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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 3 de março de 2008



Papeleira usa central sindical pelega para legitimar-se

A central sindical pelega, Força Sindical, criou recentemente uma ONG para tratar dos temas do meio ambiente, chama-se Força Verde. Pois a ONG Força Verde está preocupada com a degradação ambiental no Rio Grande do Sul. Para tanto, estará promovendo um seminário no dia 7 de março, sexta-feira próxima, na Assembléia Legislativa/RS.

O seminário da Força tem o objetivo de “inserir o Rio Grande do Sul nas ações e programas da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, além de discutir alternativas para minimizar os efeitos da seca no Estado”, segundo informa seu portal.

Muito bacana, não?

Mas examinando bem, verifica-se a gritante ausência de instituições idôneas e reconhecidas na militância autêntica em favor de um meio ambiente saudável e equilibrado. O cartaz (acima), entretanto, traz a logomarca e a chancela de uma conhecida papeleira, a finlandesa Stora Enso, responsável por brindar a Metade Sul do RS com o deserto verde da monocultura extensiva do eucalipto.

Já se vê, então, que o tal seminário é um pega-ratão, certamente organizado – direta ou indiretamente - pelo setor de marketing e comunicação social da papeleira finlandesa, valendo-se da simbologia mítica de uma central sindical operária (mesmo que esta seja bigorrilha), com a finalidade de criar fatos e sugerir imaginários que legitimem socialmente a atividade deletéria que praticam no Estado. Um completo artifício que visa angariar selo de autenticidade a uma indústria que contribui para degradar o bioma Pampa.

A que ponto chegamos: uma central operária promovendo uma falsa discussão sobre a desertificação do Pampa, patrocinada por uma autêntica desertificadora.

Leia mais no ótimo blog Celeuma.

3 comentários:

Anônimo disse...

Está marcada para acontecer entre os dias 5 e 7 de novembro, em Sant'Ana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai), a segunda edição da Conferência Internacional do Bioma Pampa. A realização é da Força Sindical-RS. A organização está a cargo da da Força Verde, entidade ligada à Força Sindical-RS. O evento será apoiado pela Secretaria Estadual do meio Ambiente, e estão sendo buscadas parcerias para o evento. Estranhamente, nenhuma entidade ligada à defesa ambiental, nem sindicatos de trabalhadores da área foram contatados.

Talvez por lembranças de 2007, quando, nas "audiências públicas" da SEMA para discutir o zoneamento ambiental no estado, voltado para a silvicultura, o movimento e entidades ambientalistas foram ofendidos, agredidos, tiveram seus carros depredados. E ouviram acusações disparatadas, proferidas por uma massa que nem bem sabia o que estava fazendo, mas sob a batuta da Força Sindical (sim, esta mesma que agora organiza o evento) recebiam, ao descer dos ônibus, um vale-quentinha. Pensavam, e diziam, que estavam ali porque plantar eucaliptos "era emprego e ia dar dinheiro".



O bioma Pampa, no Rio Grande do Sul ocupa 63% do território do estado. Composto basicamente por gramíneas e árvores de pequeno porte, com riquíssima diversidade de fauna e flora, nos últimos de 300 anos, foi utilizado na criação extensiva de gado. Mesmo com esta atividade econômica desenvolvida, as características do pastoreio permitiram a continuidade das espécies, incluindo o crescimento de espécies arbóreas de menor porte nas matas ciliares. Pelas condições do bioma, a pouca disponibilidade de água e condições de solo e relevo, árvores de grande porte nunca foram ali desenvolvidas.

O desequilíbrio ambiental que acompanha a silvicultura ou o plantio de árvores exóticas, proposta como alternativa econômica "mais viável" no Pampa traria como conseqüências imediatas o desaparecimento de algumas espécies, alterações graves no ecossistema, além de não propiciar o crescimento econômico propagado. Sabe-se que uma área de 35 ha utilizada para agricultura familiar permite o sustento de uma família de quatro pessoas, e gera alimentos apara o consumo de mais de 50 produzindo durante todo o ano. A agricultura familiar faz ainda o rodízio de culturas, proporcionando um consumo equilibrado dos nutrientes, necessitando, portanto, menor ou nenhuma adição de insumos.
A mesma área ocupada pela silvicultura empregará uma pessoa, durante o plantio, necessitará do uso de agrotóxicos para controle de pragas (formigas e cupins, os únicos seres capazes de sobreviver ao contato com a resina altamente tóxica) e, depois, levará cerca de sete anos até a época de corte. Durante este período, nem mesmo capinas eventuais são necessárias. Como o eucalipto proposto pelas papeleiras para plantio é geneticamente modificado, atinge mais rapidamente as medidas para corte que as espécies comuns, necessitando, porém, maior quantidade de água e recursos minerais. Além disto, para onde irá este gaúcho, expulso do pampa pelo eucalipto? Certamente para as periferias das grandes cidades, engrossando as estatísticas de miserabilidade e êxodo rural.
A transformação do eucalipto em pasta de celulose não ocorre próximo aos locais de plantio, ou seja, a mão-de-obra excedente não será aproveitada em atividades fabris. Depois de transformada, a pasta limpa é exportada para o exterior, onde agregará valor ao produto, para ser, quem sabe, exportada para o Brasil sob a forma de papéis finos.

Quem lembra das posições historicamente defendidas pela Força Sindical deve estranhar, e muito, esta repentina preocupação com o ambiente. Mas, ao buscarmos mais elementos, chegaremos à conclusão que, com boa defensora dos direitos patronais, esta entidade deve estar sendo muito útil às papeleiras e ao latifúndio, uma vez que são estes dois setores os únicos a lucrar com o plantio de eucaliptos e o fim da diversidade do bioma pampa. Cabe ressaltar também aqui o vergonhoso papel de uma secretaria de estado, criada para defender o ambiente natural, e os interesses da população, e que se entrega aos caprichos gananciosos de multinacionais.
Sem contar que o horizonte do gaúcho é o pampa, com suas coxilhas, planícies e pequenos capões. Esta é a história e a cultura do homem da terra.
Alternativas ao plantio de eucaliptos existem sim. O kg do boi verde atinge ótimos preços no mercado; a agricultura familiar, além de fixar o homem no campo, produz alimentos para as cidades. O ecoturismo, o artesanato, a pesca, a indústria da alimentação até hoje garantiram a sobrevivência dos habitantes da região.
Por fim, sabemos que nem o latifúndio, nem o grande capital internacional estão preocupados em garantir nem igualdade, nem desenvolvimento sustentável. Muito menos nos países utilizados para culturas e indústrias poluentes e degradadoras. Cabe ao movimento ambiental organizado agora, responder com muita organização e luta a mais este absurdo patrocinado pelo "velho jeito de governar".
Regina Abrahão
diretora do SEMAPI RS

Cristóvão Feil disse...

Obrigado pela contribuição, Regina!

Abç.

Anônimo disse...

Cara Regina, pena que você desconheça todos os males causados pelo "boi verde" ao nosso amado Pampa. Se soubesse 1/5 acrdito que não estaria defendendo a expansão dessa cultura tão danosa ambientalmente.
José Maria

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