não estaria acontecendo.

“A gente tem um nicho de professores que são escolhidos a dedo pelo Instituto Preservar, que são afinados ideologicamente com idéias extremistas. Isso provoca um ensino completamente fora dos padrões que o Estado tem que garantir. A idéia é que tenhamos um ensino com pluralidade de idéias e inclusão social“, diz Thums.

O procurador lista uma série de irregularidades. Entre elas, a infra-estrutura das escolas é precária e o poder público não estaria conseguindo fiscalizar o conteúdo programático e nem a carga horária. Thums ainda alega que o convênio entre o Instituto Preservar e o governo é ilegal, pois repassa a uma organização não-governamental o dever da educação que é do Estado.

No entanto, a coordenadora pedagógica das escolas itinerantes, Marli Zimermann de Moraes, contesta as críticas do Ministério Público. Ela garante o cumprimento do conteúdo programático e diz que a falta de infra-estrutura reflete o sucateamento promovido pelo governo. Educadores estão com salários atrasados desde julho passado e escolas não recebem material pedagógico. Além disso, o convênio permite a contratação de apenas 13 educadores e de uma merendeira por escola para cuidar de 400 crianças.

No entanto, o principal motivo para o fechamento, denuncia Marli, é tentar enfraquecer o Movimento Sem-Terra (MST).

“Acabar com as escolas itinerantes é impedir que as famílias lutem pela terra. Porque quem vai para a luta é só quem não tem filho. Em cinco dias que a criança não vai para a escola, o Conselho Tutelar é chamado e o pai pode ir preso. A itinerante tem a especificidade de acompanhar o acampamento”, argumenta.

O fechamento das escolas itinerantes é um dos desdobramentos das Ações Civis Públicas encaminhadas pelo Ministério Público no ano passado. Nas ações, promotores determinaram medidas para conter ações do MST e até mesmo chegaram a propor a extinção do movimento, o que depois foi negado.

As escolas itinerantes foram reconhecidas no Estado pelo Conselho Estadual de Educação em 1996. Baseados nesta experiência, outros Estados adotaram o sistema, entre eles Santa Catarina, Paraná, Piauí, Alagoas e Goiás.

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Sem exagerar, temos repetido aqui que o Estado regride a olhos vistos, com o governo esquizo-tucano e a sua influência deletéria que só robustece o pensamento conservador do RS.

O governo Yeda está fechando escolas no Estado, em combinação com personagens conservadores do MP/RS. Motivo: intolerância política, espírito macabro de destruição e tentativa de eliminação do que lhe é antagônico.

Sem nada para apresentar de positividade, o páthos yedista resume-se a destruir conquistas e direitos sociais de setores que lutam pela afirmação política e autonomia cidadã.

Que o Brasil saiba: o Rio Grande do Sul está cada vez mais irreconhecível, retrocede a um estado de natureza e anomia social, como aquele que havia antes da Constituição castilhista de 1891.

Bem-vindos ao século 19!

Há salvação para a mídia conhecida?



Jornal só serve mesmo para embrulhar peixe?

A crise estrutural (e terminal) do capitalismo conhecido pode precipitar a longa agonia da mídia impressa, tal como a conhecemos. É um fenômeno mundial, de Nova York à Cabrobó do Judas.
Os grandes órgãos dos Estados Unidos e Inglaterra têm tratado do assunto em suas linhas editoriais. Aqui no Brasil, além de ocultarem essa tendência preocupante (para eles), divulgam periodicamente dados autovalidados, portanto sem a menor credibilidade, de que crescem as tiragens brasileiras de jornais e revistas impressas. Cascata pura – líquida, gasosa ou sólida. Cascata. Mentira. Como não conseguem engrupir mais ninguém, ficam contando lorotas para reforçar o autoengano.

A revista Time (grupo CNN) publicou uma longa matéria sobre o tema. A coisa está ruça e rombuda para os barões da mídia hegemônica. Semanas atrás, o The New York Times hipotecou a sua sede para fazer frente a uma rombo bancário tamanho GM/Ford, e o poderoso grupo midiático Tribune Company, que detém doze diários nos EUA, entre eles Los Angeles Times e Chicago Tribune, pediu concordata por estar igualmente afogado em dívidas.

No Brasil, vários latifúndios midiáticos também estão ameaçados, apenas não querem dar o gostinho de mostrar o sapato furado e de estarem bebendo uísque nacional, há anos. O Estadão, dizem, está na bacia das almas, assim como incertos grupos que buscam em desespero outras formas de sobrevivência, nem que seja no fabuloso ramo do entretenimento de massas - um nome up to date para circo, o velho e bom circo romano.

Como se vê, o papel social dos jornais e revistas tradicionais está se desmanchando no ar, mas isso não significa dizer que a função social da comunicação está igualmente sendo extinta. Ao contrário, está sendo atomizada e socializada, de outras formas, modalidades e plataformas tecnológicas. A internet e a presente crise sistêmica estão precipitando tudo, mas as pessoas continuarão buscando notícia e informação como uma das dimensões simbólicas da expressão humana.

Coisas da vida.

Uma década de fantasias


Se você quiser saber o que é realmente preciso para resgatar uma economia da armadilha do débito, veja o grande programa de auxílio público, mais conhecido como Segunda Guerra Mundial, que acabou com a Grande Depressão

A esta altura, todos já conhecem a história triste dos investidores ludibriados por Bernard Madoff. Eles olharam seus extratos e pensaram que estavam ricos. Mas um belo dia descobriram, para seu horror, que a suposta riqueza era produto da imaginação de outra pessoa.

Infelizmente, esta é uma boa metáfora para o que aconteceu à América como um todo na primeira década do século 21.

Semana passada, a Reserva Federal dos Estados Unidos divulgou os resultados da sua mais recente Pesquisa Sobre a Economia de Consumo, um relatório trienal sobre o patrimônio das famílias americanas. A conclusão é que basicamente não houve criação de riqueza alguma desde a virada do milênio: o patrimônio líquido da família americana média, ajustado à inflação, é mais baixo agora do que em 2001.

De certa forma, isto não deveria surpreender. Durante a década passada, a América era uma nação de tomadores de empréstimo e gastadores, não de poupadores. A taxa de poupança caiu de 9 por cento nos anos 1980 a 5 por cento nos anos 1990, para chegar a 0,6 por cento de 2005 a 2007, e as dívidas familiares cresceram muito mais do que a renda. Por que então deveríamos esperar que o nosso patrimônio líquido aumentasse?

