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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007


[Você escreve o que te pedem. Obrigado, mídia corporativa. Sem você não poderíamos controlar o povo]

Jornalismo está sendo quase uma palavra de baixo calão

Deu no (ótimo) blog do Azenha.

O que o leitor Eduardo Guimarães pretende fazer, amanhã, 15 de setembro, às 10 da manhã, diante do prédio da Folha de S. Paulo, na Barão de Limeira, em São Paulo, pode parecer desmiolado. Talvez seja, levando em conta que no Brasil os problemas são sempre "dos outros".

Porém, como demonstra o cartaz acima, a campanha contra a manipulação da mídia corporativa é um fenômeno mundial. Aqui em Washington, neste dia 15, acontece uma grande manifestação contra a ocupação americana do Iraque. Muitos dos cartazes, com certeza, vão denunciar a Fox, emissora de Rupert Murdoch que foi co-autora da guerra. Aos poucos, o patético comportamento da mídia americana, que reproduziu as mentiras oficiais antes da guerra, tem sido esmiuçado.

Estamos na idade da informação e qualquer um pode, hoje em dia, aqui nos Estados Unidos, ter acesso aos arquivos que registram as falsidades, as omissões e as falcatruas "jornalísticas". Por aqui já existem mais de 15 entidades - liberais, conservadoras e libertárias - dedicadas a monitorar e denunciar as distorções do noticiário.

É como se o Observatório da Imprensa decidisse, de repente, deixar de puxar o saco dos patrões.
É como se o Comunique-se passasse a representar o interesse do público e não meramente o dos jornalistas.

A globalização e a reforma neoliberal das instituições resultaram no "desmanche" do Estado. No Brasil, esse processo começou no governo Collor e foi até o segundo mandato de FHC. Funcionário público passou a ser sinônimo de marajá, de vagabundo.

O Estado foi dilapidado. As agências reguladoras, criadas depois da privatização, nunca tiveram dentes.A concentração da mídia na mão de poucos e o interesse de algumas famílias combinado com o de grandes corporações resultaram na extinção do Jornalismo como serviço público.

Jornalismo = Entretenimento. Esse é um fenômeno que aconteceu nos Estados Unidos, na Itália, na França... A mídia passou a defender, acima de tudo, seus próprios interesses. A mídia que manipula, distorce, omite e mente. Que "seleciona" os assuntos que interessam a seus objetivos políticos e econômicos mais imediatos. A acreditar nos comentaristas econômicos da TV Globo, por exemplo, o caos no Brasil é só uma questão de tempo. Não importa que o crescimento do PIB tenha batido recorde.

Importa é "produzir" crises nos portos, nos aeroportos, no Congresso, no Judiciário, na democracia. O poder de barganha da mídia corporativa cresce de maneira inversamente proporcional ao poder das instituições.

A mídia "forte" arranca concessões de governos federal, estaduais e municipais.

A atuação é mesmo parecida com a da máfia, que intimida juízes, deputados, jornalistas, delegados, quem quer que não reze pela mesma cartilha.

Essa mídia está engajada em "cortar impostos, enfraquecer conquistas trabalhistas, criminalizar quem pensa diferente, eliminar o contraditório", enfim, precisa forjar um consenso que atenda, acima de tudo, àqueles que estão na ponta "saudável" da concentração de poder e renda. Porém, há também um movimento mundial contra essa mídia.

Ele não é tão articulado quanto o das grandes corporações, que colocam a multiplicação de seus próprios lucros acima das pessoas, das sociedades e das nações.

Visto aí de São Paulo, talvez o Eduardo Guimarães pareça um grão de areia.

Mas aqui de longe dá para perceber que uma ventania empurra uma duna para cima dos que estão transformando o Jornalismo em uma palavra de baixo calão.

Acompanhe as novidades da organização do protesto aqui: http://edu.guim.blog.uol.com.br/

....

Este blog DG, modestamente, já vem falando há meses, que de nada adianta fazer protestos somente na frente do Palácio Piratini. Importa fazê-lo também na esquina da avenida Ipiranga com a Érico Veríssimo, na sede da RBS (que apoiou e se fortaleceu com o golpe de 1964). O ato simbólico idealizado e organizado pelo blogueiro Edu Guimarães converge para o que vínhamos constatando aqui no RS.

Amanhã, esperamos receber fotos da manifestação, remetidas por nossos leitores de São Paulo. Alô, Cidão! Alô, Armando! Já estão com o pé no estribo
?

Boa luta!


5 comentários:

Anônimo disse...

Boa Eduardo Guimarães!
Vai ser barra termos um jornalismo "correto, fiel, plural e honesto, mas fazer o quê? Vamos continuar a boa luta!

MSM

Guilherme Mallet disse...

Protesto em frente ao quartel da RBS seria ótimo. Quando houver, estarei lá.

Anônimo disse...

Trechos da entrevista com o prof. Wanderley Gulherme, no Valor de hoje:

Como é que o senhor vê o papel da mídia no governo Lula ?

Tem dois aspectos. O primeiro aspecto é fato de o governo Lula ser um governo inédito no Brasil. É realmente um governo cuja composição de classe, cuja composição social é diferente de todos os governos até agora. Isso não foi e dificilmente será bem digerido. Agora, em acréscimo a isso é que, ao contrário do que se teria esperado ou gostariam que acontecesse, este é um governo que até agora tem se mantido fiel à sua orientação original, independentemente das discussões internas do grupo do PT. A verdade é que as políticas do governo têm prioridades óbvias, que são as classes subalternas. Isso é algo que irrita e, conseqüentemente, faz com que aumente a disposição da imprensa para acentuar tudo aquilo que venha a dificultar e comprometer o desempenho do governo.


Em que outros episódios da Historia do Brasil a imprensa usou a arma da instabilidade ?

No Brasil, tivemos em 1954, com a crise que resultou no suicídio de Vargas, em que tudo foi utilizado. Documentos falsos que foram apresentados como verdadeiros, testemunhos de estrangeiros que seriam associados a confusões internas...

Houve em 1955, na tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek. E em 1961, na crise de Jânio, na sucessão do Jânio. E em 1964.

Depois, durante o tempo do período autoritário, evidentemente, houve uma atuação explícita da imprensa. Não se falava a favor, mas também não se desafiava. Com o retorno da democracia, a imprensa interveio outra vez, na sucessão de Sarney, com todas as declarações e reportagens absolutamente falsas em relação ao candidato das forças populares, que já era Lula. Isso se repetiu nas duas eleições de Fernando Henrique, mas mais moderadamente. Foi bastante incisiva durante a primeira campanha. Na segunda, a imprensa se comportou razoavelmente. Houve certas referências, mas nada escabroso.

Mas, os dois últimos anos foram inacreditáveis em matéria de criação de fatos sobre nada: foi inacreditável. Para 50 anos de vida política, é uma participação à altura dos partidos políticos e dos militares. Quer dizer, fazem parte da política brasileira os partidos, as Forças Armadas e a imprensa.

Anônimo disse...

A gauchada véia de guerra não é mais a mesma. Infelizmente. Tô mortinha de inveja desse pessoal de São Paulo. Como eu gostaria de estar lá, junto deles, participando desse manifesto, em frente à Folha. Mas, como boa proletária e amanhã trabalho o dia todinho até à 19 hrs. Vou acompanhar as noticias aqui pelo blog.
Boa cobertura aí, seo Armando. Nos informe tudo, não nos sonegue nada. Até mais.

Anônimo disse...

Eu topo!
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