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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Escrito ontem? Não, há mais de cem anos


Um mundo feito de papel

Em um sistema de produção em que toda a trama do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando este cessa repentinamente e somente se admitem pagamentos em dinheiro, tem que produzir-se imediatamente uma crise, uma demanda forte e atropelada de meios de pagamento.

Por isso, à primeira vista, a crise aparece como uma simples crise de crédito e de dinheiro líquido. E, em realidade, trata-se somente da conversão de letras de câmbio em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, compras e vendas reais, as quais, ao sentirem a necessidade de expandir-se amplamente, acabam servindo de base a toda a crise.

Mas, ao lado disto, há uma massa enorme dessas letras que só representam negócios de especulação, que agora se desnudam e explodem como bolhas de sabão, ademais, especulações sobre capitais alheios, mas fracassadas; finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até encalhados, ou um refluxo de capital já irrealizável. E todo esse sistema artificial de extensão violenta do processo de reprodução não pode corrigir-se, naturalmente. O Banco da Inglaterra, por exemplo, entregue aos especuladores, com seus bônus, o capital que lhes falta, impede que comprem todas as mercadorias desvalorizadas por seus antigos valores nominais.

No mais, aqui tudo aparece invertido, pois num mundo feito de papel não se revelam nunca o preço real e seus fatores, mas sim somente barras, dinheiro metálico, bônus bancários, letras de câmbio, títulos e valores. E esta inversão se manifesta em todos os lugares onde se condensa o negócio de dinheiro do país, como ocorre em Londres; todo o processo aparece como inexplicável, menos nos locais mesmo da produção.

Fragmento de O Capital, Volume 3, Capítulo 30, Capital-dinheiro e capital efetivo, Karl Marx (1818-1883).

Imagem: fac-símile da capa da última The Economist, a bíblia semanal do liberalismo mundial. World on the edge pode ser entendido como o mundo à beira do abismo, o mundo no limite (da responsabilidade), algo assim.

12 comentários:

Unknown disse...

Feel good......

Anônimo disse...

Feil, isso aí acima é spam do brabo.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Marx foi um grande crítico mas um péssimo conselheiro. Ontem o Paulo Nogueira Batista Jr. -- Nosso homem no FMI -- disse que grande parte dos bancos americanos vão ser estatizados. Nunca vi tamanha asneira. O PIB americano é de 14 trilhões de dólares. 2/3 disso é consumo. O pacote de auxílio ao mercado financeiro é nadica perto disso, pode chegar a 800 bilhões de dólares. A economia americana é muito grande e tem uma força imensa e o Paulo Nogueira Batista sabe bem disso, mas ele é bobão, gosta de se fazer, gosta de vender seu peixe para seu cativo público consumidor. Outra coisa, tem muita gente que foi contra o PROER de FHC, inclusive o Paulo Nogueira, que tem muita semelhança ao que hoje ocorre no pacote de Bush. Guardadas as proporções podemos dizer que o pacote de Bush é um imenso PROER.

Anônimo disse...

"grande parte VAI ser estatizadA", Maia, anda lendo muita veja...

Quanto às semelhanças entre Bush e PROER, são óbvias, mas não são coincidência, vêm do mesmo livro de receitas.

Anônimo disse...

Tanto o Proer quanto o pacote do Bush são a desnudez de governos safados tapando o sol com a peneira, ou melhor escondendo a roubalheira engravatada com grana da peãozada.

Claudio Dode

Anônimo disse...

De nada adiantou a lavagem cerebral neoliberal dos últimos 30 anos, com seus termos pomposos (swap, derivativos, estado mínimo, parcerias com a iniciativa privada, taxas DI, mercado futuro, PQP e não se que mais)O CAPITALISMO CONTINUA AQUELE, onde os espertalhões canalhas (tipo daniel dantas) lucram na alta e na baixa, sempre as custas
de toda a sociedade.
E tem gente que ainda vem aqui no blog com este discurso neoliberal falido, propor que os governantes devem optar por parcerias com a iniciativa privada. Alguns dias atrás li no blog do Azenha um artigo que dizia que a partir de reagan e tatcher os governantes abdicaram de governar, logicamnte governar para toda sociedade, e passaram a delegar a função para qual foram eleitos para atores privados. Foi o advento da terceirização, parcerias com a iniciativa privada e tudo mais que já conhecemos e sofremos na pele. As conseqüências de toda esta insanidade estão aí, e tem gente que continua defendendo o indefensável.

Anônimo disse...

Pois é, Marx vive. Suas idéias, seu método rigoroso e, principalmente, seu exemplo de que o estudo sério é preciso.

A propósito, muito boa a entrevista com Eric Hobsbawn na Carta Maior.

armando

Anônimo disse...

A máxima de Marx segundo a qual "o Estado é o comitê de defesa dos interesses da burguesia" nunca foi tão atual.
Tem um frescor que parece que foi redigido hoje, no raiar do dia.

Carlos Eduardo da Maia disse...

NOssa, inventaram essa agora, parceria entre estado e iniciativa privada é discurso neoliberal!!!!!
Uma boa leitura parece necessária.

Anônimo disse...

A parceria que eu tenho ouvido ultimamente é aquela entre o Detran e alguns agentes privados. Também tem aquela entre o Padilha e a merenda escolar. Tudo isso entre gente bem branquinha.

Anônimo disse...

A parceria entre o estado e iniciativa privada é neoliberal, e a "entregaria" do estado para a iniciativa privada é "privataria".

Claudio Dode

Anônimo disse...

Maia, você me autoriza a passar teu comentário para o Paulo Nogueira? Poderá ser-lhe útil. Olha, querer justificar o Proer a partir de alguma semelhança com o ocorrido nos EUA é, no mínimo, desconhecimento ou maldade. Dois banquinhos ordinários (Marka e Fonte Cindam) se deram mal e o governo alegou risco sistêmico. Ora, haveria risco sistêmico se o problema fosse com Bradesco, Itaú e Unibanco.

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