Mesmo assim, até recentemente os americanos acreditavam que estavam enriquecendo, porque eles recebiam seus extratos dizendo que suas casas e ações estavam se valorizando mais rápido do que o aumento de suas dívidas. E a crença de muitos americanos de que eles podiam contar com os ganhos de capital para sempre soa ingênua, é bom lembrar de quantas vozes influentes - especialmente as publicações de direita como The Wall Street Journal, a revista Forbes e a National Review - incitaram esta crença e ridicularizaram aqueles que se preocupavam com o baixo nível de poupança e o aumento das dívidas.

Então a realidade foi mais forte e demonstrou que aqueles que se preocupavam estavam certos o tempo todo. O aumento repentino dos valores dos bens foi uma ilusão - mas o aumento repentino das dívidas era verdadeiro até demais.

Então estamos com problemas - problemas mais sérios, penso eu, do que as pessoas conseguem enxergar. E não estou falando apenas dos analistas cada vez mais raros que ainda insistem que a economia vai entrar nos eixos a qualquer momento.

Porque esta é uma confusão generalizada. Todos falam dos problemas dos bancos, que estão, sem dúvida, na pior posição do sistema. Mas os bancos não são os únicos jogadores com muitas dívidas e poucos bens; a mesma situação também se aplica ao setor privado em geral.

E, como o grande economista americano Irving Fisher observou nos anos 1930, as providências que as pessoas e empresas tomam quando se dão conta de que estão devendo demais tendem a ser desastrosas quando todos tentam tomá-las ao mesmo tempo. As tentativas de vender os bens para pagar as dívidas só aumentam a queda vertiginosa do preço dos bens, reduzindo o patrimônio líquido. As tentativas de se economizar mais resultam num colapso da demanda de consumo, aumentando ainda mais a crise econômica.

Estariam os tomadores de decisão prontos para fazer o que for necessário para quebrar este ciclo vicioso? Em princípio sim. Os oficiais do governo entendem esta questão: Nós precisamos "conter este espiral prejudicial e potencialmente deflacionário", disse Lawrence Summers, um dos principais conselheiros econômicos de Obama.

Na prática, no entanto, as políticas atualmente em funcionamento não encaram o desafio de forma adequada. O plano de incentivo fiscal, ainda que certamente ajude, provavelmente não fará mais do que abrandar os efeitos colaterais da deflação das dívidas. O esperadíssimo anúncio do plano de resgate aos bancos deixou todos confusos em vez de confiantes.

Há esperanças de que o resgate aos bancos se torne algo mais concreto. Tem sido interessante ver como a idéia da nacionalização temporária dos bancos se popularizou, até com republicanos como o Senador Lindsey Graham admitindo que ela possa ser necessária. Mas até se fizermos o necessário para os bancos, isto resolveria só parte do problema.

Se você quiser saber o que é realmente preciso para resgatar uma economia da armadilha do débito, veja o grande programa de auxílio público, mais conhecido como Segunda Guerra Mundial, que acabou com a Grande Depressão. A guerra não levou apenas ao fim do desemprego. Mas também levou ao aumento rápido dos salários e uma inflação substancial, tudo isso com praticamente nenhum empréstimo por parte do setor privado.

Em 1945, as dívidas do governo estavam nas alturas, mas a relação entre as dívidas do setor privado e o PIB era apenas metade do que havia sido em 1940. E esta dívida privada baixa ajudou a preparar o caminho para o grande boom econômico pós-guerra.

Como nenhuma dessas coisas se aplica à nossa realidade no momento, nem se aplicará tão cedo, levará anos até que as famílias e empresas possam ganhar o bastante para pagar as dívidas que acumularam tão displicentemente. É muito provável que o legado da nossa época de ilusões - a nossa década de fantasias - seja uma longa e dolorosa queda.

Artigo de Paul Krugman, economista, professor da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times. Ganhou o prêmio Nobel de economia de 2008. Artigo publicado ontem no NYT.

Yeda Crusius não é mulher


Baú do DG

Pelo andar da carreta o futuro governo tucano no RS ficará entre a comédia e a tragédia. Uma campanha que foi teatro puro, não poderia ficar distante das duas expressões do mais genuíno espetáculo cênico.

O novo jeito de governar está se revelando um amontoado de lugares comuns, trivialidades sub e pré-políticas, arranjo de cupinchas, recompensa por serviços ignorados, retórica da aranha, projetos do baralho e do barão (de Münchausen), e, para arrematar um desavergonhado tarifaço - segundo especula a insuspeita (neste caso) Rosane de Oliveira, hoje em ZH.

Os misóginos de sempre que não fiquem tripudiando sobre as mulheres, genericamente.
Parem lá!

Yeda Crusius é mulher só do ponto de vista morfo-biológico.
Cultural e politicamente pensa com cabeça de homem, branco, semialfabetizado no varejo da subpolítica, formado no balcão encardido do neoliberalismo de ocasião, potente só na retórica que oculta o pensamento antidemocrático e antipopular.

Simone de Beauvoir dizia que as fêmeas humanas não nascem mulher. Mulher, para a autora de "O Segundo Sexo", é uma condição cultural (não somente biológica), sobretudo política, que resulta de muita luta e quebra dos paradigmas machistas e burgueses. Mulher, pois, não nasce mulher, forma-se na práxis de mulher.

Já se vê, então, que Yeda não é mesmo mulher - nem nunca será. Por enquanto, é apenas uma sombra feminina que ameaça a cidadania gaúcha.

Post publicado neste blog DG em 19 de dezembro de 2006, uma terça-feira. A governadora Yeda assumiu o Estado em janeiro de 2007.
Foto: fase agressiva da governadora, mas ela mudou, hoje, interpreta o açucarado papel de vítima, quer ser o cristo-sangrando-na-cruz do Piratini, com a generosa mão da amiga autoajudadeira Lya Luft.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

RBS segue nos bisbilhotando


O que querem aqui, por mais de 48 minutos?

Aqui não tem business, não tem dinheiro, não tem notícia, nada para copiar e nem refresco de groselha.

O que querem aqui?

Delegacia de Homicídios


Plano inclinado

Para completar a degradação completa do Rio Grande, a volta ao medievo – que por aqui nunca existiu: a direita guasca já começou a fazer política com taças envenenadas e longos punhais assassinos.

Nem Shakespeare daria conta.

A cartinha de Yedinha




Uma peça de propaganda mal ajambrada

Acabei de ler a carta da governadora Yeda Rorato Crusius ao colunista de ZH, Paulo Sant’Anna. Para além da forma e do conteúdo, trata-se de uma peça de propaganda da governadora. Senti o dedo subliterário da “escritora” Lya Luft ali naquela carta, uma vez que são amigas declaradas e merecedoras dos mútuos afetos. O texto tresanda a magnólia de plástico – exagerado, doce, artificial e brega. Pinga açúcar de cada parágrafo e as moscas adoram.

