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sexta-feira, 14 de setembro de 2007


Lula desobedece a Maquiavel

Há algo que as elites não engolem: alguém fora do clube adentrar no salão do poder, ainda que com passinhos silenciosos para não atemorizá-los, quase pedindo perdão. Esta foi a escolha do PT e de Lula. Aceitaram o jogo puramente institucional, sem ao menos colocar algum condicionante com o propósito de alargar o espaço democrático.

Teria sido necessário, desde a primeira posse presidencial, ter feito um chamamento direto às massas como meio de pressão para que, no mínimo, se votasse no Congresso, sem as chantagens habituais (sob o nome elegante de presidencialismo de coalizão) um projeto de reformas cuja pauta básica tivesse como objetivo a distribuição real da riqueza, com efetiva igualdade de oportunidades, ainda que nos marcos do capitalismo.

Já teria sido um avanço.Todavia, os passos tem sido tímidos, quase mortificados. E em que pese as concessões e os mega-lucros dos setores empresariais hegemônicos, a presença do PT e de Lula seguem imperturbáveis.

O presidente mostrou todo o seu espírito conciliador quando nomeia o proto-tucano Nelson Jobim para o governo, pagando um pedágio perigoso e indevido ao Cansei. A nomeação de Jobim, um agente infiltrado de José Serra, é uma violência simbólica indireta aos milhões de eleitores que repudiaram os tucanos optando pelo ex-metalúrgico do ABC.

Quase tudo já foi tentado para desestabilizar Lula, em parte os pretextos foram dados pelo próprio oficialismo petista - a penúltima tentativa foi a criação malograda do Cansei e a última o Caso Renan, personagem que serviu e servirá a todos, desde que seus interesses pessoais (legais ou ilegais) e de classe sejam preservados. A tática desta vez será tentar bloquear por vias transversas - com ou sem posições de decúbito dorsal, isto saberemos se valem a pena ou não na próxima edição da Playboy - as atividades congressuais. A tática escolhida de bloqueio, combinada com o fogo moralista/espetacular da imprensa visará a guerra permanente em qualquer votação.

O efeito será o reforço perverso do chamado presidencialismo de coalizão e o enredamento do governo em uma armadilha, em parte escolhida no início do primeiro mandato. A única oportunidade seria a realização de uma reforma política com financiamento público, lista fechada e reforma das atribuições do Senado.

Isto exigiria a coragem do governo e do PT em mobilizar as massas. Uma boa leitura de Maquiavel seria necessária. A aliança preferencial do Príncipe é com o povo, a única maneira de legitimar-se efetivamente aos olhos do populus minor.

Entretanto, Lula caprichosamente desobedece a Maquiavel. Na consecução dos seus objetivos, invariavelmente conciliatórios, opta sempre por apelar para os seus próprios algozes de classe.


Artigo remetido pelo nosso leitor, professor e sociólogo José Bento Monteiro.



13 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom, professor!

Anônimo disse...

Por falar em aliança com o povo, aqui em Sampa, temos a aliança do prefeito Kassab e o vampiro Serra, contra a educação republicana que é a pública.

Acabei de passar na Praça da República, onde milhares de professores municipais e estaduais protestam contra as péssimas condições de trabalho no ensino público. Sucessivas administrações tucanalhas garrotearam a educação que, finalmente, está à beira da morte. Professores ameaçados por bandidos e traficantes, crianças doentes e sem condições, escolas caindo aos pedaços, diminuiçaõ de nutrientes na alimentação (determinação da Nestlé), baixos salários, etc, etc.

Carlos Eduardo da Maia disse...

O PT faz parte da elite. O PT sempre foi um partido de classe média como são classe média o Feil, o Armando, a Sueli e todo mundo aqui. Então essa história de que o caso REnan é conversa de brancos e da elite não tem nenhuma consistência. O que o Brasil tem de fazer é melhorar a qualidade do serviço público, sobretudo na educação, porque esse é o MELHOR INVESTIMENTO DO MUNDO, para inserir mais e mais pessoas no contexto classe média. Para inserir mais e mais pessoas nessa elite que nós todos aqui participamos.

Anônimo disse...

o Monteiro Lobato voltou do além túmulo? O artigo está muito bom, mas, a fonte é confiável?

Anônimo disse...

Caro anÔnimo.
A fonte é confiável.O esforço para compreender este país é razoável de minha parte.Meus pais deram-me o prenome deste grande brasileiro, hoje um pouco esquecido pelas crianças.Nasci em Botucatu, sou professor de variedades em escola pública na periferia deste Brasil e sociólogo nas horas nem tão vagas.Repetidas leituras infantis de História do Mundo para Crianças levaram-me a procurar entender as coisas humanas. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Quem deveria voltar para o túmulo é o Maia, junto com o discurso vazio e seus companheiros de tortura do regime militar.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Anônimo, lutei contra o regime militar. Sai às ruas pela eleição direta. Ajudei a derrubar o Collor. Não tenho nenhuma simpatia por qualquer tipo de ditadura, seja de direita ou de esquerda.

Anônimo disse...

Cesar Maia, Agripino Maia, Carlos Eduardo Maia...
...Depois do cansei o Des Maia

Anônimo disse...

Então por que tu tens um link's com uns caras que renegam a tortura e defendem a ditadura? O mínimo que deverias fazer é ficar longe deste espaço e te aliar com esses democratas de mentirinha.

ams disse...

Maquiavel também escreveu que, quando os grandes não conseguem conter o povo, fazem príncipe um entre eles para melhor controlá-los. Neste caso, certo pode estar o Prof. Paulo Arantes quando diz que foi a elite (o "mercado")que aderiu ao Lula. Ademais, quase tão importante quanto agradar o povo, para Maquiavel, é evitar a inimizade dos grandes...

Anônimo disse...

Olha... um petista! Que raro! E distorcendo o professor Arantes, não foi bem isso que ele disse.
Vejam como o PT está pobre de intelectuais, pega os intelectuais do circuito e ainda distorce o que eles disseram. Sem falar na visão particular (petista) de Maquiavel. Onde estão estes trechos onde o florentino fala de "evitar a inimizade dos grandes", Lula então está absolutamente certo?

Como diz o Feil, não te embriaga do cálice da ilusão!

ams disse...

Caro Gustavo, desculpe-me mas vc. não entendeu meu comentário, que está longe de ser petista e/ou pró-Lula. Leia O Príncipe e encontrará, por toda parte, o "conselho" lá.

Anônimo disse...

A ingenuidade do professor é comovente. Depois de seis anos, ele ainda consegue ver infiltrados no governo Lula ("um agente infiltrado de José Serra"). Deve ser outro que acredita que estamos vivendo em meio a um governo revolucionário, como o dono do blog. Com boca abertas como esses dois,periga a esquerda apoiar um terceiro mandato para o Lula. Agora no terceiro a coisa vai. Agora vai! Sinceramente...

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