Yeda Rorato Crusius chapinha na própria vulgaridade. Na carta, num dado momento, perde o senso de lealdade e companheirismo aos seus, classificando-os de “caídos”, e que o seu grupo de colaboradores “desafinou” e “desmanchou”. Yeda não informa quem inspirou esse estado de decadência – apontado por ela mesmo – em seu governo, um admitido underground guasca do Piratini.

A psicanálise-magnólia de Yeda não tem olhos para si, só para o Outro. O inferno são os outros, já disse o filósofo.

Infeliz Rio Grande, ainda tem que conviver com essa brutalidade por mais 22 longos meses. Haja pâncreas!

Conto mínimo


Enquanto isso...

Na Sala de Justiça, a juíza pergunta para a prostituta:

- Quando você percebeu que havia sido estuprada?

A prostituta, secando os olhos:

- Quando o cheque voltou, doutora!

Esclarecimento necessário: isso é pura ficção, qualquer semelhança com as metafóricas prostitutas enganadas de certos partidos de direita é mera coincidência.

Itamaraty diz que não deve desculpas à Suíça


TV Globo envolveu o País num imbróglio internacional

O governo brasileiro não cogita pedir desculpas à Suíça por ter levantado suspeitas de xenofobia no suposto ataque à brasileira Paula Oliveira, no último dia 8, em Zurique. “Não há razão para pedir nenhuma desculpa. O que dissemos é que queremos que haja uma investigação e que, se houver culpados, que sejam eventualmente punidos”, afirmou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. A informação é da Agência Brasil.

Paula alega ter sido agredida por neonazistas que teriam tatuado em sua pele, com estilete, a sigla SVP, Partido do Povo Suíço. A versão gerou reação imediata do governo brasileiro. Amorim chegou a dizer que todos os indícios apontavam para “motivações xenofóbicas”.

A polícia suíça, no entanto, contestou a tese e alegou auto-mutilação da brasileira. No último sábado (14), o vice-presidente do SVP, Yvan Perrin, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve um pedido de desculpas à Suíça.

“Nossa principal preocupação é proteger uma cidadã brasileira no exterior e é o que estamos tratando de fazer com todos os meios de que dispomos”, justificou Amorim.

Amorim foi questionado sobre a hipótese de a polícia suíça estar correta e a advogada brasileira ter forjado o ataque por problemas psicológicos. Nesse caso, segundo ele, o Brasil fará um “apelo no sentido humanitário” ao governo suíço. “Há uma diferença muito grande em quem faz algo por um objetivo qualquer de escandalizar ou de criar um problema ou quem faz isso porque teve um problema psicológico, um desequilíbrio”, afirmou.

O ministro também demonstrou preocupação quando ao aumento do preconceito contra imigrantes num momento de recessão internacional. “Naturalmente, quando há uma situação ruim, sempre se busca um bode expiatório e o bode expiatório muitas vezes pode ser o imigrante”, alertou.

.....................

O ministro Celso Amorim não refere quem levantou a ponta deste novelo indigesto, a TV Globo, obedecendo apenas o apetite comercial e fabulatório de seu jornalismo de resultados, tendo optado por seguir o rastro de um alarme falso, originado de uma pessoa com perturbações que não nos compete examinar.

Está aí, como comentamos ontem, a emissora da família Marinho conseguiu envolver o País num imbróglio internacional motivado por uma barriga irresponsável e perigosa.

Os fenômenos da intolerância étnica e o chauvinismo ideologizado são fortes e crescentes na Europa, mas não é divulgando notícias falsas que a Globo ficará atualizada com os problemas sociais do mundo contemporâneo. Existem centenas de milhares de brasileiros na Europa, EUA e Japão que certamente passam por dramas sociais, políticos e psicológicos muito mais efetivos e severos do que a advogada pernambucana em Zurique.

Eu diria que a Globo acertou o objeto mas errou o sujeito da história. Talvez um problema derivado da pouca prática no trato das questões sociais. Acontece. Se compreende, mas não se admite.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Que culpa tenho de ser alta, inteligente e bonita?


Eugênio Neves

Esta foi plagiada



O ótimo guitarrista Joe Satriani afirma que o Coldplay plagiou-o com a canção Viva La Vida (que vocês escutaram aqui sexta-feira passada). Escutem agora o If I could fly, do Satriani.

Tem – de fato – uma frase musical inteira chupada do guitarrista solo. Mas e daí?

Universidade pública só admite software proprietário


Inacreditável! Inacreditável! Inacreditável!

Dando uma volta pelo portal web da Editora/Livraria/Biblioteca da UFRGS me deparei com isso, um selo com uma logomarca comercial da Microsoft e uma advertência, quase uma ameaça: Compatível somente com Internet Explorer (Windows).

Faltou o alerta: Fora! Não se atreva!

A UFRGS é uma Universidade pública federal, por que só admite software proprietário e navegador do senhor Bill Gates? Qual o problema de admitir o sistema Linux e o navegador Firefox? Por acaso a Microsoft exige essa postura antipática com o usuário/estudante? A Universidade pública oferece alguma contrapartida em troca de vantagens na adoção do sistema proprietário? O MEC já tomou conhecimento dessa situação excludente e intolerante na UFRGS?

São questões para as quais eu gostaria de obter respostas, eu e os 24 mil estudantes da Universidade.

A barriga suíça da Rede Globo


Quem vai responsabilizar a TV Globo?

Todos os dias em todos os quadrantes do globo, os paranóicos, os mitomaníacos e até os meros balaqueiros insistem em aparecer de alguma forma na grande mídia. Mas a grande mídia tem filtros para evitar essa gente. A grande mídia tem fórmulas e métodos para validar o ficcionista da maior originalidade. A grande mídia não divulga nada que não seja objeto de cuidados profissionais, sempre visando evitar o terrível erro – a barriga jornalística – a notícia publicada e depois desmentida pelos fatos.

A grande mídia, sim, mas a Rede Globo de Televisão, não. Tanto que semana passada a cadeia de TV de maior audiência no Brasil deu uma barriga de proporções históricas no jornalismo brasileiro. Divulgou em primeira mão a história de uma moça brasileira que teria sido atacada com violência por neonazistas na Suíça e que, ato contínuo, esta mesma moça teria perdido os gêmeos de três meses de gestação. As perícias da polícia suíça têm desmentido a história contada pela suposta vítima, e com isso cresce o tamanho da barriga global.

Não se trata agora de avaliar os motivos da pessoa supostamente vítima de neonazistas, mas de responsabilizar a TV Globo pela divulgação de uma notícia falsa em nome de sensacionalismo vulgar e audiência a qualquer preço. Mas quem fará isso? O jornalismo irresponsável da Globo envolveu de forma precipitada as próprias relações internacionais do Brasil com a Suíça, deixando numa situação embaraçosa a representação brasileira em Berna.

Até o momento, se ignora que a direção da Rede Globo tenha pedido desculpas à população brasileira e suíça pela divulgação de notícia falsa, reiteradas vezes e em horários de maior audiência.

A crise será profunda e prolongada


Os períodos históricos de crises são também períodos de mudanças

Passaram-se alguns meses do desencadear da crise do capitalismo internacional, tendo seu epicentro no capital financeiro e na economia dos Estados Unidos. Agora já temos mais elementos para compreender de que será prolongada, profunda e atingirá a todas economias periféricas. Inclusive o Brasil.

Muitas análises já se publicaram na academia e nos meios de comunicação. Há posições de todas os matizes e correntes ideológicas. E todas convergem no diagnóstico. É uma crise profunda, pior do que a crise de 29. Atingirá a toda a economia mundial, cada vez mais internacionalizada e controlada por menos de 500 empresas. Será pior, porque combina uma crise econômica, financeira (de credibilidade das moedas), ambiental, ideológica, pela falência do neoliberalismo, e política, pela falta de alternativas apresentadas pela classe dominante, no centro ou pelos governos da periferia.

Na história das crises do capitalismo, as classes dominantes, proprietárias do capital, e seus governos , adotaram um mesmo receituário para sair delas.

Primeiro, precisam destruir parte do capital (super-acumulado e sem demanda) para abrir espaço a outro processo de acumulação. Nos últimos meses já foram torrados mais de 4 trilhões de dólares, em papel moeda.

Segundo, apelam para as guerras. Como forma de destruir mercadorias (armas, munições, bens materiais, instalações) e como forma de eliminar a tensão social dos trabalhadores. E, de certa forma eliminam também o exército industrial de reserva. Foi assim, na Primeira e a Segunda Guerra Mundial. E depois na Guerra Fria. Agora, com medo da bomba atômica, estimulam conflitos regionais. Os ataques de Israel ao povo palestino, as provocações na Índia, as ameaças ao Irã, estão dentro dessa estratégia, também. Aumentar os gastos militares e a destruição de bens.

Terceiro. Aumentar a exploração dos trabalhadores. Ou seja, nas crises, baixam os salários médios, rebaixam as condições de vida e portanto de reprodução da força de trabalho, para recuperar as taxas de mais-valia e de acumulação. Daí também, o desemprego ampliado, que mantêm multidões sobrevivendo apenas com cestas básicas, etc..

Quarto. Há uma maior transferência de capital da periferia para o centro do sistema. Isso é feito pela transferência direta das empresas para suas matrizes. Através da manipulação da taxa de cambio do dólar, do pagamento de juros e da manipulação de preços das mercadorias vendidas e compradas na periferia.

Quinto. O capital volta a usar o Estado como o gestor da poupança da população para deslocar esses recursos em beneficio do capital. Portanto, os capitalistas voltam a valorizar o Estado, não como zelador dos interesses da sociedade, mas como capataz do seus interesses , para usar o poder compulsório e assim recolher o dinheiro de todo mundo, através de impostos e da poupança depositada nos bancos, para financiar a saída da crise.

Estamos assistindo à aplicação dessas medidas clássicas todos os dias, registradas na imprensa. Aqui no Brasil, no centro do capitalismo e em todo o mundo.

Mas, como em tudo na vida, sempre há contradições, para cada ação do capital, do governo, etc. haverá contradição, que a sociedade e os trabalhadores sentem e podem se aproveitar delas, para mudar a situação.

Os períodos históricos de crises são também períodos de mudanças. Para o bem ou para o mal. Mas haverá mudanças! As crises abrem brechas e recolocam o posicionamento das classes na sociedade. No Brasil, ainda estamos apáticos, amorfos, desanimados, assistindo pela televisão a descrição dos sintomas da crise chegando aqui. Quase não houve reação ou comentários aos quase 800 mil trabalhadores que perderam seus empregos somente em dezembro de 2008. Não há comentários para a pesquisa do IPEA que identificou entre as 17 milhões de famílias pobres do Brasil do cadastro geral de benefíciários do governo, que 79% deles estão desempregados! E por receberam algum beneficio não procuram mais empregos, e saem até das estatísticas.

É fundamental que os setores organizados da sociedade, em todas as formas existentes, seja nas igrejas, nos sindicatos, nos colégios, escolas, Universidades, na imprensa e movimentos sociais, partidos, tomemos uma atitude. E a primeira atitude é debater a natureza e as saídas para a crise, do ponto de vista dos trabalhadores e da maioria. É urgente estimularmos todo tipo de debate, em todos espaços. É louvável a iniciativa da TV Educativa do Paraná, de estimular esse tipo de debate público. Mas ainda é insuficiente. A crise será longa e profunda. Precisamos envolver o maior número possível de militantes, homens e mulheres conscientes, para que debatam a situação e possamos construir coletivamente alternativas populares. Sem a mobilização e a luta social, não haverá saída para o povo. Somente para o capital.

Artigo de João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Viva La Vida

Como diz o Coldplay nesta canção, “eu sei que são Pedro não chamará o meu nome”.

Me escrevem dizendo que o blog está muito careta, que faz tempo que não se ouve música por aqui, etc. Tem razão, meu filho. Vamos tornar a vida mais leve, já chega o peso que todos los momias nos colocam nas costas a cada dia.

Viva la vida!

Sindicalistas fazem mobilização exitosa contra Yeda


Reação do Piratini e da mídia amiga indicam sucesso dos protestos

Repercute no centro do País a mobilização de sindicatos do Rio Grande do Sul contra o atrapalhado governo de Yeda Rorato Crusius no Estado. A informação abaixo é da Agência Folha.

Dez sindicatos de servidores lançaram ontem uma campanha publicitária em que acusam a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), de corrupção.

Com máscaras reproduzindo o rosto de Yeda e até um "samba enredo" criticando a tucana, cerca de 500 funcionários públicos protestaram ontem nas ruas de Porto Alegre. Eles carregavam placas com palavras como "corrupção" e "autoritarismo" e "mentira".

Antes de ser apresentada, a campanha já havia gerado polêmica porque 300 outdoors foram espalhados pelo Estado prometendo apresentar a "face da corrupção" - o que levou o governo a ameaçar processar os responsáveis e empresas de mídia que veiculam a campanha por danos à imagem de Yeda.

A ameaça surtiu resultado: nos novos outdoors, que serão instalados no fim de semana, a palavra "corrupção" foi substituída por "destruição".

"Estamos mostrando de quem é o rosto da corrupção e do autoritarismo, é nossa forma de denunciar os equívocos deste governo", disse a Rejane de Oliveira, presidente do Cpers (sindicato dos professores estaduais do Rio Grande do Sul), ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Nem a sindicalista nem a agência de publicidade contratada revelaram quanto custou a campanha. A Folha apurou que R$ 100 mil foram gastos até agora com pelos sindicatos.

O governo disse que vai acionar judicialmente os sindicatos. "A esfera agora é a judicial. Os sindicatos encerraram o debate radicalizando quando usaram a palavra 'corrupção'. É uma agressão brutal", disse o líder de Yeda na Assembleia Legislativa, Pedro Westphalen (PP).

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O movimento anti-Yeda no RS já não era sem tempo. Os sindicalistas apenas estão reagindo – talvez tardiamente – a uma caricatura de governo que ainda não disse a que veio. Salvo que tenha como propósito principal desmanchar a máquina pública, descumprir com as funções públicas mais elementares, endividar-se em dólar, e abrir as portas do Estado para a infestação de epidemias próprias da era medieval. Sem falar em corrupção nos órgãos estatais, confessados pelo próprio chefe da Casa Civil ao vice governador, repressão policial, autoritarismo, irresponsabilidades ambientais, gerenciamento apenas vegetativo das obrigações estatais, boçalidades e vulgaridades no trato da representação institucional, etc.

A julgar pela reação do Piratini (e sobretudo da mídia amiga), a campanha dos sindicalistas foi – está sendo – de pleno sucesso.

Eu só teria uma singela objeção: a palavra de ordem "fora-Yeda" é tardia e não está amparada por necessários e suficientes suportes jurídicos que lhe dêem consequência prática. Ademais, penso que neste caso o professor Cardoso tem razão quando propunha a política do deixa-sangrar-lentamente (referindo-se então ao presidente Lula, durante a crise de 2005, quando a direita cogitava do impeachment). O governo Yeda deve sim esvair-se demoradamente na borra estéril de sua própria inutilidade.

Parodiando o maior poeta brasileiro vivo, Manoel de Barros, eu diria que o cu de uma formiga é (muitíssimo) mais relevante que todo o governo Yeda Rorato Crusius.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Querem fazer história, mas a desconhecem completamente


O artigo do presidente da Assembléia

Trecho inicial do artigo do deputado Ivar Pavan (PT), presidente da Assembléia Legislativa/RS, publicado hoje no jornal Zero Hora:

"Mesmo que o Brasil esteja muito melhor preparado para as turbulências da economia mundial, estamos sentindo os reflexos da crise, manifesta na perda de empregos, encolhimento dos orçamentos de municípios, Estados e União e na redução da atividade produtiva em vários setores.

Mas temos que observar o seu simbolismo. Ela tem o mesmo caráter e significado da queda do Muro de Berlim, há duas décadas, que simbolizou a decadência de um modelo. O desmoronamento do estatismo total criou condições para o ressurgimento do modelo neoliberal, do mercado total como alternativa exclusiva de desenvolvimento". [...]

O deputado petista, agora presidente do legislativo estadual, precisa cuidar melhor o que diz e escreve, não pode ser tão superficial e impreciso no tratamento de temas importantes como a presente crise do sistema capitalista.

Não é verdade que a presente crise estrutural tenha o mesmo caráter e o mesmo significado que a queda do muro de Berlim – metáfora consagrada para a derrocada do chamado socialismo de Estado da URSS e seus satélites. Também é temerário afirmar que o “desmoronamento do estatismo total criou condições para o ressurgimento do modelo neoliberal”.

Vejam que existem equívocos dentro de equívocos, no texto do deputado petista, como aquelas bonequinhas babushkas do folclore russo. Como assim, “ressurgimento do modelo neoliberal”? Equívocos de segundo grau, de terceiro grau. Quando mesmo existiu outro modelo neoliberal, antes do atual ter chance de “ressurgir”, como assegura o presidente da AL?

Se o parlamentar petista deixasse um pouco a retórica de lado e estudasse mais, saberia que
a derrocada da URSS & satélites foi a primeira grande crise verdadeiramente estrutural do capitalismo, que chamam também de "sociedade do valor". O socialismo de Estado nada mais foi do que uma variante da sociedade do valor, portanto, galho frondoso da mesma árvore contaminada do capitalismo velho de guerra. O fim da Guerra Fria prenunciou o ocaso da concorrência entre os dois blocos (EUA versus URSS) da lógica do valor, porque a própria sociedade concorrencial também apresentava esgotamento sistêmico, face a crescente hegemonia globalitária do capital financeiro, depois cognominado de neoliberalismo.

A Guerra Fria já tinha servido como ponto de fuga para as crises fiscais e crises de legitimidade dos dois concorrenciais blocos hegemônicos, na segunda metade do século 20. Uma fuga desabalada para o futuro, fugindo do inferno das contradições. Quando o conflito se debilita, porque enfraqueceram seus pressupostos de sustentação e conveniência geoestratégica, o sistemão desliza para a solução neoliberal – com a grande mão generosa da ruína do Leste europeu. Portanto, não foi a chamada queda do muro que fomentou o neoliberalismo – não existe relação de causa e efeito entre esses processos históricos, como quer o petista, que mesmo passadas quase três décadas dos acontecimentos ainda não teve tempo de compreender os seus motivos e consequências.

Na “Questão do Método”, Sartre alertou para uma das grandes tragédias do nosso tempo, ele dizia que o grave é que muitas vezes os sujeitos que querem fazer história, comumente não a conhecem como deveriam.

Vamos ler/estudar mais, presidente Pavan!

Coisas da vida.

O capitalismo de desastre e os predadores de ovelhas


“A informação é uma arma de resistência”

Depois de levar o Urso de Ouro em 2006 por “O Caminho para Guantánamo”, a dupla de diretores formada por Michael Winterbotton e Mat Whitecross, volta ao Festival de Berlim com um novo e controverso projeto que articula a história recente através da implantação do neoliberalismo no mundo.

Baseado no best seller da ativista Naomi Klein, “A doutrina do choque - A ascensão do capitalismo de desastre” [Editora Nova Fronteira, 2008, 598 páginas. Preço por volta de 80 reais.], este work in progress exibido fora do concurso [do Festival de Berlim] analisa a implantação das teorias do livre mercado formuladas pelo Prêmio Nobel Milton Friedman.

O filme mostra como as crises sociais facilitam a entrada em vigor de medidas econômicas impopulares, ao tirar proveito da anulação da vontade dos cidadãos. Chile e Argentina, as ditaduras de Pinochet e Varela aparecem num filme que também examina a Inglaterra grevista de Thatcher ou a Rússia neoliberal. O epílogo retoma o 11-S e a reconstrução do Iraque, e finaliza com certa esperança: a posse de Obama e uma chamada de Naomi Klein à mobilização.

O diretor britânico Michael Winterbotton concedeu uma entrevista publicada no jornal espanhol Público, de ontem (ver aqui). Abaixo, trechos da entrevista do diretor Winterbotton.

Não teme que o filme seja desqualificado como pura teoria da conspiração?
Não, “A doutrina do choque” traz informações para que cada qual decida se este é o mundo em que quer viver, dado que a ideologia dominante se converteu no estado natural das coisas. O livre mercado se assumiu como idôneo e, por isso, as corporações privadas administram os recursos do Estado. A crença é que democracia e liberalismo caminham de mãos dadas; mas, se analisados os exemplos, não é bem assim.

Você estabelece uma relação causal entre as declarações de Donald Rumsfeld contra os burocratas contrários às ideias da Escola de Chicago e a morte de alguns deles no Pentágono durante os atentados do 11-S.
Obviamente, estes fatos são certos, mas não estamos afirmando que Rumsfeld assassinou as vozes dissidentes. Faz parte de uma forma dinâmica de relatar os fatos e, ao mesmo tempo, de ser provocativo para que as pessoas reflitam.

Era sua intenção satanizar Milton Friedman?
Ele teve a ideia de que em momentos de crise era mais simples aplicar suas políticas neoliberais. A questão é que, se pensava que era uma forma de melhorar a vida de toda a população, fracassou. Se era a justificativa para que os endinheirados enriquecessem mais e as multinacionais se tornassem mais fortes, acertou. O documentário explicita quais são as consequências de sua tese, já que a informação é uma arma de resistência.

Por que pensa que não ocorreu a ninguém antes analisar a história a partir deste ponto de vista?
O livro de Klein demonstrou ser visionário. Esta crise é tão devastadora e está tão vinculada à desregulamentação do mercado e à falta de controle estatal que vai abrir um debate. Mas o que acontecerá mesmo vai depender da capacidade de mobilização das pessoas e da participação na discussão mundial. [...]

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No livro da escritora Naomi Klein, “A doutrina do choque”, ela conta que o velho Milton Friedman, então com 93 anos, por ocasião das enchentes de New Orleans em agosto de 2005 (ele morre em novembro de 2006), brilhava os olhos quando cogitava que depois daquela tragédia humana e ambiental seria necessário um esforço de investimento na reconstrução da cidade.

O velho inspirador da ideologia do "predadorismo", dizia:
- Existem centenas de escolas que precisam ser reconstruídas! – aludindo as chances de muitos negócios a partir do furacão Katrina.

Como se diz na Campanha guasca, “cachorro comedor de ovelha, só matando”.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O tenente que ficou milionário


Deputado do DEM foi torturador durante a ditadura civil-militar

O cinismo do PIG (Partido da Imprensa Golpista) é mesmo de amargar. Há dez dias, estamos contando, trata dia e noite do caso do deputado do castelo do interior de Minas Gerais. Trata como espetacularização demagógica e moralista daquilo que vai ao encontro do que o senso comum pensa da política e dos políticos profissionais. Opera num registro simbólico que visa desconstituir a função pública como um todo, porque não identifica precisamente a origem e a extração do sujeito em pauta. A identificação perfeita e delimitada do verdadeiro deputado-castelão não interessa, de fato. Omite, portanto, de informar a ficha completa do deputado Edmar Moreira (DEM-MG), hoje, dono de uma nebulosa empresa de segurança.

Edmar Moreira, antes de tornar-se empresário bem sucedido e parlamentar do Democratas (ex-PFL), foi um destemido tenente do Exército, torturador de presos políticos junto aos órgãos de repressão de Minas na década de 70.

Coisas da vida.

Foto: fac-símile do material promocional do complexo turístico do ex-torturador mineiro que está na web, chama-se "Castelo Monalisa".
Clique na imagem para ampliá-la.

Petrobras quer contratar consultoria tucana


Infiltração serrista visa desestabilizar candidatura da ministra Rousseff

A Petrobras está em processo de contratação de uma consultoria formada pela tucanagem das mais emplumadas e bicudas. Trata-se do Cebri - Centro Brasileiro de Relações Internacionais, cujo presidente de honra é o professor Fernando Henrique Cardoso e abriga “pensadores” tucanos como Bolívar Lamounier, embaixador Botafogo, embaixador Lampréia, Pedro Malan e outros personagens edificantes do entreguismo brasuca.

O portal do Cebri informa que a instituição está voltada para o estudo e a discussão de temas de política internacional, assim:

“O Centro foi concebido com a finalidade de ser um dos mais importantes think tanks de políticas públicas na área externa do País. A Missão do Centro é criar um espaço para estudos e debates, onde a sociedade brasileira, em particular organizações da sociedade civil atuantes na área internacional, possam discutir temas relativos às relações internacionais e à política externa, com conseqüente influência no processo decisório governamental e na atuação brasileira em
negociações internacionais”.

Nos Estados Unidos existem dezenas de instituições dessa natureza e propósito, que procuram cobrir todo o espectro das políticas públicas, estatais e não-estatais. O Cebri é um plágio verde-amarelo dessas organizações – também chamadas de think tanks – formadas por ex-ocupantes de cargos públicos e acadêmicos com veleidades políticas e/ou negociais manifestas.

Eles estão para ser contratados pela Petrobras para produzir documentos de avaliação do panorama da política internacional para a gerência de estratégia da Petrobras, visando a orientação de negócios e perspectivas de mercado internacional.

Hoje, sabe-se que a Petrobras tem três focos principais de atritos externos, entre outros: Equador, Bolívia e Angola. A consultoria do Cebri certamente vai indicar o caminho do esgarçamento da tensão nos negócios da estatal com aqueles países, portanto, na contramão das orientações diplomáticas do Itamaraty e do próprio Palácio do Planalto. A ação do Cebri vai provocar mais contradições entre a empresa estatal de energia e o centro de governo, favorecendo, assim, as pretensões serristas de um lado, e de outro, o condomínio dos petistas, não-petistas, dirceuzistas e ressentidos de todo o gênero, que não admitem a candidatura da ministra Rousseff à sucessão do presidente Lula, ano que vem.

Em Tempo: Em recente programa de televisão, um dos salientes sábios do Cebri não escondeu o que pensa sobre a política externa do Brasil. Para o ilustre tucano, ao governo Lula não cabe desenvolver uma política externa autônoma e independente, isso é prerrogativa – segundo ele – de países estratégicos, como EUA, Inglaterra, União Européia, o Brasil tem que seguir de forma pragmática aquelas grandes diretivas desses países de economia central.

Este é, pois, o perfil dos doutos consultores que a Petrobras está incluindo no seu portfólio de parceiros e colaboradores. Certamente, todos patriotas abnegados e vultos gigantes do civismo desinteressado.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Adão Pretto (1945-2009)


Um forte que fez forte os seus irmãos

Semana passada, quando morreu o lutador Adão Pretto eu não estava em Porto Alegre e não pude comparecer ao seu velório e enterro no cemitério Jardim da Paz. Sempre admirei o Adão à distância, votei nele sempre, acho que ele nem sabia disso, porque também não é muito importante, afinal.

Hoje à tarde, quando a Assembléia estadual fez uma homenagem à sua memória e não podendo comparecer, fiz um esforço para assistir na TV Assembléia a sessão especial dedicada ao eterno pequeno agricultor de Miraguaí e líder político de primeira grandeza.

Vários deputados de todas as bancadas com representação no legislativo estadual se manifestaram. Disseram aquelas coisas de praxe que se diz nestas ocasiões, o básico do básico que se pode dizer de alguém inatacável e que foi um bravo na luta pela emancipação do pequeno agricultor e pela dignidade cidadã dos sem-terras. Concluí que é fácil falar de Adão Pretto (foto), o difícil é medir com a régua justa o tamanho da sua grandeza.

Finalmente, quero protestar contra alguns deputados, inclusive um do PT, vejam só, que referiu-se a ele como um “humilde”.

O senso comum acha que é bonito ser humilde, ter humildade. A ideologia criou e estimulou esse mito moral para assegurar a obediência passiva e o bom comportamento individual à ordem hegemônica.

O dicionário nos assegura, porém, que humilde é aquele que “manifesta sentimento de fraqueza”. Adão Pretto nunca foi um fraco, foi um forte e fez forte os seus irmãos de luta. O dicionário aponta, entretanto, que humilde é aquele que está “inferiormente situado em uma hierarquia ou escala”. Adão Pretto nunca esteve paralisado de maneira inferior ou submissa a nenhuma hierarquia. O dicionário ensina, contudo, que humilde é aquele indivíduo que “expressa ou reflete deferência ou submissão”. Adão Pretto nunca se submeteu a nada ou a ninguém, apenas e exclusivamente ao que ditava sua consciência cidadã sobre ideais de autonomia e liberdade.

Viva Evo



Evo não traiu as expectativas de mudança que nele foram depositadas, nunca foi uma metamorfose ambulante

A construção da unidade continental é um sonho que esteve presente na vida e na obra dos melhores intelectuais, lutadores e estadistas da América do Sul, mas nunca se realizou. Muitas causas contribuíram para essa frustração.

Durante a maior parte da nossa história, fomos economias primário-exportadoras, cujos centros dinâmicos ligavam-se diretamente com o exterior e eram comandados de lá. A infraestrutura unia regiões exportadoras aos portos, e estes, diretamente, à Europa ou aos EUA, de onde importávamos produtos industriais. As elites locais articulavam-se muito mais fortemente com os centros estrangeiros do que com suas próprias sociedades. Além disso, permaneceu existindo um vazio econômico e demográfico no coração do continente, na região amazônica e em sua extensa periferia, onde predominavam atividades extrativistas dispersas. As distâncias interiores eram quase intransponíveis.

Esses obstáculos deixaram de existir. Dos esforços desenvolvimentistas do século 20 herdamos economias mais industrializadas, capacidade técnica mais desenvolvida e mercados internos mais fortes, além de uma incipiente rede de infraestrutura voltada para efetuar ligações internas. E o papel da Amazônia mudou. No século 21, ela terá de constituir a base geográfica de um novo projeto comum de cooperação e desenvolvimento, capaz de garantir o nosso controle sobre recursos estratégicos -como água doce, biodiversidade, fontes de energia e minerais-, além do domínio pleno das biotecnologias.

Isso não é suficiente para que o projeto continental prospere. Falta uma ideia clara da nossa identidade coletiva. A história produziu diferenciações importantes. No Brasil, na Venezuela, na Colômbia, no Chile e na Argentina, predominaram povos novos, formados já no mundo moderno pela mistura de grupos humanos originários da própria América, da Europa, da África e até da Ásia, usados como força de trabalho pelo capitalismo europeu. No Peru, no Paraguai e no Equador, predominaram povos herdeiros das civilizações pré-colombianas; mesmo espoliados pela invasão europeia, preservaram línguas, costumes, formas de organização social, crenças e valores.

A Bolívia ocupa um lugar especial. Não é apenas o centro geográfico do continente. É também o principal lugar de encontro desses dois grandes contingentes humanos. Por isso, sempre esteve sob ameaça de desagregação. Até recentemente cresciam as tensões separatistas. A nova Constituição, recém-aprovada, concluiu com êxito uma fase fundamental do rico debate sobre a refundação do país. Mais de 90% dos bolivianos foram às urnas, e mais de 60% votaram sim. As posições da maioria prevaleceram, mas nem por isso as minorias foram esmagadas: suas reivindicações foram levadas em conta, o que reforça a legitimidade do novo arranjo político e institucional.

Durante todo o tempo, mesmo agindo sob forte pressão, o presidente Evo Morales destacou-se como grande estadista, firme nos princípios, mas pacificador e aberto ao diálogo. Seu governo deixará um legado histórico, com o reconhecimento pleno dos direitos das populações originais. Os recursos naturais serão nacionalizados e, daqui para a frente, nenhuma propriedade rural poderá ser registrada com mais de 5.000 hectares.

Evo não traiu as expectativas de mudança que nele foram depositadas. Nunca foi uma metamorfose ambulante. A Bolívia reformada, democrática e unitária mostra que a unidade dos povos sul-americanos é uma proposta possível e necessária. Um continente que pode ser facilmente superavitário na produção de alimentos e de energia não pode aceitar a pobreza de suas populações e a condição periférica no mundo.

Artigo de Cesar Benjamin, publicado na Folha, em 07/02/2009, sábado passado, dia em que foi promulgada a nova Constituição popular da Bolívia.

Fotos: população boliviana comemora a promulgação da nova Constituição do país, sábado passado.

Clique nas imagens para ampliá-las.

RS: deficit zero e leishmaniose


Os outros nomes do deficit zero yedista

Um homem de 31 anos teve confirmado ontem, em São Borja (RS) o primeiro caso de leishmaniose viceral em seres humanos no Estado.

O paciente está internado na UTI do Hospital Ivan Goulart. A leishmaniose é provocada por um protozoário transmitido por mosquitos flebotomíneos.

A informação é do insuspeito (neste caso) jornal Zero Hora, de hoje. A notícia ocupa um espaço mínimo na página 28 (editoria de Geral), fac-símile acima.

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O Rio Grande do Sul está em franco processo de regressão social, educacional e de saúde pública. Mas o governo tucano da governadora Yeda Rorato Crusius proclama que o deficit zero foi atingido graças a blablablablá.

Se a governadora fosse sincera, diria que o deficit zero foi alcançado contabilmente porque o Estado descumpre com as suas funções públicas mais elementares como na saúde pública, por exemplo.

Antes de o tucanato abater o RS desconhecíamos a dengue, a febre amarela e a leishmaniose. Hoje, essas doenças endêmicas de regiões remotas ou muito desassistidas são uma ameaça pública imediata no Rio Grande do Sul.

Para que essas endemias se propaguem, são necessários dois movimentos combinados:

1) desinteresse econômico dos laboratórios farmacêuticos, que abandonam o pipeline de pesquisa dessas moléstias arcaicas em favor de linhas de investigação científica mais rentáveis, de olho nos indicadores das bolsas de valores e nas exigências de rentabilidade de seus acionistas e investidores;
2) desinteresse das autoridades públicas locais ou regionais para as políticas de prevenção e erradicação dos vetores de propagação das endemias, bem como a ausência de políticas públicas integradas nas áreas da saúde, saneamento, habitação, educação ambiental, planejamento urbano, etc.

Daqui para frente, não nos espantemos se o Estado for assolado por zoonoses e endemias típicas da era medieval, como: doença de Chagas, malária, toxoplasmose, leptospirose, hanseníase, raiva, tricomoníase, giardíase, escorbuto e peste bubônica.

Esses são os outros nomes do famigerado deficit zero da tucana Yeda Rorato Crusius.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ninguém é suspeito impunemente


O Estado (fascistizante) italiano contra Cesare Battisti

Para bem além do mero caso judicial que representa, o caso Cesare Battisti acabou provocando duas reações latentes e que surpreendem pelo arcaísmo de ambas: a) desafios insolentes do governo de direita da Itália à própria soberania brasileira, como que revivendo as relações subalternas e coloniais havidas no século 19 da Europa com a África e a própria América do Sul; b) o novo frescor das velhas consignas anticomunistas da Guerra Fria, agora com linguagem aggiornata a um jurisprudencialismo de ocasião.

O senhor Cesare Battisti é ou foi, sabidamente, um esquerdista, categoria pré-política muito bem definida por Lênin, e sobre a qual pesam débitos de muitos erros e infantilidades da militância voluntarista no mundo todo. Não quero tratar do indivíduo Cesare Battisti, em especial, mas do que ele representa como sujeito político - vá lá - de esquerda, hoje.

Para tanto, vou me valer das lições de Michel Foucault, em aula no Collège de France em 8 de janeiro de 1975, sobre a relação entre Verdade-Justiça e os mecanismos de poder. O pensador francês estuda e apresenta com muita originalidade o que chama de tecnologias de poder que utilizam discursos de verdade para definir as motivações da prática delituosa e a matéria punível. Um dos pressupostos mais imediatos e mais radicais do discurso judiciário é o de que existe uma pertinência, diz Foucault, essencial entre o enunciado da verdade e a prática da justiça.

Neste ponto, então, se cruzam duas ordens institucionais que reforçam de forma combinada os seus estatutos de discursos verdadeiros. Tanto o judiciário, quanto os saberes médicos, psi, e científico em geral criam padrões de normalidade que acabam pautando comportamentos existenciais de todos (ou quase todos) os indivíduos numa dada sociedade. Estão excluídos da "normalidade" atribuída os indivíduos que apresentarem traços como: imaturidade psicológica, personalidade pouco estruturada, má apreciação do real, compensação, produção imaginária, profundo desequilíbrio afetivo, jogo perverso, donjuanismo, bovarismo (representar o que não se é), etc. E claro, não poderiam faltar, as “anormalidades” desviantes do homossexualismo e do comunismo.

Assim, o Estado burguês, a partir desses atributos considerados “cientificamente” como anormais, cria personagens em busca de um autor. No caso, o autor Cesare Battisti, por estar representando papéis de personagens desviantes - comunista, desajuizado em face ao real, praticante de pequenos furtos na juventude, militante de organização proscrita, bovarismo, imaginação profícua, indisciplinado recalcitrante - enquadra-se como uma luva no rol das motivações da prática delituosa. Mas ainda falta a prática delituosa em si, o fato criminoso passível de castigo, porque de per si nenhum desses elementos motivadores do espírito criminoso é crime. Ninguém pode ser acusado e condenado por imaginação copiosa ou por desequilíbrio afetivo, por exemplo. Mas um suspeito de crime de morte, se se ajustar de forma concomitante ao figurino (imoral) dos personagens desviantes, logo é um suspeito que não pode passar impune. Assim, “ninguém é suspeito impunemente” - diz Foucault - especialmente se for duramente acusado por testemunha que tenha sido seu ex-companheiro de organização proscrita (mesmo que este tenha obtido os benefícios da delação premiada).

No final das contas, o condenado pela Justiça já não é mais aquele objeto que obedece ao princípio da convicção íntima do juiz, mas o personagem anômalo que acaba de se confundir com o autor-suspeito - um certo comunista, que gosta de transgressão, que já foi capaz de pequenos delitos na juventude, que ama confusão e que não gosta da sociedade cristã, fraterna, democrática que escolhemos para viver. Foi um personagem que foi condenado, não Cesare Battisti.

Casos como esse - de um obscuro esquerdista italiano de quinta categoria - servem para desnudar o simulacro de Direito/Justiça que temos como componente primordial do sistema de poder, assim como os chamados discursos de verdade - a rigor, um vasto rol de empulhações justificadoras das piores injustiças.

Ficam igualmente nus aqueles adventícios da esquerda, como um certo magistrado, colunista de respeitada revista semanal, que, obsessivo, expõe a cada frase seu reacionarismo mais careta, bem como o venerável patrão desta mesma publicação que envereda pelos becos escuros de uma alma ressentida contra o ministro da Justiça do Brasil - que apenas está cumprindo seu dever cívico de dar refúgio a um injustiçado e perseguido pelo protofascismo de Silvio Berlusconi e seus aliados – inclusive os pós-comunistas.


Foto: Presidente Giorgio Napolitano, pós-comunista, e o primeiro-ministro protofascista Silvio Berlusconi. Aliança promíscua na Itália, onde quem manda mesmo é a tchurma fascista.

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